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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Américas devem melhorar acesso à saúde para afrodescendentes na pandemia

  • A COVID-19 afeta de forma desproporcional os mais vulneráveis e em particular as pessoas de descendência africana. A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, alertou para urgência em lidar com este desafio na região e disse que esta é uma prioridade para a agência. O foco da OPAS é recolher mais dados para uma prevenção e um atendimento direcionados.
  • No Brasil, a taxa de mortalidade entre negros e pardos é 1,5 vez maior do que entre os cidadãos brancos, mas, segundo a OPAS, as informações disponíveis sobre a região ainda são limitadas. 
Em novembro, a região das Américas atingiu 6 milhões de novos casos notificados.
Em novembro, a região das Américas atingiu 6 milhões de novos casos notificados.

COVID-19 afeta de forma desproporcional os mais vulneráveis e em particular as pessoas de descendência africana. A diretora da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), Carissa Etienne, alertou para urgência em lidar com este desafio na região. 

Falando a jornalistas, em Washington, a diretora da OPAS disse que esta questão é uma prioridade integrada em programas da agência, que é o braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) nas Américas.

O foco da OPAS é recolher mais dados para uma prevenção e um atendimento direcionados. Outra meta é promover a participação em programas de saúde que atendam comunidades afrodescendentes e melhorias no acesso aos serviços. 

No Brasil, a taxa de mortalidade entre negros e pardos é 1,5 vez maior do que entre os cidadãos brancos, mas, segundo a OPAS, as informações disponíveis  sobre a região ainda são limitadas. 

No caso do Equador, homens afrodescendentes têm três vezes mais probabilidade de morrer da COIVD-19 do que as mulheres. Esta população concentra mais metade da taxa de mortalidade pelo coronavírus do que homens mestiços equatorianos. 

A diretora da OPAS citou dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, indicando que um negro tem 2,6 vezes mais probabilidade de contrair o vírus e o dobro de propensão de morrer da COVID-19 do que um branco. 

Saúde materna 

A chefe da OPAS enfatizou que este tipo de disparidade não ocorre somente em relação à pandemia, mas se reflete em todo o espectro regional de saúde passando por doenças não transmissíveis e dados de saúde materna.  

Em relação às mulheres negras, elas normalmente têm maior dificuldade de acesso aos serviços de saúde que precisam. 

Cerca de 20% da população das Américas é afrodescendente. Eles são mais frequentes no Caribe e equivalem a mais da metade da população brasileira. Nos Estados Unidos representam13% da população e a cerca de 10% no Equador e no Panamá. 

O que a diretora da OPAS chamou de “racismo sistêmico” pode representar barreiras ao atendimento adequado, causar desconfiança nos profissionais de saúde e, em última análise, se refletir em piores resultados para pacientes negros em muitos países.  

Igualdade 

A chefe da OPAS realçou que a pandemia expôs esta realidade ao apelar à urgência em lidar com o desafio num contexto de igualdade racial nos Estados Unidos, no Brasil e em outros países. 

Em novembro, a região das Américas atingiu 6 milhões de novos casos notificados. Em um mês, o aumento foi de quase 30%. 

Para ela, essa alta contínua nos casos deve motivar uma ação rápida, especialmente em locais onde o número de novos infectados não foi controlado. Com o aproximar de uma futura vacina, ela lembra que medidas de saúde pública ajudaram a conter surtos anteriores como confinamento, a prática do distanciamento físico e uso de máscaras. 

Proteção e apoio 

A diretora da OPAS disse que é essencial que os afrodescendentes tenham meios para se proteger da pandemia, especialmente sistemas de proteção e apoio social necessários para aderir às medidas de saúde pública. 

A representante destacou que estes estão entre os trabalhadores essenciais que abastecem sistemas de saneamento, administram o transporte público, cuidam de idosos e doentes.  

Ela disse ainda que os empregos, muitas vezes no setor informal, tornam mais difícil trabalhar à distância, mas reafirmou a importância de cumprir o distanciamento social sempre que possível.