Quarta, 14 de março de 2012
Da Agência Brasil
Gilberto Costa, reporter
Um estudo divulgado hoje (14) pelo Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (Ipea) aponta que 17 dos 20 principais aeroportos
brasileiros, ou 85%, estão em situação “crítica” ou “preocupante”.
Desses, 12 estão funcionando acima da capacidade operacional. Apenas os
aeroportos de Porto Alegre, Salvador e Manaus funcionam em condições
“adequadas”, fora do “cenário de estrangulamento”.
A avaliação, feita antes da concessão à iniciativa privada dos
aeroportos de Brasília, São Paulo e Guarulhos (SP), é que “permanece
limitada a capacidade da Infraero [Empresa Brasileira de Infraestrutura
Aeroportuária] em executar seu programa de investimentos. Em 2011, a
estatal executou 34% de sua dotação anual inscrita no orçamento das
empresas estatais [dotação de R$ 2,216 bilhões e execução de R$ 747,82
milhões]”. A conclusão consta do artigo Aeroportos no Brasil: Investimentos e Concessões, de autoria do coordenador de Infraestrutura Econômica do Ipea, Carlos Campos.
A preocupação se agrava com a aproximação da Copa do Mundo de 2014.
Segundo o estudo, as etapas do Plano de Investimentos da Infraero “pouco
evoluíram nos últimos 12 meses, entre fevereiro de 2011 e janeiro de
2012”. “Dos 11 aeroportos nos quais estão previstos investimentos nos
terminais de passageiros, oito estão nas fases iniciais de projetos”.
Mesmo para os aeroportos concedidos, o Ipea faz ressalvas: “É fator de
preocupação a exiguidade dos prazos definidos pelo edital para as várias
etapas do processo de concessão, diante da necessidade de que os três
aeroportos estejam prontos a tempo de atender ao evento de 2014”.
Após a concessão de três aeroportos à iniciativa privada, começa a
ganhar corpo a ideia de construir um novo aeroporto em São Paulo. A
avaliação é que Viracopos, o aeroporto de Campinas, não terá condições
de atender à demanda de passageiros e carga não assimiláveis pelos
aeroportos de Cumbica e Congonhas. “Se não debatermos isso hoje, quando
quisermos fazer não será possível”, enfatiza o técnico do Ipea Erivelton
Guedes, que avaliou as alternativas para infraestrutura aeroportuária
na Região Metropolitana de São Paulo – que concentra 30% do movimento de
passageiros.
Ele chama a atenção para o fato de que a solução em São Paulo tem que
ser pensada em conjunto considerando a construção do trem-bala e a
demanda que um aeroporto distante da capital, como o de Campinas, criará
para a Rodovia dos Bandeirantes.
Segundo o Ipea, não apenas os aeroportos preocupam. O Brasil investe
apenas 0,7% do Produto Interno Bruto, incluindo o Programa de Aceleração
do Crescimento, em transporte. O percentual é inferior ao que fazem
outros países emergentes, como a China, Índia, Rússia, o Chile e até o
Vietnã – na casa de 2,7% do PIB. Carlos Campos calcula que o país
necessite investir R$ 185 bilhões em rodovias; R$ 75 bilhões em
ferrovias e mais R$ 45 bilhões em portos.
O cálculo não inclui as necessidades de infraestrutura urbana e
mobilidade nas cidades. O coordenador de Infraestrutura Econômica do
Ipea aponta que o país não soube aproveitar a Copa do Mundo para
resolver os problemas de transporte nas 12 cidades-sede do torneio.
Quando a Copa do Mundo foi anunciada no Brasil, a mobilidade urbana foi
considerada como “o principal legado” do Mundial de futebol. “É uma pena
estar perdendo a oportunidade para efetivar, para a população, os
ganhos com a mobilidade urbana”.
Os estudos do Ipea, publicados hoje, integram o periódico Radar nº 8,
especial sobre infraestrutura. Nele, o instituto destaca ainda que
tendem a crescer as emissões de gás carbônico no Brasil com o aumento do
transporte de carga nas rodovias e com o aumento da circulação de
carros nas cidades. A solução apontada para o transporte regional é
utilizar mais ferrovias e o modal aquaviário; e, nas cidades, melhorar e
integrar os sistemas de transporte urbano.