Quinta, 17 de março
Por Ivan de Carvalho

O aspecto relacionado com a energia nuclear, decorrente do incidente nas usinas de Fukushima, que a cada dia se apresenta mais grave, é um dos que terão influência em nível internacional.
O efeito principal será, até onde já se pode perceber, o de aumento da resistência à utilização da energia nuclear para geração de energia elétrica. Isto já está ocorrendo na sociedade, principalmente em organizações ligadas à preservação do meio ambiente, mas mesmo os governos ou vários deles não estão conseguindo permanecer imunes à desconfiança das populações de seus países quanto a essa forma de produzir energia elétrica.
Na Europa, principalmente, e nos Estados Unidos, os governos estão procurando, com maior ou menor empenho, uma sintonia com o sentimento de apreensão dos povos que governam. Isso é até, em parte, uma condição de preservação política desses governos. Eles não podem parecer indiferentes aos riscos óbvios do funcionamento das centrais nucleares existentes e dos programas de construção de novas.
Então, anunciam uma revisão geral das condições de segurança das usinas em operação nos países que constituem a União Européia e é claro que isso levará a semelhante revisão em todos os países democráticos europeus nos quais existam usinas nucleares. E é claro que os governos dos Estados Unidos e Canadá não poderão ficar fora dessa revisão.
É evidente também que o incidente nuclear de Fukushima retardará os planos de construção de novas usinas, pelo menos durante o tempo em que serão pesquisados quais os meios possíveis para a redução de riscos a partir da fase de construção.
Certamente muitos interessados virão com o argumento de que a energia nuclear não é dispensável, sendo, assim, obrigatória a construção de novas usinas, e, quanto aos riscos, a argumentação oficial não será apenas a de que mais cuidados de segurança serão adotados. Já está sendo alegado que a Europa, os Estados Unidos e, digamos, o Brasil, por exemplo (assim como a Rússia, a China, a Índia) não estão no nível de risco japonês de terremotos e maremotos.
Ainda que verdadeira a alegação, nem por isto é de confiança. Só para lembrar. Não houve terremoto nenhum em Chernobyl, na então União Soviética (Ucrânia), mas houve aí o pior acidente nuclear até hoje registrado. Nos Estados Unidos já houve um acidente nuclear muito grave (quatro pontos numa escala que vai até sete) e eles têm lá a Califórnia, candidata a virar Japão a qualquer momento.
Índia? Como a placa tectônica do Pacífico pressiona a placa asiática, razão dos terremotos japoneses, a placa tectônica indiana pressiona todo o tempo a placa asiática. Foi basicamente isto que em outras eras fez surgir a cordilheira do Himalaia, a maior e das mais recentes do planeta, da mesma forma que é das mais recentes a cordilheira dos Andes, na América do Sul.
Não se tem notícia de ondas de dez metros de altura, como a do tsunami recente no Japão, no litoral brasileiro (desde 1.500 D.C.). Mas as duas usinas de Angra dos Reis em funcionamento foram construídas para suportar impacto de onda de até seis metros. Só. A “divisa” entre as placas do Atlântico e da América do Sul não é próxima da costa brasileira, mas...
Mas quem já foi perguntar a elas o que podem estar aprontando? Ou quem garante que o maremoto não virá de cima, na forma de um corpo celeste de tamanho indesejado caindo no Atlântico?
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.