Quarta, 7 de março de 2018
Do IHU
Instituto Humanitas Unisinos
O líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos, filou-se ao PSOL nesta segunda-feira 5 e foi aclamado pré-candidato ao Palácio do Planalto, sem debates internos com outros postulantes e com apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A forma como Boulos chegou rachou o partido. Isso deve dificultar seu caminho como presidenciável pela legenda, mesmo com a escolha de seu nome dada como certa na reunião do colégio eleitoral do PSOL marcada para o próximo sábado 10.
A reportagem é de Nivaldo Souza, publicada por CartaCapital, 07-03-2018.
O pré-candidato Plínio de Arruda Sampaio Júnior, conhecido como Plininho e filho do candidato do partido em 2010, se opõe ao colégio eleitoral e acusa a reunião de ser um “jogo de cartas marcadas”. “Vamos disputar no colégio eleitoral [sábado] e, depois, exigir que a definição do programa e [do candidato] do partido seja feita pela base partidária, pela militância”, afirma à CartaCapital.
O presidente do PSOL, Juliano Medeiros - um dos articuladores da candidatura de Boulos -, minimiza o movimento e diz que o colegiado deve referendar o líder do MTST com 80% dos 126 votos possíveis. “Eu diria que nunca tivemos uma candidatura com tanto apoio interno desde a Heloísa Helena [hoje na Rede Sustentabilidade], em 2006”, afirma.
"Coadjuvante do Lula"
Plininho reclama da ausência do líder do MTST em debates prévios e da falta de consulta à militância do partido em prévias abertas a todos os filiados. “O Boulos não se expõe a um debate”, critica.
O primeiro embate entre eles ocorrerá nesta quarta-feira 7, na sede da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), no Rio de Janeiro. É o único debate programado antes da escolha do candidato da legenda à Presidência da República neste final de semana.
Os pré-candidatos do PSOL, lista que inclui o economista Nildo Ouriques e o pedagogo Hamilton Assis, devem insistir em novos debates e na realização de prévias. “Se o Boulos se submeter a isso e se for escolhido [pela militância], eu não tenho nenhum problema de fazer a campanha dele. Mas sem debates não há legitimidade e o Boulos não representará a coletividade do partido”, sinaliza Plininho.
O professor da Unicamp acusa a liderança do PSOL de adotar um “método autoritário”, operando “por fora das instâncias” partidárias, para criar uma candidatura “satélite do PT”. “O PSOL chama Partido Socialismo e Liberdade e está fazendo isso [de escolher o candidato] com um programa que não tem socialismo e um método sem liberdade”, diz.
Boulos é amigo de Lula, a quem tem defendido da condenação a 12 anos e um mês de prisão no âmbito da Lava Jato, no caso do tríplex no Guarujá. No ato de filiação, Boulos disse que a condenação é uma “ferida democrática”. “Não vamos silenciar nenhum segundo sequer contra qualquer injustiça, inclusive aquela que está sendo cometida contra o ex-presidente Lula”, disse.
Lula chegou a gravar vídeo referendando a pré-candidatura de Boulos, o que serviu de munição aos descontentes do PSOL contra a chegada o líder do MTST. Ele é acusado de ser “peão do [ex-presidente] Lula” responsável por fazer do PSOL um “puxadinho do PT”. “Ele [Boulos] no fundo quer fazer carreira política e está fazendo isso como coadjuvante do Lula”, acusa Plininho.
O fundador do PSOL e ex-deputado federal pela legenda Babá (BA) usou as redes sociais para o apoio de Lula como um desrespeito ao que levou a criação do PSOL. A legenda surgiu em 2005, após a debandada de petistas irritados com os primeiros anos do governo Lula. “Um candidato lulista no PSOL é um completo desrespeito à história de nosso partido”, escreveu no Facebook.
O vereador Renato Cinco, um dos seis integrantes da bancada psolista na Câmara Municipal do Rio de Janeiro – a maior do partido num município do País – diz que a candidatura de Boulos “não expressa o espírito do PSOL”.
Ele argumenta que o líder dos sem-teto foi puxado pela executiva do partido para disputar o espólio eleitoral de Lula. “Uma parte do PSOL está convencida que hoje o mais importante é disputar o racha do PT”, afirma.
Ultraminoria
O deputado Ivan Valente (SP) chama os descontentes de “ultraminoria” e defende o apoio de Lula como “solidariedade”. “Se é solidariedade, você não pode rejeitar”, afirma. “A integridade do PSOL e sua independência não estão sob nenhum risco”, diz.
O deputado Chico Alencar (RJ) afirma que as críticas a Boulos são feitas por psolistas com “concepção de partido mais fechado”, com foco na formação de quadros próprios para ocupar cargos políticos.
Ele rebate a ideia de que o PSOL esteja se transformando numa “quinta coluna lulista”. Ou que a aliança com o MTST seja para forjar uma “candidatura satélite” para o ex-presidente. “Sempre acontece isso. O pessoal estrebucha e tem essas distensões, que eu considero naturais. Mas a partir da decisão democrática [do colégio eleitoral] todos vêm juntos”, afirma o deputado.
Alencar aponta Boulos como aquisição importante para o PSOL crescer fora de sua militância tradicional. A ampliação da bancada federal de 6 para 12 deputados entra nesse cálculo. “Somos um partido ainda com pequena inserção nos movimentos sociais e o Boulos chega com uma potência muito grande [de colocar o partido nos movimentos]”, diz Alencar.
Renato Cinco considera equivocado o cálculo de que o presidenciável puxará votos para a Câmara Federal – à qual vereador pretende disputar ao lado de Marcelo Freixo.
“Essa candidatura [presidencial] vai afastar os setores mais críticos ao PT e o setores menos críticos tendem a votar no candidato do PT ou no Ciro Gomes [PDT] para garantir um dos dois no segundo turno. Se a conta for essa, é um cálculo meio tosco”, compara.