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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 22 de abril de 2020

O QUE FOI A AAB-ALIANÇA ANTICOMUNISTA BRASILEIRA

Quarta, 22 de abril de 2020
Por
Salin Siddartha*

A Aliança Anticomunista Brasileira-AAB foi uma organização terrorista de extrema-direita de oposição à ideologia comunista atuante durante a Ditadura Militar no Brasil; era contrária ao que chamava de “desvio e afrouxamento” dos princípios que nortearam o movimento militar de março de 1964. Foi um dos grupos anticomunistas inclinados para a ação violenta, com atentados a bomba, os quais ocorreram entre 1976 e 1981. Era inimiga dos grupos de esquerda, lutava pela manutenção do regime militar no Brasil e tinha título semelhante ao da Aliança Anticomunista Argentina-Triple A, que, a partir de 1973, em três anos de existência, executou cerca de 600 militantes esquerdistas no país vizinho.

A Aliança Anticomunista Brasileira-AAB realizou inúmeros ataques em nosso país, sendo que alguns dos alvos corresponderam ao ódio que a direita militar já manifestava em 1968: aos jornalistas, ao mundo editorial, ao clero progressista. A participação crescente de órgãos como a Associação Brasileira de Imprensa-ABI e a Ordem dos Advogados do Brasil-OAB na luta pelos direitos humanos e pelo restabelecimento da democracia termina por estigmatizá-los, aos olhos dos terroristas da AAB, como “inimigos da revolução” e, até mesmo, como se fossem comunistas. Praticou as primeiras de uma série de ações paramilitares contra entidades e cidadãos engajados na luta pela democracia que se estenderiam pelos governos de Ernesto Geisel e João Batista de Oliveira Figueiredo, e que jamais foram esclarecidos pelas autoridades de segurança; foi responsável por vários atentados a bomba em 1976, inclusive contra a ABI, OAB, o Centro Brasileiro de Análise e Planejamento-CEBRAP e, até mesmo (pasmem!) a residência do jornalista Roberto Marinho.

A AAB assumiu publicamente a autoria da destruição das dependências da ABI, com o acionamento de uma bomba, em 19 de agosto de 1976, e de outro explosivo encontrado na sede da seção carioca da OAB, mas desativado a tempo. Ninguém se feriu no atentado à ABI, embora oito pessoas estivessem no andar que foi atacado e a explosão tenha destruído completamente dois banheiros e abalado a estrutura do prédio – na tarde posterior, a Aliança Anticomunista Brasileira distribuiu panfletos assumindo a autoria. No ataque ao CEBRAP, uma bomba foi lançada contra o prédio, destruindo a biblioteca – panfletos da organização diziam: “Chegou a hora de começar a escalada contra a nova tentativa de comunização do Brasil, que está em marcha. Morte à campanha comunista! Viva o Brasil!”

A Aliança também assumiu a autoria dos seguintes atentados praticados no dia 22 de setembro de 1976:

· Sequestro e espancamento do Bispo Dom Adriano Hipólito, que foi abandonado despido e com o corpo pintado de vermelho num matagal em Jacarepaguá (seu carro foi levado, em seguida, até as proximidades da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, na Glória-RJ, e destruído numa explosão).

· Na mesma madrugada, vitimou o presidente das Organizações Globo, Roberto Marinho, com a explosão de uma bomba no telhado da sua residência, no Cosme Velho-RJ, destruindo parte do segundo andar.

Apesar de a AAB assumir a autoria desses atentados, nenhum envolvido foi identificado pelas autoridades, embora a CNBB solicitasse a investigação e punição dos culpados do caso do Bispo. Um bloco inteiro do Jornal Nacional de 23 de setembro, que seria inteiramente dedicado ao sequestro e à bomba, foi censurado, sem poder ir ao ar.

Em novembro de 1976, dia de eleições municipais em todo território nacional, a AAB realizou um atentado a bomba contra a redação do semanário Opinião, e, em 6 de dezembro de 1976, destruiu a sede da editora Civilização Brasileira.

Que sirva de exemplo para que o povo brasileiro e suas instituições impeçam o ressurgimento de organizações espúrias como a AAB, nestes tempos em que nossa pátria se encontra tão fragilizada ante manifestações a favor de atitudes golpistas, cerceadoras das liberdades democráticas da Nação.

Cruzeiro-DF, 22 de abril de 2020

SALIN SIDDARTHA

*Este artigo foi originalmente publicado, nesta data (22/4), no  Jornal Infocruzeiro