Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

terça-feira, 13 de março de 2012

Bahia e perda de postos

Terça, 12 de março de 2012 
Por Ivan de Carvalho
A substituição recente de representantes da Bahia por outras pessoas em postos importantes do governo Dilma Rousseff está repercutindo na política estadual. Na Assembléia Legislativa, ontem, a oposição cobrou do governo Wagner e do aglomerado governista uma reação ante o que considerou um “desprestígio” para a Bahia.

Vale recordar que caíram o deputado Mário Negromonte, do PP, que ocupava o importante Ministério das Cidades; que a ministra Dilma Rousseff não abriu mão de, findo o prazo que combinara com o ex-presidente Lula, substituir o petista baiano José Sérgio Gabrielli na presidência da Petrobrás; e finalmente a presidente exonerou o deputado Afonso Florence, também petista, do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Antes de tudo isso, já havia sido demitido do Ministério dos Esportes, o baiano Orlando Silva, do PC do B, outro partido da base política do governo Wagner e da própria Dilma Rousseff.

Resultado: a Bahia tinha a presidência da Petrobrás e quatro ministérios. De tudo isso resta-lhe somente a ministra Luiza Bairros, que, não sei se por ironia, é gaúcha e não baiana. A área governista reagiu timidamente ao virtual desaparecimento do governismo baiano na primeira linha do governo federal.

Ontem, sob o impacto da última queda, de Afonso Florence, o presidente da Assembléia Legislativa, Marcelo Nilo, protestou. “Foi muito ruim para a Bahia a saída dos ministros Negromonte e Florence e do presidente Gabrielli. Foram 2,7 milhões de frente”. Ele fez o protesto um tanto discretamente, no Twitter, quando dispunha de outros canais mais formais e de impacto maior. Provavelmente ficou dividido entre o desejo de protestar e o de não expor demasiadamente a atitude passiva do governismo baiano.

O governador Wagner não protestou ostensivamente, sua crítica ficou entre o protesto e o lamento, tudo restrito à saída de Afonso Florence do ministério. “Foi um golpe na Bahia. Mas é óbvio que não vou abalar minha relação com a presidente Dilma Rousseff”, disse ele em Irecê, no sábado. E acrescentou: “A gente não se contenta nem se conforma com a saída dele. Não vejo nenhum motivo para sua saída. Creio que ela (a presidente Dilma Rousseff) fez isso por questão mais política e não de gestão”. Wagner assinalou que a Bahia tem a quarta população do país, tem um “grande carinho” pelo governo federal e assim devia ter um reconhecimento adequado.

O governador deixou implícito o que o presidente da Assembléia, Marcelo Nilo, sem o mesmo grau de comprometimento político e administrativo que levou à forte moderação de Jaques Wagner, explicitou: Dilma obteve na Bahia 2,7 milhões de votos de vantagem sobre o candidato da oposição, José Serra, no segundo turno das eleições presidenciais.

A oposição considerou pouco. Um oposicionista, o deputado estadual Elmar Nascimento, do PR, que foi também oposição ao carlismo, sugeriu que se o governador fosse Antonio Carlos Magalhães, ele reagiria à decisão presidencial com muita ênfase. Outro oposicionista, deputado estadual Carlos Geilson, do PTN, disse que o governo baiano tem em sua base política três senadores (um é o líder do PT no Senado), 45 deputados estaduais e 29 deputados federais “e nenhum deles levantou a voz para protestar contra a perda de força e prestígio da Bahia”.

Talvez não soubesse ainda da manifestação de Marcelo Nilo no Twitter, a exceção que confirmaria a regra.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.