Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 4 de março de 2011

Do carnaval e das bebidas


Sexta, 4 de março de 2011
 Por Ivan de Carvalho
 Então governador, Antonio Carlos Magalhães editou decreto instituindo cinco dias de carnaval oficial na Bahia, estabelecendo o maior dos feriadões do país, de sexta a terça-feira. Hoje é o primeiro dia. E como durante o carnaval muito pouca gente se interessa por política, o melhor é evitar o assunto.

    Interessa-se por este assunto apenas um razoável número de políticos. Alguns deles, poucos, supondo que os cargos que exercem, do tipo governador, prefeito, entre outros menos vistosos, praticamente lhes impõe comparecer a camarotes oficiais e até a outros, de famosos. Aí se divertem, alguns, outros não, bebem alguns, outros (raros) não, e cumprem o inalienável dever de acenar para a multidão alucinada pelo som dos trios elétricos.

    A outra categoria dos políticos que comparecem aos camarotes não vai lá para ser vista pelos foliões. Poucos os reconhecem, para sorte e sossego deles, e a maioria nem os conhece, mas para gerar comentários, pequenas notícias na mídia e afrescalhadas especulações do tipo “fulano ficou um tempão no camarote do governador”, ou “cicrano estava de braços e abraços com o prefeito” ou “ele está bombando, o ministro beltrano ficou mais de três horas no camarote dele”. Bem, deixa prá lá. Isso já está virando comentário sobre política e não é a intenção.

    A intenção é falar sobre bebidas, assunto de interesse evidente no primeiro dia do nosso carnaval oficial por decreto. Não tem muito a ver com carnaval o Bolsa Família, mas a cachaça tem, segundo revelação do líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccareza, do PT paulista. A propósito do reajuste do valor do Bolsa Família, disse na terça-feira que o reajuste é positivo mesmo se o dinheiro for usado para comprar cachaça, pois isto será uma forma de “ajudar a economia”.

    Que borracho! Não sei se mais o ministro ou o beneficiário do Bolsa Família que gastar o benefício no malefício da cachaça. Dá ressaca, enjôo, náuseas, bafo de onça, dor de cabeça, úlcera gástrica, cirrose, pancreatite, problemas cardíacos, mata neurônios, multiplica por 30 o risco de câncer na boca e garganta se o borracho for também fumante, além de outros males que, se tentasse citar todos, não caberiam neste espaço. E com isso acarreta altos custos à economia, com ausências ao trabalho e desembolsos do SUS e da Previdência Social.

    Assim, o dinheiro do Bolsa Família, se gasto em cachaça, não “ajuda a economia”. Pode ajudar os plantadores de cana-de-açucar, os donos de alambiques, os comerciantes de bebidas alcoólicas, mas prejudicará a economia em seu conjunto e os que tentarem ajudá-la da maneira ensinada por Vaccareza. Eu até sugiro à presidente Dilma Rousseff que troque imediatamente de líder do governo na Câmara. Dizer besteira não é a única maneira de bajular.

    Quanto ao pessoal que prefere cerveja ou os inocentes refrigerantes, uma pesquisa feita por especialistas americanos e britânicos com 2.500 pessoas e publicada na revista Hypertension afirma que beber mais de 335 ml por dia de bebidas com gás (cerveja e refrigerantes são gaseificados) ou sucos de fruta contendo açúcar é o suficiente para desequilibrar a pressão arterial. As razões ainda são incertas, mas os pesquisadores acreditam que o excesso de açúcar no sangue prejudica o tônus dos vasos sanguíneos e desequilibra os níveis de sal no organismo. A hipertensão é o principal dos fatores de risco para acidentes cardio-vasculares e para acidentes vasculares cerebrais.

    Portanto, e ainda que só por cinco dias (ou seis, ou sete), cuidado com o copo.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.