Quinta, 15 de março de 2012
Por Ivan de carvalho

Claro que essa foi apenas
mais uma trapalhada, quase se poderia dizer um descuido. Tem importância? Tem,
como sinal. Trata-se de um ato formal da presidente da República que,
pretendendo designar um deputado para a importante função de líder do governo
na Câmara, o faz para a liderança do governo no Senado, para a qual havia sido
designado logo antes, e neste caso sem trapalhada, um senador. Também é claro
que o erro na publicação ocorreu em nível de assessoria, mas é desconcertante
que ninguém acima haja notado o descuido a tempo de corrigi-lo. Uma gestão
muito distraída. Ou atrapalhada.
A impressão que se tem é
que o ambiente no Palácio do Planalto, pelo menos no que diz respeito às
relações do governo com o Congresso Nacional, melhor dizendo, com sua base de
sustentação no Congresso, é de “barata voa”. Uma coisa mais ou menos assim: o
predador pretende matar as baratas da crise na base governista, mas elas voam,
assustando o predador e levando-o a reagir no susto, que o baratina.
E susto grande houve quando o Senado Federal,
onde a base governista representa mais de 70 por cento da Casa, rejeitou uma
indicação pessoal da presidente Dilma Rousseff para o comando da Agência
Nacional de Transportes Terrestres, exatamente o homem enfronhado nos trilhos
do absurdo projeto do trem bala, que tem a estima da presidente. A rejeição, em
voto secreto, resultou de uma rebelião liderada por peemedebistas para
pressionar o governo.
Mas tem sido susto atrás de susto. Enquanto o
novo líder do governo no Senado dizia ontem que sua missão é de “unificar e
pacificar o PMDB” e “ampliar a interlocução da base com o governo” – esta
expressão está na moda – um outro foco de crise que vinha se manifestando
informalmente tornou-se ostensivo, declarado e formal: os senadores do PR,
partido que tem sete das 81 cadeiras do Senado, decidiram encerrar as
negociações com o Palácio do Planalto para indicar o ministro dos Transportes e
imediatamente romperam com o governo, passando a oposição. O PR era governo e
tinha nos Transportes o ministro Alfredo Nascimento, alvo de denúncias e por
isto exonerado em julho.
O PR queria voltar ao ministério dos Transportes,
mas as negociações não progrediam. O senador Blairo Maggi, do Mato Grosso,
principal negociador pelo lado do PR, chegou a ser convidado para o cargo, mas
não aceitou. Havia uma expectativa de que o PR indicasse e a presidente
nomeasse o ex-senador César Borges, presidente do PR na Bahia, contra o qual
não existem denúncias de improbidade ou quaisquer outros “malfeitos”, como diz
Dilma Rousseff.
Uma eventual nomeação de César Borges seria até
uma espécie de compensação para a Bahia, que perdeu importantes postos –
ministérios dos Esportes, das Cidades, do Desenvolvimento Agrário e presidência
da Petrobrás –, mas havia um obstáculo a superar, o fato de Borges e o
governador Jaques Wagner estarem em campos políticos diferentes, adversários
nas eleições de 2010.
O senador Blairo Maggi explicou as coisas de
forma lapidar, após a reunião da bancada do PR que tomou as decisões já
descritas: “Fui lá hoje. Não tinha definição. Eu não quero mais negociar porque
o negócio não desenvolve. Então, resolvemos (os senadores do PR) que estamos
fora da discussão e isso significa que estamos na oposição”.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.