Segunda, 12 de julho de 2010
Por Ivan de Carvalho
Hélio Bicudo, advogado conceituado, defensor, na profissão e como político, dos direitos humanos. Tem 88 anos e foi fundador do PT, partido pelo qual conquistou mandato de deputado federal e de vice-prefeito de São Paulo na gestão de Marta Suplicy. Foi, sem êxito, candidato a senador por São Paulo e, também sem êxito, a vice-governador desse estado na chapa encabeçada por Luiz Inácio Lula da Silva, no tempo que este perdia eleições. Afastou-se do PT desde o escândalo do Mensalão, em 2005.
Apesar da idade avançada, Hélio Bicudo está atualmente à frente da Fundação Interamericana de Direitos Humanos, tem página no Facebook e escreve de próprio punho as notas que publica no seu Twitter, onde tem 618 seguidores.
Esta, digamos, breve apresentação do jurista e político tem o objetivo de dar ao leitor régua e compasso para dimensionar da maneira mais exata possível as principais partes da entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada ontem.
Declaração considerada mais importante e destacada pelo jornal, que a usou para titular a matéria: “Lula quer Dilma Rousseff no poder para continuar mandando no país”. É muito importante a declaração, embora se possa questionar se Dilma, por alguns considerada “arrogante”, deixaria que, estando ela na presidência da República, alguém, mesmo sendo Lula, a governe. Mas não se deve minimizar a gratidão: se um jabuti estiver em cima de uma árvore, pode-se apostar que alguém o colocou lá. Não subiu sozinho. Assim, se Dilma estiver na presidência, pode-se apostar que Lula a colocou lá (ajudado pelo PT, que controla, e por alguns outros “companheiros de viagem” – partidos aliados e muitas organizações sociais de forte viés político, tão bem alimentadas pelo atual governo). Supõe-se que o jabuti seria grato.
Outro modo de Lula ficar mandando no país durante eventual presidência de Dilma passaria longe da gratidão. É que com a popularidade que tem e com o controle que exerce sobre o PT, partido de Dilma, Lula imporia a esta um alto grau de obediência ou a obrigaria a perigosa rebelião, com conseqüências de difícil previsão.
Bem, Hélio Bicudo, que está apoiando publicamente para presidente a candidata do PV, Marina Silva, afirma sobre Lula: “É autoritário. Mira mais o poder pessoal do que os objetivos do PT. Me afastei dele. O eixo desse afastamento foi a sindicância interna feita por mim no PT, que enquadrava Roberto Teixeira, compadre de Lula e ele não perdoa ninguém."
“Lula não perdoa ninguém”. Não estou dizendo isso. Nem sei mesmo, além de não gostar de julgar, para não ser julgado. Quem prolatou a sentença foi o jurista e político Hélio Bicudo. Se incluo aqui tal sentença é porque estamos tratando de um presidente da República e da pessoa mais popular do Brasil, não estamos tratando de um cidadão comum, sem o enorme poder que o presidente tem de perdoar ou não a tantos.
Hélio Bicudo adverte que o Congresso e o Judiciário estão desmoralizados e sustenta que a alternância de poder é indispensável ao regime democrático. Claro. (E mais importante ainda fica, no caso da Presidência da República, se o Congresso e o Judiciário estão desmoralizados, como analisa Bicudo). Pela alternância, após Franklin Roosevelt, que teve quatro mandatos presidenciais, os americanos proibiram mais de dois mandatos para um presidente. E ex-presidente não pode, nos EUA, candidatar-se a nada.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.
Apesar da idade avançada, Hélio Bicudo está atualmente à frente da Fundação Interamericana de Direitos Humanos, tem página no Facebook e escreve de próprio punho as notas que publica no seu Twitter, onde tem 618 seguidores.
Esta, digamos, breve apresentação do jurista e político tem o objetivo de dar ao leitor régua e compasso para dimensionar da maneira mais exata possível as principais partes da entrevista que concedeu ao jornal O Estado de S. Paulo, publicada ontem.
Declaração considerada mais importante e destacada pelo jornal, que a usou para titular a matéria: “Lula quer Dilma Rousseff no poder para continuar mandando no país”. É muito importante a declaração, embora se possa questionar se Dilma, por alguns considerada “arrogante”, deixaria que, estando ela na presidência da República, alguém, mesmo sendo Lula, a governe. Mas não se deve minimizar a gratidão: se um jabuti estiver em cima de uma árvore, pode-se apostar que alguém o colocou lá. Não subiu sozinho. Assim, se Dilma estiver na presidência, pode-se apostar que Lula a colocou lá (ajudado pelo PT, que controla, e por alguns outros “companheiros de viagem” – partidos aliados e muitas organizações sociais de forte viés político, tão bem alimentadas pelo atual governo). Supõe-se que o jabuti seria grato.
Outro modo de Lula ficar mandando no país durante eventual presidência de Dilma passaria longe da gratidão. É que com a popularidade que tem e com o controle que exerce sobre o PT, partido de Dilma, Lula imporia a esta um alto grau de obediência ou a obrigaria a perigosa rebelião, com conseqüências de difícil previsão.
Bem, Hélio Bicudo, que está apoiando publicamente para presidente a candidata do PV, Marina Silva, afirma sobre Lula: “É autoritário. Mira mais o poder pessoal do que os objetivos do PT. Me afastei dele. O eixo desse afastamento foi a sindicância interna feita por mim no PT, que enquadrava Roberto Teixeira, compadre de Lula e ele não perdoa ninguém."
“Lula não perdoa ninguém”. Não estou dizendo isso. Nem sei mesmo, além de não gostar de julgar, para não ser julgado. Quem prolatou a sentença foi o jurista e político Hélio Bicudo. Se incluo aqui tal sentença é porque estamos tratando de um presidente da República e da pessoa mais popular do Brasil, não estamos tratando de um cidadão comum, sem o enorme poder que o presidente tem de perdoar ou não a tantos.
Hélio Bicudo adverte que o Congresso e o Judiciário estão desmoralizados e sustenta que a alternância de poder é indispensável ao regime democrático. Claro. (E mais importante ainda fica, no caso da Presidência da República, se o Congresso e o Judiciário estão desmoralizados, como analisa Bicudo). Pela alternância, após Franklin Roosevelt, que teve quatro mandatos presidenciais, os americanos proibiram mais de dois mandatos para um presidente. E ex-presidente não pode, nos EUA, candidatar-se a nada.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.