Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Bahia e Ministério

Quarta, 15 de dezembro de 2010 
Por Ivan de Carvalho
O governador Jaques Wagner não diria uma coisa dessas de maneira assim ostensiva, mas a julgar pelo que se sabia até ontem sobre as escolhas certas ou prováveis da presidente eleita para compor seu Ministério, ele não pode estar muito feliz.
   A sucessora de Lula o consultou sobre as três pessoas ligadas à Bahia que podem integrar a equipe ministerial, como o próprio governador disse ontem. Claro que ele disse que achava “ótimo” todas três: sua secretária estadual Luiza Barrios para o Ministério da Igualdade Racial, Lúcia Falcón, para o Ministério do Desenvolvimento Agrário e o deputado Mário Negromonte para o Ministério das Cidades.
   Mas o que o governador Wagner não explicitou na entrevista foi que, se a presidente eleita pediu sua opinião sobre aquelas três pessoas, até aqui – ou melhor, até ontem, no momento da entrevista – não lhe pediu para indicar ou sugerir um nome para a equipe ministerial.
   Vale, assim, analisar, ainda que ligeiramente, o quadro “baiano” no Ministério, até aqui. Luiza Barrios foi idéia de Dilma Rousseff, que a conheceu como colega de secretariado no governo de Olívio Dutra, no Rio Grande do Sul. Mulher, negra, há tempo residindo na Bahia (o Estado com maior percentual de população negra do Brasil), Dilma lembrou dela para a Igualdade Racial. E está no secretariado do governo Wagner, de modo que não deixa de ser uma gentileza com este.
   Mas, politicamente, a que serve a Wagner ter nesse ministério uma pessoa ligada à Bahia e pinçada do seu secretariado? Qual é o orçamento desse ministério, o que a Bahia poderá ganhar com ele e qual o peso político que tem? Estou certo de que o leitor não precisa que sejam dadas aqui as respostas.
   Quanto a Lúcia Falcón, também nasceu na Bahia. Seu irmão Pery Falcón é uma das lideranças da seção estadual do PT, que já presidiu, bem como foi presidente estadual da Central Única dos Trabalhadores, a CUT. Mas Lúcia, que militou com Wagner no Sindiquímica (como ele próprio lembrou ontem), não faz política na Bahia e nem é do PT. Está vinculada ao PC do B e trabalha com o governador reeleito de Sergipe, Marcelo Deda, deste mesmo partido.
   Finalmente, o deputado Mário Negromonte, o nome para o importante Ministério de Cidades, foi uma indicação do PP. Como ao governador Wagner foi perguntado o que acha a respeito e ele achou ótimo, pode-se dizer que, embora indicado pelo PP logo depois das eleições, Negromonte vai para o Ministério com o aval de Wagner – da mesma maneira que aconteceu com Geddel Vieira Lima, quando foi para o Ministério da Integração Nacional por indicação “do PMDB da Câmara”, mas com o aval e até uma visita protocolar do então futuro ministro e do então governador eleito ao presidente Lula.
   Bem, o governador diz que não vai “ficar” nisso de indicar ministros – embora ressalvando que é claro que gostaria de indicar ministros – pois, afinal, tem canal direto com a presidente eleita Dilma Rousseff, de quem é amigo. E assim pode conversar com ela diretamente sobre obras e recursos para a Bahia. Interessante o governador assinalar que, se o PT do Nordeste se julgar mal aquinhoado no Ministério, então deve queixar-se, não a Dilma, mas ao PT nacional.
   Quanto a Dilma, a julgar pelo que aconteceu até ontem, talvez esteja raciocinando que o PT da Bahia já tem a presidência da Petrobrás, com Sérgio Gabrielli, e que a Bahia tem também o Ministério de Cidades, por indicação do PP, que integra a base política do governo de Wagner. Assim, tanto a Bahia quanto seu governador estariam atendidos.
   Como diria Millor Fernandes, livre pensar é só pensar.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano