Quarta, 21 de julho de 2010
Por Ivan de Carvalho

Além disso, as FARC praticam ritineiramente sequestros de civis (os reféns atuais contam-se por centenas), que são usados de duas maneiras: como escudos humanos e principalmente para obtenção de resgates que financiam a guerrilha, mediante extorsão. As FARC, de inspiração original marxista-leninista, são consideradas internacionalmente como uma organização terrorista.
Na ligação com o narcotráfico, as FARC encontram outra fonte de financiamento, mais importante que os sequestros: elas dão cobertura a plantadores de coca em regiões que ainda controlam na Colômbia e protegem traficantes, recebendo em troca dinheiro e armas contrabandeadas. Essa proteção tem alguma semelhança com as que a máfia dava a comerciantes, fenômeno que teve seu auge nos tempos do chefão Al Capone, na cidade de Chicago, nos Estados Unidos.
É notório que as FARC são o que se pode chamar de uma organização “barra pesada”. Se alguma ligação delas com o PT ou parte do PT existe, este é um assunto que interessa profundamente ao eleitorado brasileiro, titular do direito de exigir que um esclarecimento total e definitivo a respeito seja feito antes das eleições, de modo a que ele, eleitorado, possa orientar com segurança suas decisões.
Pelo que se tem divulgado a partir da incômoda acusação de Índio da Costa, a conexão do PT com as FARC ficou evidente no Foro de São Paulo, um conglomerado de partidos e organizações de esquerda da América Latina, criado em 1990 por iniciativa do PT, após um encontro de Luiz Inácio da Silva, o Lula (ainda longe de chegar à presidência do país e apenas presidente do PT) com o ditador cubano Fidel Castro. Este queria um ente capaz de promover encontros de partidos e organizações de esquerda da região. As FARC participaram da fundação do foro ao lado do PT. Portanto, a ligação existe, formalmente, em documentos tanto do PT quanto do Foro.
Em 2008, a revista Veja publicou dossiê, com vários documentos, principalmente troca de mensagens escritas, que supostamente provariam a existência de contatos entre integrantes das FARC e do governo Lula. O PT e o governo desmentiram, mas o assunto não foi definitivamente encerrado.
Depois que chegou ao poder (conta o jornalista Clóvis Rossi, da Folha de São Paulo), o PT cortou seus laços com o Foro. Ou, pelo menos, nota ele, “a parte mais importante do partido”. E cito mais Clóvis Rossi: “Devem ter sobrado alguns nostálgicos do tempo em que o PT era de esquerda que ainda acham que as FARC são revolucionárias e não um grupo narco-terrorista”.
Em 2005, a participação das FARC na reunião que marcou o 15º aniversário do Foro foi vetada. Dois anos depois, veto semelhante no encontro realizado em San Salvador. É que vários partidos que fundaram o Foro chegaram ao poder e sofreram mudanças. Mesmo assim, não tiveram coragem ou vontade de romper e expulsar a organização narco-guerrilheira-terrorista do Foro.
Covardia para assumir abertamente as novas posições ou gato escondido com o rabo de fora?
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.