Segunda, 1º
de dezembro de 2014
Monica
Yanakiew - Correspondente da Agência Brasil/EBC
Os uruguaios elegeram nesse domingo (30) o sucessor do presidente José
Pepe Mujica: no dia 1º de março, o médico socialista Tabaré Vázquez será
reconduzido ao cargo, que ocupou de 2005 a 2010. Este vai ser o terceiro governo
consecutivo da coligação de partidos de esquerda, Frente Ampla.
No discurso em que festejou a vitória, Tabaré convocou a oposição a um
diálogo. “Convoco todos os uruguaios, não para que me sigam, mas para que me
guiem e me acompanhem”, disse. Ao mesmo tempo prometeu que seu retorno ao poder
não representará “mais do mesmo” porque o país que vai presidir nos próximos
cinco anos “não é o mesmo de 2005 nem de 2010”.
Tabaré Vázquez disputou o segundo turno das eleições presidenciais com o
candidato do tradicional Partido Nacional (ou Blanco), Luis Lacalle Pou. Ele
obteve 53,6% dos votos, enquanto seu adversário ficou com 41,1%. A Frente Ampla
ainda assegurou a maioria no Congresso, no primeiro turno das eleições, em
outubro passado.
No Uruguai, o Congresso é totalmente renovado a cada troca de governo. E
os eleitores são obrigados a escolher candidatos a presidente, à Câmara dos
Deputados e ao Senado do mesmo partido. Todos têm mandatos de cinco anos e o
presidente não pode ter dois mandatos consecutivos.
A legislação, no entanto, não impede que uma pessoa dispute o cargo de
presidente e uma vaga no Congresso, em uma mesma eleição, ou que o presidente
em exercício se candidate ao Senado. Por isso, no dia 1º de marco, Lacalle Pou
(que foi derrotado na eleição presidencial, mas obteve votos suficientes na
eleição legislativa) assumirá como senador do Partido Nacional. José Pepe
Mujica vai liderar a bancada da Frente Ampla no Senado.
Em entrevista à Agência Brasil, Mujica disse que quer impulsionar uma
reforma constitucional e criar mecanismos para evitar a corrupção politica. A
primeira-dama, a senadora Lucia Topolanski, foi reeleita em outubro e vai
integrar a bancada governista junto com o marido.
Segundo Victor Rossi, que foi ministro de Transporte e Obras Públicas na
primeira gestão de Tabaré Vázquez, o novo governo vai manter a politica de
redistribuição da riqueza dos últimos dez anos, que deu bons resultados: a
redução da pobreza de 39% a 11% e a queda do desemprego. “Mas existem novos
desafios porque os uruguaios hoje estão mais exigentes do que em 2005 e em
2010”, disse Rossi.
Responsável por conduzir a Frente Ampla ao poder, rompendo com a
hegemonia dos partidos Nacional e Colorado (ambos com mais de 170 anos de
historia), Tabaré Vázquez obteve votação histórica. Ele ganhou as eleições com
a maior margem de diferença em relação ao segundo colocado desde 1996.
Apesar de Tabaré ser um político popular, foi seu sucessor – o
ex-guerrilheiro José Pepe Mujica, preso durante 14 anos – que colocou o
pequeno país no mapa, graças ao seu jeito simples de ser. Ele foi manchete da
imprensa local e internacional porque continua vivendo na mesma chácara e
dirigindo o mesmo fusca velho (que um xeque árabe quis comprar por US$ 1 milhão
e que ele se recusou a vender).
Mujica também ganhou fama de ser o “presidente mais pobre do mundo”
porque doa 90% de seu salario para financiar projetos sociais. Na gestão dele,
o Uruguai legalizou o aborto, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a
produção e venda da maconha.