Quinta, 5 de janeiro de 2012
Por
Ivan de Carvalho

Está para começar – acreditam e para isto se movimentam os meios políticos – a reforma ministerial voluntária que a presidente Dilma Rousseff decidiu fazer neste início de ano. A outra, a reforma ministerial involuntária, ela já fez ao longo do ano passado e é desejável que não precise, não surjam motivos que a obriguem a lançar uma segunda etapa dessa zorra em 2012.
Quanto à reforma voluntária, que se propôs a fazer e que,
inclusive, além de ajustes na administração, atende a necessidades governistas
do ano eleitoral, o que há de absolutamente certo é que o ministro da Educação,
Fernando Haddad, deixará o cargo para disputar pelo PT a prefeitura de São
Paulo. Por enquanto, não tem votos, salvo os de cabresto do PT, de filiados e
simpatizantes de carteirinha, que os petistas otimistas calculam chegarem, em
fim (não agora, claro) de campanha, a cerca de 30 por cento.
A esperança do PT é que entrando firmes na campanha,
Lula, Dilma e Marta Suplicy e o marketing, além de Aloizio Mercadante, Haddad
consiga vencer uma oposição que está se desentendendo. O senador Eduardo
Suplicy quer disputar e anda lutando pela realização de uma prévia, mas todo o
comando do partido está escorraçando a idéia de prévias, em outras épocas
petistas tão respeitada. O PSDB tem quatro aspirantes declarados à prefeitura e
um candidato-fantasma, José Serra, ao qual todos os tucanos e até os
pessedistas (do PSD de Kassab) rendem antecipadamente todas as suas homenagens.
Mas Serra é uma assombração na sucessão municipal paulistana, não diz se quer
ou não quer, ninguém sabe, parece que nem ele mesmo.
E
é uma decisão realmente muito difícil para ele, pelas implicações que tem,
tanto em caso de êxito eleitoral quanto de fracasso. E a omissão, a
não-candidatura, também é problemática, líder precisa ter coragem e não deixar
o seu partido sem rumo. Em verdade, o mais simples e talvez melhor
eleitoralmente seria o PSDB vestir-se de um pouco de humildade e apoiar para
prefeito o atual vice-governador Afif Domingos, co-fundador do PSD. Serra ficaria
feliz, mas o governador tucano Geraldo Alckmin não está disposto a apoiar Afif.
Estão, portanto, tucanos e pessedistas numa situação complicada e o PMDB está
sendo pressionado pelo PT (inclusive por Lula) para desistir de lançar o
deputado Chalita a prefeito. Até o momento, o PMDB está resistindo, mas quem
bota a mão no fogo? E há ainda o pepista Celso Russomano, que já está
repudiando Paulo Maluf, de seu partido, enquanto o PT faz discretos acenos à
antes maldita figura.
Volto
à reforma do ministério. Sai Haddad da Educação e o ex-senador e atual ministro
da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, também paulista, será deslocado
para o Ministério da Educação. A primeira questão espinhosa (desculpem o termo)
é justamente a escolha do ministro da Ciência e Tecnologia.
Ciro
Gomes, do PSB, que antes de começar o governo, avisou que não se interessava
por esse ministério, mas só pelo da Saúde, ficou sem nenhum e agora consta que
aceitaria o da Ciência e Tecnologia mesmo. Mas o governador de Pernambuco e
presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, que tem suas precauções em relação
a Ciro (ambos aspiram à presidência da República) já toma providências: se a
entrada de Ciro na equipe significar a saída do ministro da Integração
Nacional, o socialista Fernando Bezerra, Campos veta. Bezerra é de Pernambuco,
indicação de Campos.
O
Planalto talvez se esforçasse para por Ciro no Ministério da Ciência e
Tecnologia (ou algum outro, quem sabe?) se ele se comprometesse a não criar
problemas na sucessão presidencial, mas tal compromisso, para Ciro, seria uma
espécie de proposta indecente. Ele, se puder, vai criar problema para o PT,
sim.
Para
incrementar essa novela do Ministério da Ciência e Tecnologia: comenta-se que
Dilma tem preferência por um nome técnico. Aí a bancada do PT paulista trabalha
pelo deputado Newton Lima (PT-SP). E o senador Walter Pinheiro (do PT da
Bahia), trabalha por si mesmo, tentando contornar as pedras amontoadas no
caminho. Na ausência de prova material, pericial ou testemunhal indestrutível, supostamente
trabalha.
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Este artigo foi publicado
originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista
baiano.