Domingo, 23 de fevereiro de 2014
Bem, depois da devida volta ao túnel do tempo, que por sinal
era o nome de uma série que eu também amava,vamos ao que interessa.Ao ouvir as
notícias, uma me chamou muita atenção e gerou uma conversa com meu filho, que é
jornalista , sobre como a manipulação das notícias, o tom da voz, tudo é muito
bem trabalhado para moldar a opinião pública. Até aí nenhuma novidade pra você
leitor, mas, falavam do menino que há algumas semanas foi amarrado no poste em
uma área nobre da cidade do Rio de Janeiro, e ao informar que ele havia sido
detido novamente por tentar furtar turistas em Copacabana, chegou à delegacia,
segundo o repórter, batendo no peito e dizendo que era o menino do poste.
À essa afirmação seguiu-se logo uma grande discussão sobre
os 11 Senadores da República Brasileira que foram contra a redução da
maioridade penal, como se isso fosse o maior problema do Brasil.Fico
estarrecida com a capacidade de decisão rápida do povo brasileiro em dizer sim
a redução da maioridade penal, sem se dar o direito de discutir de forma
aprofundada a tragédia que nos cobrirá , caso isso aconteça.Tudo se decide no
calor dos acontecimentos, comoções e depois vão-se os dedos e os anéis.
Não é segredo, embora tenta-se à todo custo refutar e
encobrir o racismo incrustado na nossa sociedade brasileira, mas a cada dia , e
que bom, ele vem vindo à tona, e quando vier com força total, e eu não vejo a
hora de isso acontecer, creio que vamos de fato começar à passar o Brasil à
limpo, embora que pra isso muitas outras coisas também precisem ser postas na
mesa.Mas , grande parte de nossa mazela cultural, está fincada no racismo.
O racismo institucional, fato comprovado cientificamente,
não conversa chorosa de crioulos ressentidos, é fato, é dado comprovado
cientificamente, repito, empiricamente tem sido o produtor do maior genocídio
de todos os tempos. Pois com recorrência, quem mais morre são so negros e
negras.Digo isso, porque dados de múltiplos relatórios, como pro exemplo o
relatório anual das desigualdades , produzido pelo professor e pesquisador da
UFRJ, Marcelo Paixão, entre outros, mas tomo este como exemplo, nos confronta e
alerta.
A sociedade e o Estado brasileiro já matam sistematicamente
desde o descobrimento do Brasil, os homens, crianças e mulheres negros e
negras.A democracia racial, ainda é higienista, tem asco do que foge da paleta
oficial de cores sonhada pra esta pátria mãe gentil.A sanha assassina do Estado
impregna e sim consegue arrebanhar mentes e corações,no intuito de ver-se livre
desta mancha.
Quanto em mais tenra idade nos livramos destes , mais cedo
nos livraremos do problema.Aos que conseguem nascer, saúde escassa.Aos que
conseguem crescer, possibilidades mínimas de acessos à educação, saúde e
segurança nenhum mesmo, são os que mais são assassinados.Já nascemos meus
amigos, marcados pra morrer.Mas de todas as formas, vamos adoecendo, porque
racismo adoece e mata.
Se tenta se discutir o assunto, estamos tentando criar ódios
que não existem, é duro. Não é assunto fácil não, é assim mesmo.Já não chegam
os presídios abarrotados com a negralha, as casas de correção, ou melhor de
ressocialização lotadas.Bem , isso é pra depois, pois agora, até pensarmos em
melhora a educação, vão ser necessários mais de um século pelo menos, e
convenhamos um século demora.Então, na ineficiência construída e urdida pra
este fim, vamos diminuindo as possibilidades da negralha, talvez isso freie um
pouco a sanha deles em se tornarem cidadãs e cidadãos de direitos.
Segundo o Índice de Desenvolvimento Humano, calculado por um
programa da ONU, o Brasil está na 88ª posição entre as nações. Se fossem
considerados apenas os brancos, ascenderíamos para o 66º lugar. Levando
em conta exclusivamente os classificados como “pretos” e “pardos”,iríamos para
o 103º lugar.No Brasil, as mulheres “pretas” e “pardas” detêm mais de dois
terços das ocupações domésticas, mal remuneradas e de escasso prestígio social.
Nem 8% dos jovens “pretos” e “pardos” estão inscritos em
estabelecimentos de nível superior, muito aquém da média nacional, que já não é
grande coisa.
O economista Marcelo Paixão, é coordenador do Laboratório de
Análises Econômicas, Históricas, Sociais e Estatísticas das Relações Raciais. O
Laeser é vinculado ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro..Para o pesquisador, apesar de reconhecermos a existência de fortes
disparidades nas condições de vidas de brancos, negros e mestiços de diferentes
matizes, não questionamos os padrões racialmente hierárquicos nos quais se
assenta a nossa sociedade brasileira”,
Eis aí nosso desafio, deixar de discutir o sofá na sala e
aprofundarmos nossa reflexão sobre este ódio racial que nos envenena de forma
tão poderosa, e para o qual ainda não encontramos antídoto. Mal que nos consome
e que nos leva `tomar decisões com critérios formados pelo preconceito e
pela noção equivocada de nossa igualdade, que tem gerado verdadeiras aberrações
e ações dignas de personagens famosos de nossa história real da humanidade, que
tiveram maior impacto porque cometeram seus atos insanos em doses cavalares e
de uma só tacada.
Aqui, do jeitinho brasileiro,as doses homeopáticas produzem
um efeito devastador, como o da ênfase dada pelo repórter e a construção de uma
imagem de orgulho ao ato criminoso do menino, ao inserir o "bateu no
peito" `à frase do menino informando ao policial que era o "garoto do
poste".Que tragédia, ninguém se sensibilizou com o ser quase humano , o
tal "garoto do poste".
"A nossa luta é todo dia e toda hora. Favela é cidade.
Não à GENTRIFICAÇÃO ao RACISMO e à REMOÇÃO!"
*Representante da Rede de Instituições do Borel,
Coordenadora do Grupo Arteiras e aluna da Licenciatura em Ciências Sociais pela
UERJ.