Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 4 de maio de 2014

UPP: a pacificação que não veio

Domingo, 4 de maio de 2014

Jornal do Brasil

Louise Rodrigues*

Protestos, violência e insegurança. Enquanto o governo do estado do Rio de Janeiro anuncia um mundo ideal em suas propagandas de TV, pessoas morrem e desaparecem nas favelas cariocas. Os papéis se inverteram: antes, os traficantes andavam armados e disputavam os papeis de vilões e herois entre os moradores da comunidade. Hoje, os policiais das Unidades de Polícia Pacificadora assumiram o comando do fuzil. Mas a esperada paz continua uma promessa distante, e as comunidades acabaram por se transformar num barril de pólvora prestes a explodir.
Este aumento na violência é facilmente constatado no último levantamento do Instituto de Segurança Pública (ISP). De acordo com o balanço divulgado na sexta-feira (2), o número de homicídios de pessoas durante confronto com a polícia no Rio registrou um aumento de 59,3% no primeiro trimestre de 2014 em relação ao primeiro trimestre de 2013. Apesar de o ISP não confirmar nem negar que estes números se referem a regiões com UPPs, o assustador crescimento comprova que a cidade vive um clima de guerra.
Em 2010, quando foram inauguradas as primeiras UPPs, o cenário já mostrava uma prévia do que se repetiria muitas vezes. No dia 3 de março daquele ano, um grupo de traficantes incendiou um ônibus, ferindo pessoas e espalhando o terror entre a população da Cidade de Deus. Os criminosos continuavam morando na comunidade, mesmo com a pacificação. No mesmo ano, na madrugada do dia 26 de dezembro, policiais da UPP de Cidade de Deus, foram atacados na Travessa 15 por traficantes que ocupavam uma moto.
Um mapeamento independente, realizado por um morador da comunidade de Manguinhos, levanta dados junto aos moradores da comunidade para medir violações de direitos nos territórios com UPPs. Segundo apontado no próprio mapeamento, um dos objetivos é “gerar informações com o olhar de quem sofre as violações e também contrapor as informações”.