Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 22 de setembro de 2012

O massacre e as pesquisas

Sábado, 22 de setembro de 2012
Por Ivan de Carvalho
É possível que, neste fim de semana, pelo menos uma pesquisa reservada, com resultados para consumo interno de campanha, haja sido concluída a respeito das intenções do eleitorado de Salvador. Mas, se houve a sondagem eleitoral, seus resultados até agora não transpuseram a área restrita a que se destinavam. Talvez tenhamos que aguardar outras pesquisas, do Ibope, Datafolha, Vox Populi.

O que se pode dizer é que a idéia de fazer aquela pesquisa exatamente agora era a de medir os efeitos do que, em setores petistas, se chegou a apelidar de “massacre” contra o candidato da coligação liderada pelo Democratas, ACM Neto, líder, com ampla vantagem, de todas as pesquisas eleitorais até o momento. Na pesquisa mais recente, que registrou um crescimento grande do petista Nelson Pelegrino, 12 pontos percentuais ainda separavam o candidato governista de ACM Neto.

O que seria o “massacre”? Prevalecendo-se do fato de contar com praticamente a metade do tempo de propaganda eleitoral “gratuita” no rádio e televisão – 13 minutos do total de 30 em cada bloco – e, consequentemente, também de um número muito maior de inserções do que qualquer outro concorrente em meio à programação normal das emissoras, a campanha de Pelegrino apontou artilharia pesada contra ACM Neto.

Uma das munições, o discurso em que este, durante o seu primeiro mandato de deputado e o primeiro mandato de Lula na presidência, disse da tribuna da Câmara que seria capaz de “dar uma surra” no presidente. Pouco depois, aconselhado pelo avô, Antônio Carlos Magalhães, Neto pediu desculpas também publicamente. Mas Lula jamais o perdoou – é difícil, pelo menos no meio político, descobrir alguém que Lula avalie que o ofendeu ou prejudicou e que haja perdoado. Hélio Bicudo garantiu que “ele nunca perdoa”. Lula é da mesma região de Lampião (nasceu em Caetés, Lampião em Vila Bela, hoje Serra Talhada), em Pernambuco. Lá, contam os que conhecem a região, o pessoal não é chegado a um perdão.

ACM Neto conseguiu que a Justiça Eleitoral proibisse o ataque, por haver sido retirado de contexto. Está respondendo que realmente errou, e que hoje está mais experiente, mas explicando que era a fase da crise do Mensalão e sua “família estava recebendo ameaças” e que o importante é que os réus do Mensalão estão hoje sendo julgados e condenados.

Outra munição pesada foi a de que o Democratas, partido de ACM Neto, votou contra o polêmico sistema de cotas de vagas nas universidades. O candidato dá uma resposta enviesada, dizendo que sempre foi a favor da promoção da igualdade e que foi o autor de proposta legislativa que ampliou o benefício do Bolsa Família. Se o candidato fosse seu avô ACM – mas não é – poderia dizer que o Fundo de Combate à Pobreza, proposto por ele e aprovado no Congresso graças a seus esforços, foi o embrião financeiro do Bolsa Família, instituído depois pelo governo do PT.

O terceiro elemento do “massacre” contra a candidatura de ACM Neto é a esquisita tese do “alinhamento” – presidente da República, governador e prefeito do “mesmo time”. Hora, se fosse para ser assim, nem precisava eleição. Houve tempo em que os generais escolhiam o presidente da República, este nomeava os governadores (homologados pelas submissas Assembléias Legislativas) e os governadores nomeavam os prefeitos das capitais.

Poupavam-se os eleitores da canseira cívica de ir votar, não havia doações de campanha nem “por dentro” nem “por fora”, todos eram menos assediados pela irritação imbecilizante dos programas de propaganda eleitoral “gratuita” (existentes só para eleições parlamentares e municipais) e até podiam imbecilizar-se prazeirosamente com as telenovelas e programas de auditório.

Acho que era muito melhor. A não ser porque não havia democracia e a liberdade era escassa. Mas só por isso...
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia deste sábado.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.