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(Millôr Fernandes)

terça-feira, 9 de outubro de 2018

Entrevista com Joênia Wapixana, a primeira mulher indígena eleita deputada federal no Brasil

Terça, 9 de outubro de 2018


Da Funai — Fundação Nacional do Índio
O dia 7 de outubro trouxe uma conquista para os povos indígenas brasileiros: Joênia Batista de Carvalho, do povo Wapixana, foi eleita a primeira mulher indígena brasileira Deputada Federal. A candidata foi a única eleita pela Rede Sustentabilidade e recebeu um total de 8.267 votos. Desde 1982, com Mário Juruna, um indígena não se elegia Deputado Federal.

Joênia também foi a primeira mulher indígena a se formar em Direito no país pela Universidade Federal de Roraima, em 1997, e pela University of Arizona, nos Estados Unidos.

Uma de suas bandeiras, que a fez entrar no mundo da política, foi a luta pela demarcação da reserva indígena Raposa Serra do Sol. A indígena também defende a atuação pelo desenvolvimento sustentável no Estado de Roraima onde contemple as diversidades socioculturais, os direitos coletivos dos indígenas, a atuação contra a corrupção e a realidade de Roraima com respeito ao meio ambiente.

Sua campanha foi custeada com recursos oriundos de um site de financiamento coletivo. Aos 43 anos, a indígena não representa apenas uma conquista para os povos originários mas para todas as mulheres do Brasil.

A Assessoria de Comunicação da Funai entrou em contato hoje [ontem] (8) pela manhã com Joênia e conseguiu uma entrevista, na qual a Deputada expôs tudo aquilo que pensa sobre o cenário atual, suas propostas e os desafios que se aproximam.

FUNAI: Joênia, o que a levou à política?

JOÊNIA: A necessidade de ter uma representação parlamentar indígena no Congresso Nacional e defender os direitos indígenas, porque hoje nossos direitos estão em risco com propostas anti-indígenas, por acreditar que as Terras Indígenas merecem programas, políticas e incentivos, para que haja sustentabilidade, para trabalhar para uma geração futura como a juventude, para destacar a importância das mulheres e somar isso à defesa dos direitos sociais para cada brasileiro.

FUNAI: Com o cenário atual da Câmara dos Deputados pós eleições, como você enxerga que será a sua atuação e quais os principais desafios que espera encontrar?

JOÊNIA: Estou muito preocupada com esse cenário porque vai ser um desafio muito grande. Mas eu estou confiante porque eu faço parte de um grupo que se chama "Renova BR" e não nos elegemos todos mas, pelo menos, umas 7 pessoas foram eleitas. Essas pessoas têm uma ideologia de que é necessário se combater a corrupção, dar valor à honestidade, trabalhar pelo coletivo, focar na sustentabilidade e ter uma reforma política justa onde se tenha mais participação popular. Acredito que pessoas do Renova BR, do Partido Sustentabilidade, do movimento de mulheres e da juventude indígena vão fazer um bom trabalho juntos.

FUNAI: Em que a Funai pode colaborar com você nessa sua missão?

JOÊNIA: O Órgão Indigenista Federal tem uma responsabilidade muito grande no país. Tem a função de proteger 13% do território brasileiro com um orçamento pequeno. Vou lutar pelo concurso da Funai, pois os servidores estão todos se aposentando e precisamos de pessoas cada vez mais preparadas para essas demandas. E é por isso que se precisa de um Deputado Federal que faça propostas no orçamento da Funai.

A Funai é um órgão que deve prestar todo apoio aos nossos indígenas e eu vou querer que ela seja parceira principalmente nas implementações de Emendas Parlamentares que eu estarei discutindo prioritariamente junto com as comunidades indígenas.

Vou levar à Funai esses Planos de Sustentabilidade para que ela possa apoiar ações que eu acredito que são necessárias, como a proteção a terras Indígenas, fiscalização, e também fazer com que a Funai possa ser fortalecida. Espero contar com a Funai tanto nessa parceria quanto como órgão que vai ajudar nessa construção coletiva, levando as prioridades dos povos indígenas, resgatando o Conselho Nacional de Política Indigenista (CNPI), fazendo com que os povos indígenas sejam ouvidos e tenham seus direitos respeitados.

Ana Carolina Aleixo Vilela - ASCOM/FUNAI

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