Segunda, 9 de fevereiro de 2015
Helena Martins - Repórter da Agência Brasil
O
barraco de cerca de 1,5 metro quadrado vai abrigar, na noite de hoje
(9), Amanda Sampaio e os cinco filhos. Ex-moradora do Sol Nascente,
considerada a maior favela da América Latina, ela é uma das 500 pessoas
que participam, desde a madrugada de sábado (7), da ocupação de um
terreno em Ceilândia, no Distrito Federal (DF), organizada pelo
Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST).
O
espaço pequeno, a falta de infraestrutura e de condições para enfrentar
o frio contrastam com o novo Centro Administrativo do DF, localizado a
poucos metros da ocupação. Mas o cenário não intimida a jovem de 22
anos. “Eu estou cadastrada há anos [em programas habitacionais] e nada.
Agora eu tenho esperança de que vamos conseguir nossas casas”, disse
Amanda, enquanto envolve o barraco com uma lona preta.
A situação se repete com muitas das 2.600 famílias vinculadas ao MTST que ocupam, desde sábado, seis terrenos em áreas do Distrito Federal.
Elas reivindicam a liberação de um terreno para que o movimento possa
construir moradias para todas, por meio do Programa Minha Casa Minha
Vida - Entidades.
Já no primeiro dia de mobilização, o MTST se
reuniu com o governo do Distrito Federal (GDF) para apresentar as
reivindicações. Amanhã (10), uma nova reunião deve ser feita. A
integrante da coordenação do movimento no DF, Eduarda Maria, de 28 anos,
disse que há uma expectativa positiva em relação ao encontro. “Tem
que ter uma solução. Não é justo e não é certo jogar as nossas famílias
sem solução”, destacou.
Ela lembrou que, antes das ocupações, o
movimento fez diversos atos e reuniões, mas as casas não foram
garantidas. O desfecho esperado com as ocupações é outro. “Só não
queremos que eles joguem todos para um lugar distante e de difícil
acesso, porque as pessoas precisam trabalhar também, né? E a gente quer
saúde, educação, tudo o que está na lei”, acrescentou.
Músico
desempregado, Antônio Magalhães, de 45 anos, é mais um ocupante do
terreno na Ceilândia. Ele disse que todos os dias novas pessoas vêm se
somando às ocupações, o que evidencia a demanda por casa. Dados do
Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apontam que já em 2012
havia no DF um déficit habitacional de 120 mil unidades.
Segundo
Magalhães, além do terreno, o movimento defende a aceleração dos
editais de construção de casas em Nova Planaltina e Samambaia, os quais
vinham sendo discutidos pelo movimento e o GDF. “Já fizemos o projeto,
tudo que é necessário fazer para começar a construção, mas está
engavetado”, destacou.
A Agência Brasil procurou
o GDF para saber o posicionamento diante das reivindicações do MTST. Em
resposta, a assessoria de imprensa informou que a proposta do governo
será apresentada na reunião de amanhã e que, por isso, prefere não
adiantar nada. A Companhia Imobiliária de Brasília (Terracap) também foi
procurada, mas não respondeu às perguntas até a publicação desta
matéria.
Ainda no sábado, a Secretaria de Segurança Pública do DF estimou que 500 famílias participavam dos atos.