Segunda, 2 de janeiro de 2011
Carlos Newton
O mundo gira e as coisas vão se modificando. Uma das novidades é a
mudança na prática política. No tempo do presidente Washington Luiz,
governar era abrir estradas. Hoje, deveria ser investir em
infraestrutura (energia, transporte e telecomunicações), para reduzir o
chamado Custo Brasil e pavimentar nosso caminho rumo ao inevitável
desenvolvimento.
Mas o que vemos? Ao que parece, governar hoje não passa de colocar em
prática ardilosas estratégicas de marketing, simulando realizações e
enganando o respeitável público, que em sua esmagadora maioria não se
preocupa com política, está mais ligado em futebol, computador e novelas
de televisão.
Um bom exemplo é a matéria do Estadão sobre política de segurança
pública, que oportunamente nos foi enviada pelo comentarista Carlo
Germani. A reportagem mostra que o governo suspendeu, por tempo
indeterminado, a elaboração de um plano de articulação nacional para a
redução de homicídios, um dos pilares da política de segurança pública
anunciada pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, no início do
governo Dilma Rousseff.
A decisão surpreendeu e irritou integrantes do Conselho Nacional de
Segurança Pública, que acompanham a escalada da violência no país. O
Brasil é o país com o maior índice de homicídios do mundo em termos
absolutos — quase 50 mil por ano, 137 por dia — e o sexto quando o
número de assassinatos anuais é comparado ao tamanho da população.
Em janeiro, ainda embalado pelo ritmo da campanha eleitoral (também
toda calcada em marketing), Cardozo anunciou que buscaria um pacto com
os governadores, inclusive com os oposicionistas, para preparar um
grande plano de combate à violência. Em maio, depois de longos meses de
discussões, um representante da Secretaria Nacional de Segurança Pública
chegou a apresentar o esboço do plano.
A proposta seria enviada ao Palácio do Planalto e, depois, anunciada
formalmente como o plano do governo federal para auxiliar governos
estaduais a reduzirem crimes de sangue. No entanto, depois de passar
pela Casa Civil, o plano foi discretamente engavetado.
“Ficamos sabendo que Dilma mandou devolver o plano porque a redução
de homicídios é papel dos estados e não do governo federal. Consideramos
isso um retrocesso e estamos cobrando que o governo apresente sua
estratégia de enfrentamento da violência” — afirma Alexandre Ciconello,
que representa no Conselho Nacional de Segurança Pública o Instituto de
Estudos Socioeconômicos.
Segundo ele, a equipe de Cardozo suspendeu até mesmo as discussões
sobre o Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania. Lançado em
2008 pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o programa reunia
quase 100 diferentes ações com um objetivo central: reduzir o índice de
homicídios no Brasil de algo em torno de 26 por 100 mil habitantes para
14 por 100 mil em 2012.
Traduzindo: nada disso era para valer. São projetos virtuais, feitos
apenas para constar, exatamente iguais ao combate à criminalidade no
Estado do Rio de Janeiro, que serve como exemplo nacional. As
estatísticas no Rio de Janeiro são flagrantemente manipuladas, isso já
está mais do que comprovado. A polícia não consegue resolver nem 10% dos
casos de homicídios, só prendendo o criminoso quando ele é denunciado.
Praticamente não existe polícia investigativa. As delegacias se
limitam a registrar as ocorrências. Os crimes somente são investigados
quando envolvem alguma personalidade famosa e saem no jornal. Esta é a
realidade que todos conhecem. Justamente por isso, a maioria das vítimas
nem se dá ao trabalho de prestar queixa. Só o faz quando é obrigada,
para receber seguro ou justificar falta ao trabalho, coisas assim.
Na política de hoje, tudo é virtual. O importante não é quem governa,
mas quem faz o marketing, produzindo factóides (pseudos fatos),
especialidade em que o ex-prefeito Cesar Maia era insuperável.
E como é que as coisas funcionam, nessa situação? Ora, é só lembrar o
velho ditado, já popular aqui no Blog: O Brasil cresce de noite, quando
os governantes e políticos estão dormindo e não podem atrapalhar. Basta
ver o exemplo da Bélgica – 15 meses sem governo constituído, tudo
funcionando e o país crescendo.
Aí surge uma boa idéia: por que não ter políticos apenas virtuais?
Não há dúvida de que seriam muito melhores do que esse pessoal que hoje
milita no ramo.
Fonte: Tribuna da Imprens Online