Sexta, 16 de novembro de 2012
Da Revista IstoÉ
De guerrilheiro à condição de segundo homem mais poderoso da República e de negociador de grandes empresas. A surpreendente trajetória de José Dirceu até as grades
Izabelle Torres
Até há bem pouco tempo, parecia improvável que no Brasil um homem
como José Dirceu, que acumulou tanto poder e prestígio ao longo da vida,
acabasse atrás das grades. ex-guerrilheiro que lutou contra a ditadura,
ajudou a fundar um partido de trabalhadores e ocupou o segundo cargo
mais importante da República, Dirceu experimenta agora o infortúnio de
ser o primeiro ex-ministro de Estado a receber pena tão alta por
corrupção e ainda ter de ressarcir os cofres públicos. Na semana
passada, o Supremo Tribunal Federal o condenou a dez anos e dez meses de
cadeia e ao pagamento de uma multa de R$ 676 mil, por ter chefiado o
esquema do mensalão. Dirceu está prestes a voltar para o cárcere, mais
de quatro décadas depois de ser preso em Ibiúna (SP) durante um
congresso clandestino da União Nacional dos Estudantes (UNE). As
circunstâncias de agora, no entanto, são bem diferentes daquelas de
1968, quando o jovem mineiro de Passa Quatro já era um combativo
militante político. No comando da UNE, havia abandonado os estudos para
lutar pela democracia. Hoje, mancha de maneira indelével a própria
biografia ao ser condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha.
Em seu voto, o ministro Joaquim Barbosa, relator do processo do
mensalão no STF, acusou o petista de colocar “em risco o sistema
democrático” ao se ocupar pessoalmente de tais práticas criminosas. Ou
seja, por ironia do destino, Dirceu, como chefe da Casa Civil do governo
Lula, teria atentado contra a mesma democracia que ajudou a instaurar,
colocando em jogo a própria liberdade. Provavelmente, sua vida lhe
passou à mente enquanto acompanhava pela tevê os ministros do Supremo
confirmando, um a um, a sentença.