Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)
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domingo, 9 de março de 2025

Usaid patrocinou estudo que questiona eleições no Brasil

Domingo, 9 de março de 2025

Estudo patrocinado pela Usaid sobre eleições foi publicado em momento turbulento da história recente do Brasil. Por Eduardo Vasco

Do Monitor Mercantil
Por Redação -07:59 - 9 de março de 2025

Urna eletrônica (foto de Edilson Rodrigues, Agência Senado)

Circula em aplicativos de conversas um documento escrito por pesquisadores americanos que faz fortes e graves contestações ao sistema eleitoral brasileiro e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“O sistema de verificação do voto está ligado à máquina de votação, o que vai contra as melhores práticas internacionais.”

“Não há praticamente nenhuma forma de partidos políticos ou candidatos contestarem o resultado das eleições, principalmente devido à falta do papel impresso de verificação pelo eleitor.”

Essas são algumas das conclusões de Ben Goldsmith e Holly Ruthrauff, que lideraram o “Informe de estudo de caso sobre o voto eletrônico no Brasil: 1996 até o presente”.

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O Blog Gama Livre recomenda a leitura —e a reflexão— da íntegra da excelente e esclarecedora postagem deste domingo (9/março/2025) no site do Monitor Mercantil, sob o título: "Usaid patrocinou estudo que questiona eleições no Brasil." Clique no link e leia.

sábado, 2 de setembro de 2023

Brics+ mostra força na energia

Sábado, 2 de setembro de 2023
Países do bloco dominam lítio, terras raras e manganês, além de óleo e gás

Monitor Mercantil
1 de setembro de 2023
Fábrica de bateria lítio em Tangshan (foto de Yang Shiyao, Xinhua)

A força do Brics+ no mercado mundial de energia é incontestável. Levantamento do Center for Strategic and International Studies (CSIS) demonstra que a entrada da Argentina posicionará os Brics com 3 dos 5 maiores produtores de lítio do mundo, ao lado da China e do Brasil.

O lítio é fundamental para baterias, não só para os automóveis elétricos, cujas vendas estão se ampliando, mas para celulares, energia solar e uma variedade de outros usos.

O Brics ampliado terá 72% de terras raras (e 3 dos 5 países com as maiores reservas); 75% do manganês mundial; 50% do grafite; 28% do níquel; e 10% do cobre mundial (excluindo as reservas do Irã).

O Brics+ incluiu os países fundadores (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) mais os recém-admitidos: Arábia Saudita, Argentina, Egito, Emirados Árabes, Etiópia e Irã.

Bloqueio questionado

O Irã tem as maiores reservas de zinco do mundo e o segundo maior depósito de cobre. No entanto, o bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos impede investimentos para aumentar a produção. O Brics+ deverá suplantar essas limitações.

Dólar ainda domina, mas Brics+ vai no sentido da desdolarização

Além de reunir os maiores produtores e exportadores de óleo e gás do mundo, o Brics+ tem também 2 dos maiores importadores: China (1º) e Índia (3º) – os EUA estão em 2º. A possibilidade de o comércio de petróleo entre os países do bloco ser feito em moedas alternativas ao dólar é grande.

Isso já é feito, ainda que de forma limitada, na compra de óleo russo pelas refinarias indianas. A rúpia já é utilizada. Mas os russos acumularam grandes quantidades da moeda indiana.

Em maio, o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse que estavam em andamento negociações para trocar bilhões de rúpias acumuladas em bancos indianos por outras moedas.

A partir de junho, as refinarias indianas começaram a liquidar alguns pagamentos pelas importações de petróleo russo em yuan, a moeda chinesa, mas o dólar continua sendo dominante para tais pagamentos.

O petróleo russo representou 41,9% das importações da Índia em julho, superando os volumes acumulados dos próximos 4 grandes fornecedores – Iraque, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Estados Unidos. Antes do conflito na Ucrânia, o fornecimento russo representava menos de 2% nas importações de petróleo da Índia.

Rápidas

sexta-feira, 25 de agosto de 2023

Getúlio Vargas deixou legado que resiste a ataques antinacionais

Sexta, 25 de agosto de 2023
Oswaldo Aranha e Getulio Vargas na sacada do Palácio do Catete, 31 de outubro de 1930. Rio de Janeiro, RJ / Acervo FGV – CPDOC

Vargas criou a Petrobras e a Eletrobras: 'Meu atestado de óbito'
Por Marcos de Oliveira em 24 de agosto de 2023

Oswaldo Aranha e Getulio Vargas na sacada do Palácio do Catete, 31 de outubro de 1930. Rio de Janeiro, RJ / Acervo FGV – CPDOC

Há 69 anos, Getúlio Vargas deixava a vida para entrar na História, talvez o trecho mais famoso de sua Carta Testamento.

Nascido em São Borja (RS) em 19 de abril de 1882, o presidente Vargas cometeu suicídio em 24 de agosto de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, Rio de Janeiro, então capital federal.

Eletrobras, criada por Vargas, privatizada de forma vil

Na Carta Testamento, Getúlio deixava indicações do que levara à insidiosa campanha contra seu governo: “A Eletrobras foi obstaculizada até o desespero.” Vargas, em comício na Boca Maldita, em Curitiba, em janeiro de 1954, anunciara o decreto presidencial criando a Eletrobras, que viria a ser privatizada no governo Bolsonaro.

Em confissão ao então governador do Paraná, Bento Munhoz, Getúlio Vargas disse: “Ao assinar o decreto criando a Eletrobras, senti como se estivesse assinando meu próprio atestado de óbito.”

Para sustentar a industrialização, Vargas criou também a Petrobras, outra empresa objeto de campanhas contrárias de interesses antinacionais, tanto em 1954 quanto hoje.

A política externa foi dos pontos mais controversos da Era Vargas, e a que mais rendeu calúnias e desinformações. “Naturalmente, as forças antipatrióticas, vinculadas a interesses externos, jamais poderiam compreender o profundo sentido nacionalista assumido pelo Brasil no âmbito internacional durante a Era Vargas”, escreve Felipe Maruf Quintas, mestre e doutor em Ciência Política pela Universidade Federal Fluminense (UFF).

“Elas medem a diplomacia e a defesa brasileiras no período conforme a sua régua. Daí que enxergam adesão ao nazifascismo ou subserviência aos Estados Unidos da América (EUA), onde o que estava em jogo era apenas o interesse nacional brasileiro, ideacionalmente definido pela visão de grandeza e unidade do Brasil, e pragmaticamente conduzido pelas possibilidades disponíveis em período de alta turbulência e incerteza internacionais”, ensina Quintas.

Muitas das instituições políticas, econômicas e sociais que Vargas criou continuam a existir e seu legado pode ser visto no trabalho, na educação, na economia e na política.



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sábado, 3 de junho de 2023

‘Nada foi feito’

Sábado, 3 de junho de 2023
Bomba em posto de combustível (foto de José Cruz, ABr)

‘Nada foi feito’

Por Cláudio da Costa Oliveira*
Por Redação do Monitor Mercantil
3 de junho de 2023

Preços praticados pela Petrobras continuam acima da Paridade Internacional

O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva não é o mesmo do atual presidente da Petrobrás, Jean Paul Prates.

Durante a inauguração de prédio na Universidade Federal do ABC (SP), nesta sexta-feira (2), Lula afirmou: “Nós vamos abrasileirar o preço da gasolina. Não havia nenhuma razão para o preço do combustível no Brasil ser ligado ao preço internacional. Não havia. E ainda não foi feito tudo. Nós vamos ter que recuperar esse País.”

Já o presidente da estatal, Jean Paul Prates, anunciou, no último dia 16/5, com muita comemoração, o fim do Preço de Paridade de Importação (PPI), mas destacou que a “referência internacional vai continuar”.

O fato é que , até o momento, estamos longe do fim do PPI, pois os preços nas refinarias da Petrobrás continuam cerca de 15% acima do PPI, como mostra o site Soberano Brasil.

Para acabar com o PPI, os preços nas refinarias da Petrobrás deveriam estar abaixo desta referência.

Para “abrasileirar”, como diz o presidente Lula, os preços deveriam ser ainda mais baixos, o que é plenamente possível para a Petrobrás.

Na realidade , até agora, nada foi feito.

Cláudio da Costa Oliveira é economista da Petrobras aposentado.

O autor escreve Petrobras com acento agudo no “a”.

terça-feira, 16 de maio de 2023

A escrita, o pensamento e a presunção do Ocidente

Terça, 16 de maio de 2023
Foto: reprodução/Freepik

Do Monitor Mercantil
Por Pedro Augusto Pinho*

A escrita, o pensamento e a presunção do Ocidente

“Somos tão presunçosos que gostaríamos de ser conhecidos por toda a terra e até mesmo por pessoas que virão quando já não mais existirmos”.

“Quantas vezes sonhamos como sonhamos, empilhando um sonho em cima do outro. Não pode ser que esta metade da vida seja apenas um sonho, no qual a outra é enxertada, e da qual acordamos na morte? E durante a vida da qual temos tão poucos princípios de verdade e de bem quando dormimos o sono natural? Todo este fluir do tempo, da vida, e estes vários corpos que sentimos, estes diferentes pensamentos que nos agitam, talvez sejam apenas ilusões semelhantes, ao correr do tempo, e os vãos fantasmas dos nossos sonhos. Acreditamos ver os espaços, as figuras, os movimentos, sentimos o fluir do tempo, medimo-lo e, por fim, agimos como se estivéssemos acordados. De modo que metade da vida é passada dormindo, por nossa própria admissão ou o que quer que nos pareça. Não temos ideia da verdade, todos os nossos sentimentos são ilusões. Quem sabe se essa outra metade da vida em que pensamos estar acordados não seja outro sono um pouco diferente do primeiro” (Blaise Pascal, Pensées, texto definido por Louis Lafuma, para o Club du Meilleur Livre, Paris, 1958, volume I, Contrariétés, em tradução livre).

O Ocidente, aqui entendido como pensamento e ação europeus e do mundo colonizado pela Europa, tiveram na Grécia as bases do seu nascimento e desenvolvimento, com as questões da gênese e da razão. E foi conduzido de modo linear.

A escrita é a maneira de pensar, ou seja, o pensamento exige um idioma. E as normas deste idioma são restrições ou induzem as condições do pensar.

Isaac Asimov (The Land of Canaan, 1971, na tradução de Néstor A. Mígues para Alianza Editorial, Madrid, 1980) escreveu sobre os hebreus: “os chineses inventaram sua própria escrita, e o mesmo fizeram os Maias, da América Central”, surgido entre as avançadas culturas da Suméria e do Egito, “Canaan, a meio do caminho entre eles, floresceu”.

As diversas formas de escrever também significam diversas maneiras de pensar, e os europeus, tão logo conseguiram sair do desconfortável território da Europa, pelo clima e pelos recursos naturais, procuraram eliminar as escritas e os pensamentos diferentes dos seus pelo resto do mundo. As primeiras vítimas estavam no norte da África (Egito) e no Oriente Médio (Assírios, Sumérios e outros povos da Mesopotâmia). Os primeiros conquistadores foram os gregos, a eles seguiram os romanos.

O Oriente e a África não foram extintos, malgrado as diversas agressões e dominações, como ocorreu com os Maias. Mantiveram-se, mesmo submetidos aos povos europeus, e às suas condições do pensar.

sábado, 11 de fevereiro de 2023

Aumento de conteúdo local em plataforma geraria quase 160 mil empregos

Sábado, 11 de fevereiro de 2023
Ariovaldo Rocha, do Sinaval, com o ministro Fernando Haddad

Petrobras deve retomar encomendas movimentando indústria e serviços no Brasil.

9 De Fevereiro De 2023



A Federação Única dos Petroleiros (FUP) se soma às entidades que defendem o aumento do nível de conteúdo nacional nas encomendas feitas pela Petrobras, o que possibilita o desenvolvimento da cadeia de fornecedores de bens, serviços e de máquinas e equipamentos no Brasil. A proposta foi encaminhada pela FUP ao presidente Lula e ao presidente da estatal, Jean Paul Prates.

Atualmente, o índice de conteúdo local nas licitações de plataformas da Petrobras é de 25%. Já foi de 40% no passado. “Embora baixo, o percentual não é fácil de ser cumprido em função do modelo de licitação determinado pela empresa nos últimos anos, que, na prática, privilegiou encomendas no exterior”, afirma o coordenador-geral da FUP, Deyvid Bacelar.

Na semana passada (2), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, recebeu o Sindicato Nacional da Indústria da Construção Naval (Sinaval). O presidente da entidade, Ariovaldo Rocha, entregou ao ministro uma carta com a relação das medidas governamentais necessárias à retomada do setor, listando também os principais obstáculos que dependem de ações do governo Lula.

sábado, 21 de janeiro de 2023

Manifestações e destruição em Brasília: estamos diante do terrorismo?

Sábado, 21 de janeiro de 2023



Por André Frota*
21 De Janeiro De 2023


É oportuno analisar as definições para atos terroristas

As manifestações do dia 8 de janeiro, que culminaram na invasão dos três poderes da República, suscitaram para opinião pública o emprego do termo “terrorismo”, um fenômeno que já possui um extenso lastro internacional e uma legislação brasileira sobre o assunto. Sendo assim, é oportuno analisar as definições para o terrorismo.

A Convenção das Nações Unidas sobre o Crime de Terrorismo de 1999 define o crime de terrorismo como: “Qualquer ato de destruição grave de meios de transporte, instalações públicas, lugares históricos, monumentos, lugares de culto, objetos de interesse cultural, instituições etc.; qualquer ato de assassinato, sequestro ou qualquer outro ato de violência à pessoa, em caráter individual ou coletivo, incluindo contra funcionários públicos; e qualquer ato de violência destinado a causar pânico entre a população.”

O Estatuto de Roma de 2002, que é a lei que estabeleceu o Tribunal Penal Internacional, apresenta o terrorismo como “atos cometidos com o intuito de causar morte ou lesões graves à pessoa, dano grave à propriedade, destruição de objetos de interesse cultural, ou atos prejudiciais à saúde ou à segurança do público, com intuito de intimidar uma população civil, ou de influenciar as autoridades públicas para alcançar metas políticas, ideológicas ou religiosas”. Diz ainda que são “crimes cometidos com a intenção de causar dano as estruturas fundamentais de uma nação ou organização internacional”.

Como se pode notar, as definições internacionais apresentam uma abrangência ampla sobre o assunto e, com um certo grau de adequação, permitem classificar as manifestações de Brasília como terrorismo.

E o que diz a lei brasileira? A Lei de número 13.260 de março de 2016, que reformula o conceito de organização terrorista, assim como disciplina o inciso XLIII do artigo 5º da Constituição, exclui da aplicação de atividade terrorista “à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais, sindicais, religiosos, de classe ou de categoria profissional, direcionados por propósitos sociais ou reivindicatórios, viando a contestar, criticar, protestar ou apoiar, com o objetivo de defender direitos, garantias e liberdades constitucionais, sem prejuízo da tipificação penal contida em lei”.

A lei brasileira, assinada pela ex-presidenta do Brasil, Dilma Roussef, tomou cuidado de retirar movimentos sociais e manifestações políticas da categoria de terrorismo, como forma de proteger a legitimidade dessas expressões sociais, presentes na sociedade brasileira. No entanto, a proteção de manifestações políticas não se estende, nem da legitimidade ao emprego da violência ou do terror social para conquista de objetivos políticos. E é precisamente quando se cruza o limite com o uso da violência e do terror, como métodos de ação social, que a proteção estabelecida pela lei de 2016 deixa de se aplicar.

Em vias de finalização, compartilho um conjunto de condições encontrado nos grupos e nas atividades terroristas estabelecidos no mundo, extraídas do estudo feito pelo cientista político Alex P. Schmid, e deixo o leitor tirar suas próprias conclusões, relacionando a pergunta: os atos do dia 8 de janeiro, em Brasília, empregaram:

  • O uso demonstrativo da violência contra seres humanos;
  • A ameaça (condicional) de (mais) violência;
  • Produziram deliberadamente terror/medo em um grupo-alvo;
  • Alvejaram civis, não combatentes e inocentes;
  • Tinham a finalidade de intimidação, coerção e/ou propaganda;
  • Tinham como fato de ser um método, tática ou estratégia de conflito contínua;
  • Comunicaram o(s) ato(s) de violência para audiências maiores;
  • Foram de natureza ilegal, criminosa e imoral do(s) ato(s) de violência;
  • Tinham caráter predominantemente político;
  • Usaram como ferramenta de guerra psicológica para mobilizar ou imobilizar setores do público;
Enfim, o conjunto de itens da lista acima indica o quão próximo ou distante, estivemos ou ainda estamos, de atos terroristas.


*André Frota é professor de Relações Internacionais e Geociências do Centro Universitário Internacional — Uninter.

domingo, 15 de janeiro de 2023

Operações compromissadas travam economia e elevam juros

Domingo, 15 de janeiro de 2023
Operações compromissadas travam economia e elevam juros

Monica De Bolle e Auditoria Cidadã atacam déficit nominal.

13 De Janeiro De 2023

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, começou bem ao jogar o enfoque da discussão sobre o déficit nominal, aplaude a economista Monica De Bolle. “No Brasil é prática ocultar as despesas financeiras e seus desdobramentos patrimonialistas enfatizando sempre o resultado primário do governo”, enfatiza De Bolle em artigo publicado em seu blog.

A economista critica a confusão entre a política fiscal e a monetária provocado pelo uso desenfreado de operações compromissadas, que utilizadas pelo Banco Central para regular a quantidade de moeda nos mercados (liquidez), se valendo dos títulos públicos que a autarquia tem em carteira.

“É costume no Brasil ver compromissadas no valor de trilhões diariamente durante certos períodos. Volumes dessa natureza são uma idiossincrasia brasileira que obrigam o BC a reter um imenso estoque de títulos públicos. Esses títulos públicos são tratados como dívida pública, embora não o sejam no estrito senso de suas funções”, explica.

A crítica vai na direção do que vem denunciando há anos Maria Lucia Fattorelli, coordenadora nacional da Auditoria Cidadã da Dívida (ACD). Em artigo publicado pelo Monitor Mercantil, Fattorelli afirma que essas operações compromissadas representaram um custo de quase R$ 3 trilhões em 10 anos aos cofres públicos.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2022

Reflexões para Teoria do Estado Nacional — Considerações finais: Estado

Quinta, 15 de dezembro de 2022



Reflexões para Teoria do Estado Nacional — Considerações finais: Estado

*Por Felipe Quintas e Pedro Augusto Pinho.


Nação somente será algo e terá lugar ao sol se for ela mesma

A unidade nacional é inegociável. Da mesma forma que a soberania é indivisível, o Estado-nação também. O separatismo é o maior crime que pode ser cometido contra a Nação. Contra ele não há perdão, pois quem mutila o corpo nacional atenta contra o pressuposto da existência de todos. O separatismo é a extinção da nacionalidade e da cidadania, é o ocaso do que define os compatriotas enquanto seres sociais e, portanto, como seres humanos.

O separatismo é o grau mais pernicioso de terrorismo, pois é um golpe de morte voltado não contra um grupo específico, mas contra toda a Nação em toda a sua temporalidade: contra todos aqueles que a vivem presentemente, contra todos que a construíram no passado e contra todos que estão destinados a herdá-la futuramente.

O separatismo é a violação dos preceitos sagrados que definem a Nação e, assim, constitui crime contra a Eternidade. A transigência com o separatismo é tão criminosa quanto o próprio, pois significa colaborar com a extinção do bem político maior, com a agressão terrorista ao lar comum. Contra o separatismo, porém, não é válido incorrer no erro do centralismo, que, ainda que menos grave, pode acarretar em consequências fatais, como levar água ao moinho do separatismo.

A excessiva centralização dos processos políticos na capital ou em outro lugar, num país continental como o Brasil, pode ser considerada uma espécie de tirania, pois submete a maior parte do país a um único ponto de comando, que assume, perante a maior parte do país, não uma posição de centro nacional, mas de metrópole em relação a suas colônias. O centralismo constitui a colonização interna e, portanto, esgarça os laços de solidariedade nacional, induzindo as demais regiões e a maior parte da população a se sentirem alijadas da política e a buscarem, pelo separatismo, o reconhecimento que o poder centralista lhes usurpou.

A importância do pacto federativo, num país continental como o Brasil, reside em conciliar as inevitáveis diversidades regionais com a necessária unidade nacional, sem a qual as diferentes partes do país perderiam a si próprias na medida em que perderiam a essência profunda da brasilidade que as une.

A organização central do Estado-nação deve ser suficientemente forte para aglutinar os distintos interesses locais em um mesmo sentido histórico nacional, o que implica balanceá-los e incorporá-los como parceiros de projetos e empreendimentos.


O Brasil é por natureza um Império, o que não quer dizer monarquia e, muito menos, imperialista

Somente um poder nacional unificado, sólido e coeso permite alcançar esse equilíbrio. Nas condições do Brasil, o poder nacional assume magnitude imperial, no sentido de estabelecer, por um centro coordenador, uma universalidade abrangente de distintas realidades que se coadunam numa unidade política e espiritual, física e metafísica.

O Brasil, como sabia José Bonifácio de Andrada e Silva, Patriarca da Independência, não era apenas um país como qualquer outro, mas o Império dos Trópicos, portador de uma civilização autóctone, capaz de definir suas próprias chaves interpretativas, mentalidades e modos de ser e de viver.

O Brasil é por natureza um Império, o que não quer dizer monarquia e, muito menos, imperialista. Sendo um Império, subsiste em si mesmo, sem a necessidade e a predileção por dominar outros povos.

segunda-feira, 28 de novembro de 2022

Refinaria privatizada: seguro é até 10 vezes maior que valor de venda de ativos

Segunda, 28 de novembro de 2022


Refinaria privatizada: seguro é até 10 vezes maior que valor de venda de ativos

Diferença confirma desinvestimento a preço aviltado

28 De Novembro De 2022

Os valores contratados pela Petrobras para a renovação, por 18 meses, do seguro de riscos operacionais de refinarias privatizadas no governo Bolsonaro superaram em até 10 vezes os preços de venda desses ativos. É o caso da Unidade de Industrialização do Xisto (Six, no Paraná), da refinaria Landulpho Alves (Rlam, na Bahia) e da Isaac Sabbá (Reman, no Amazonas). Esta última está em fase de conclusão da operação de desinvestimento, prevista para o próximo dia 30.

O valor da renovação do seguro da Reman, avaliado e definido pela Petrobras e seguradoras, para vigência entre 30 de novembro de 2022 e 31 de maio de 2024, é de US$ 820,8 milhões, muito acima do preço de venda da usina, de US$ 189 milhões. Na Six, o seguro renovado foi de US$ 418,8 milhões, 10 vezes mais que o valor de venda da unidade, US$ 41,6 milhões, à empresa Forbes & Manhattan Resources Inc. Já a Rlam, cuja apólice de seguro ficou em US$ 9,6 bilhões – sem incluir os ativos logísticos da refinaria -, foi vendida ao fundo árabe Mubadala por US$ 1,6 bilhão, com a infraestrutura de transportes da unidade.

A discrepância entre os valores segurados e os de venda das refinarias da Petrobras levou a Associação Nacional dos Petroleiros Acionistas Minoritários da Petrobras (Anapetro) a acionar o Ministério Público (MP) do Tribunal de Contas da União (TCU), na última sexta-feira, 25, “para que proceda a abertura de inquérito a fim de avaliar a desproporcionalidade dos valores apurados” destaca o presidente da Anapetro, Mário Dal Zot.

O requerimento encaminhado ao TCU observa que “comparando-se o valor de venda da SIX com o montante correspondente pela avaliação na renovação da apólice de seguro de riscos operacionais, tem-se uma diferença que equivale a aproximadamente 10 vezes o valor pago pela aquisição da refinaria. A diferença astronômica é de ser questionada pelo Tribunal de Contas da União, uma vez que há fortes suspeitas de dilapidação do patrimônio público, dado que a controladora da Petrobras é a União”.

A questão será levada pela Anapetro nesta segunda-feira, 28, à coordenação do governo de transição, para que a informação conste do relatório de diagnósticos do grupo de trabalho de Minas e Energia. Será encaminhada também a bancadas parlamentares do Congresso Nacional.

As três refinarias fazem parte de uma lista de centenas de unidades da Petrobras cobertas por seguro. A relação inclui ativos já privatizados e cujas apólices foram renovadas por 18 meses antes da conclusão da venda ao setor privado, e outros ativos que se mantêm sob o controle estatal.

O preço de venda da Reman, Six e Rlam sempre foi contestado pela Anapetro e Federação Única dos Petroleiros (FUP). Os dados dos valores das apólices de seguro colocaram mais lenha na fogueira dos protestos dos petroleiros.

“As privatizações com preços aviltados, abaixo do mercado, ficaram ainda mais flagrantes diante dos altos valores de avaliação dos ativos da Petrobras feita durante a renovação dos seguros” afirma Dal Zot. Para ele, existem dois movimentos combinados, ambos lesivos à União, e que precisam ser investigados pelo Ministério Público: “Preço de venda subestimado e valor de seguro superestimado”.

O presidente da Anapetro chama a atenção para a situação da Reman, cujo processo de venda à Atem Distribuidora de Petróleo está em fase de conclusão e, segundo Dal Zot, mais do que nunca precisa ser revertido diante das discrepâncias de valores. O preço negociado pela Petrobras para a venda da Reman foi cerca de 70% do valor estimado pelo Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), que apontava para um mínimo, pelo câmbio mais elevado deste ano, de US$ 279 milhões. Enquanto isso, a renovação da apólice de seguro da refinaria de Manaus custou quatro vezes mais que o valor efetivo de venda da empresa.

No caso da Rlam, vendida no final do ano passado, o valor negociado foi cerca de 50% abaixo do preço mínimo estimado pelo Ineep e também inferior ao projetado por bancos de investimentos como BTG Pactual e XP. “O valor pago pela venda da Rlam e seus ativos logísticos equivale ao valor segurado apenas dos terminais portuários. Ou seja, levaram a refinaria de brinde”, diz o presidente da Anapetro.




sábado, 12 de novembro de 2022

Saúde: 9% do PIB é destinado ao setor privado, enquanto 4% ao SUS

Sábado, 12 de novembro de 2022

Sistema público está subfinanciado pelo governo.

11 De Novembro De 2022

“Nove por cento do PIB brasileiro está destinado ao setor privado, enquanto 4% ao público. O investimento federal, que gira em torno de R$ 260 milhões, tem que dar conta de 212 milhões de usuários, enquanto o setor privado atende menos com mais”. As afirmações foram do médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP), Gonzalo Vecina, que participou de um debate nesta sexta-feira, no congresso da saúde, Conahp 2022.

Na ocasião, Vecina criticou a verba destinada ao sistema, que é muito menor do que para a saúde suplementar quando comparada a países com ou sem sistemas universais.

Adriano Massuda, professor da FGV- EAESP, que já foi secretário municipal de Saúde de Curitiba-PR e secretário-executivo substituto e secretário de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos no Ministério da Saúde, e que participou da mesa, concordou com Vecina sobre a falta de financiamento e ressaltou que os municípios acabam sendo os mais abalados, uma vez que ali acontece a compra de insumos e o pagamento da folha de colaboradores. Ele ainda mencionou o subfinanciamento fazendo uma analogia com países europeus. “Lá, de cada R$ 10, R$ 7 ou R$ 9 vão para a saúde pública, aqui esse número não passa de R$ 4.”

sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Dividendos que Petrobras vai pagar dariam para finalizar Comperj e outras refinarias

Sexta, 4 de novembro de 2022
Estatal aprova adiantamento de mais de R$ 40 bilhões

Publicado em 3 de novembro de 2022

O Conselho de Administração da Petrobras, em reunião realizada nesta quinta-feira, aprovou o pagamento de distribuição de dividendos no valor de R$ 3,3489 por ação preferencial e ordinária em circulação. O volume de dividendos chega a R$ 43,7 bilhões, ou cerca de US$ 8,6 bilhões, relativos à antecipação da distribuição dos resultados do terceiro trimestre.

A Federarão Única dos Petroleiros (FUP) e a Anapetro – associação que representa os petroleiros acionistas minoritários da Petrobras – anunciaram que vão entrar com ação judicial contra a gestão da empresa e seus conselheiros.

Segundo a FUP, o total de dividendos do ano chegará a quase R$ 180 bilhões, enquanto os investimentos realizados pela estatal em 2022, até junho, somam apenas R$ 17 bilhões, conforme relatórios financeiros da empresa.

quarta-feira, 7 de setembro de 2022

Nas comemorações da Independência, governos contra o Brasil

Quarta, 7 de setembro de 2022



Nas comemorações da Independência, governos contra o Brasil

‘Nacionalistas’ que jogam contra a Pátria.
Setembro De 2022

Por uma peça pregada pelo destino, tanto as comemorações dos 150 anos de Independência, quanto as dos 200 anos tiveram à frente governos que tornaram o Brasil mais dependente. No Sesquicentenário, estava no poder um governo militar, obra de um golpe dado com apoio dos Estados Unidos. Ainda que algumas ações nacionalistas tenham ocorrido no período da ditadura, o marcante foi o endividamento externo brasileiro, porta de entrada para o domínio da economia pelo setor financeiro.

No Bicentenário, temos um governo de direita escolhido em uma eleição em que o principal candidato foi impedido de competir. Um governo que fala em Brasil acima de tudo, mas que entrega o patrimônio estratégico do País para os estrangeiros, que tem ojeriza à cultura nacional e que hipoteca o futuro destruindo a pesquisa e a educação.


Exemplo pela metade

Presidente em exercício da Federação Nacional das Escolas Particulares (Fenep), Amábile Pacios, em artigo publicado nesta terça-feira em um jornalão, afirma que “o Brasil gasta, por aluno, mais que a média de países que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), mas os resultados ofertados à população ficam muito aquém de países que investem menos, o que comprova a ineficiência de gastos”.

A afirmação é questionável, mas não é intenção discutir isso. Vale comentar o que Pacios defende em seguida: “Para ampliar a capacidade produtiva de faculdades, centros universitários e universidades e aumentar o retorno dos recursos para a sociedade, é preciso destinar recursos públicos a pesquisas também para as instituições de ensino particulares.”

Nada contra a parceria entre setor público e privado. Mas, nos países que a presidente da Fenep considera eficientes, as universidades particulares, além de contar com recursos públicos, financiam seus investimentos com recursos das mensalidades, parcerias com empresas ou então fundos bilionários deixados por ricaços que desejam manter o status quo e evitar pagar impostos sobre herança. No Brasil, nenhuma das 3 fórmulas “pegaram”.

segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Para economista, vivemos a apropriação financeira por parasitas

Segunda, 5 de setembro de 2022

Brasil produz 3,7 kg de grão por pessoa por dia, mas privilegia a exportação.


Redação
5 De Setembro De 2022
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Do Monitor Mercantil
“Quando você ganha um monte de dinheiro fazendo especulação sem produzir nada e ainda por cima não paga imposto, sinceramente não tem como funcionar”. A afirmação é do economista e professor titular de pós-graduação da PUC/SP, Ladislau Dowbor, no painel “Tributar os Super-Ricos e o Capital Improdutivo”, que foi transmitido na última quinta-feira. A live faz parte da série de diálogos “Que os super-ricos paguem a conta”, da Campanha Tributar os Super-Ricos e entidades parceiras.

Coordenadora do painel, a vice-presidente do Instituto Justiça Fiscal (IJF), Maria Regina Paiva Duarte, enumerou as propostas apresentadas no Congresso pela campanha Tributar os Super-Ricos, como corrigir as distorções da tabela do Imposto de Renda e instituir o Imposto sobre Grandes Fortunas. “As eleições são uma oportunidade para impulsionar o debate sobre esse tema crucial. Cada um pode contribuir com essa mudança condicionando seu voto a quem defende a redução da igualdade com justiça fiscal”, pontuou a dirigente.

Para o economista, a tragédia da desigualdade no Brasil não é resultado de falta de recursos, mas das decisões políticas. O PIB de 2021 foi de R$ 8,7 trilhões. Dividir esse valor pela população do país dá R$ 13 mil por mês por família de quatro pessoas, contabiliza. “Dá para todo mundo viver de forma digna e confortável, bastando reduzir a desigualdade moderadamente. A desigualdade se aprofundou num país relativamente bem-sucedido. É uma escolha política fazer isso”, pontua.

Endividamento alcança 8 de 10 lares do Brasil

Segunda, 5 de setembro de 2022


Inflação em nível ainda elevado desafia o poder de compra.
5 De Setembro De 2022

Do Monitor Mercantil
Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic), apurada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) e divulgada nesta segunda-feira revela que o percentual de famílias que relataram ter dívidas a vencer (cheque pré-datado, cartão de crédito, cheque especial, carnê de loja, crédito consignado, empréstimo pessoal, prestação de carro e de casa) atingiu 79% do total de lares no país, em agosto. O crescimento da proporção de endividados acelerou na passagem mensal, com aumento de 1 ponto percentual. Em relação a agosto do ano passado, a proporção de endividados apontou alta de 6,1 p.p.

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Orçamento secreto: integrantes do Centrão recebem 1,5 vezes mais

Terça, 30 de agosto de 2022
Congresso Nacional (foto de Claudio Marcio)


Jair Bolsonaro encerrou 2019, seu primeiro ano de mandato, com uma taxa de sucesso legislativo de apenas 31% – a menor taxa observada desde 1989, conforme dados divulgados pelo Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB). O distanciamento da “velha política” durou pouco. Em 2020, além de distribuir o comando e cargos no interior dos ministérios para partidos e parlamentares pertencentes ao Centrão, Bolsonaro recriou a modalidade das emendas orçamentárias do relator-geral, conhecidas como emendas RP9.

As RP9 estiveram no centro do escândalo conhecido como Anões do Orçamento, de 1993. Assim como acontecia até 1995, o relator-geral da LOA ganhou o poder de alocar recursos de forma ilimitada e sem necessidade de autorização prévia do Poder Executivo ou do Poder Legislativo. Essas emendas compõem hoje o elemento central do chamado Orçamento Secreto. Em 2023, serão R$ 19 bilhões para a execução dessas emendas. O valor equivale à soma dos reservados para a liberação das emendas individuais e de bancada, segundo o OLB.

Somente 66,7% dos deputados federais cumpriram a determinação de revelar quanto receberam e como foram utilizados os recursos. Dos quase R$ 30 bilhões aprovados para essa modalidade de emenda, apenas R$ 10,9 bilhões foram até agora mapeados e identificados.

sexta-feira, 15 de julho de 2022

Protestos derrubam governos mundo afora

Sexta, 15 de julho de 2022
Panamá

Protestos derrubam governos mundo afora

É o resultado do estrago causado pelo imperialismo financeiro em crise.

Do Monitor Mercantil
15 De Julho De 2022

Manifestações se sucedem no mundo. No Sri Lanka, o presidente fugiu pela porta dos fundos; no Equador, conseguiu-se chegar a um frágil acordo; na Holanda, o movimento dos produtores rurais cresce a cada protesto; fazendeiros alemães começam a se mobilizar; agora, chegou a vez do Panamá (foto acima), em que o governo foi obrigado a congelar alguns preços da cesta básica e reduzir o dos combustíveis. São apenas alguns exemplos.

Alguns governos foram obrigados a renunciar, casos do Reino Unido, da Bulgária e, nesta quinta-feira, da Itália. Outros foram fragorosamente derrotados nas urnas.

A crise econômica e humanitária está varrendo governos mundo afora, turbinada pela concentração de renda nunca vista. Governantes que seguem amarrados aos desígnios do sistema financeiro mundial são contestados. Alternativas ao colapso econômico ainda são incipientes, mas ficam mais fortes à medida que o abismo se aproxima.

quinta-feira, 14 de julho de 2022

Reflexões para Teoria do Estado Nacional: questão nacional após 1822

Quinta, 14 de julho de 2022

Fonte: AEPET, com informações do Monitor Mercantil

Escrito por:
Felipe Quintas e Pedro Pinho

Quando tivemos a aristocracia, a burguesia e o povo

“Bicho-papão, mateus de reisado e meganha eram os mais alucinantes personagens de minha infância. Essas medonhas figuras, folclóricas ou reais, me provocavam delirantes pesadelos. Mas, na pré-adolescência, final dos anos 1950, outros seres abomináveis passaram a ocupar meu terrificante imaginário. Foi quando assisti aos primeiros faroestes cujos enredos enfocavam a campanha do lendário General Custer contra os índios sioux. A partir de então, Cavalo Louco, o chefe sioux, e seus pavorosos selvagens invadiram minhas oníricas aventuras, ameaçando rasgar meu peito e rachar meu crânio com suas apavorantes machadinhas. Felizmente, na hora agá, sempre aparecia a Sétima Cavalaria, tendo à frente um bravo corneteiro executando o toque de avançar, e a tropa me salvava daquelas desalmadas criaturas” (Fernando Soares Campos, Sioux, tupiniquins e caetés, em Fronteiras da Realidade, 2018).

Todo modelo de poder se faz presente por uma forma de dominação. Há, no entanto, uma condição que todos os poderes buscam controlar: a mente dos que lhe estão sujeitos. Quando o poder é de ordem ideológica, mais forte ainda se dá a pedagogia colonial. A Idade Média europeia, como vimos no início desta série, embora com ações até antagônicas, um manto teísta deu unidade ao período, quer no mundo católico quer no islâmico, contrastando com o “materialista” do chinês confuciano e mesmo com o mitológico greco-romano.

A pedagogia colonial não se limita ao ensinamento, mas aos comportamentos e hábitos que as pessoas passam a considerar corretas e naturais. Os cheiros, os sabores, as afeições são os primeiros passos da pedagogia colonial que se seguem com as imitações e os aprendizados, formais escolares ou pelas mídias, pela publicidade e pelas modas.

Fomos educados para enaltecer o estrangeiro, o colonizador, e depreciar o nacional. Quatro séculos de escravidão no Brasil muito contribuíram para a pedagogia colonial, criando a separação entre os que podem e os que não podem, os que têm e os que não têm, levando ao ponto culminante da pedagogia colonial: pensar como os que detêm o poder, mesmo com imensos prejuízos materiais, morais e psicológicos.

A questão nacional após 1822, isto é, no Brasil Independente, defende e luta pelo Brasil soberano, pela autonomia da administração brasileira: a estrutura e o modo de gestão condizente com o interesse nacional. Daí decorre a prioridade da questão nacional sobre todas as demais que, sendo importantes, não sobrevivem no país colônia, como as denominadas identitárias, e nem mesmo as com mínimo atendimento do social, como a manutenção do poder de compra dos salários.

Barbosa Lima Sobrinho constata que a preocupação de Adam Smith a respeito da riqueza das nações “foi de certo modo afastada quando a Economia Política passou a interessar-se pela política dos ricos” e “foi então que se começou a pensar que o desenvolvimento econômico, em vez de ser uma etapa inevitável no caminho de qualquer nação, era antes uma exceção”.

E este grande homem público brasileiro, citando Benjamin Higgins (Economic Development, 1924) diz que “a estagnação é a regra, e o desenvolvimento econômico, a exceção” (Barbosa Lima Sobrinho, “O enfoque histórico do desenvolvimento econômico”, em Em Defesa do Interesse Nacional – Desinformação e Alienação do Patrimônio Público, Paz e Terra, RJ, 1994).

Porém, no mundo após a II Grande Guerra, o espaço de colonização política foi se estreitando enquanto avançava a colonização econômica, tecnológica, sempre ampliando a pedagogia colonial, a colonização do conhecimento, dos entendimentos.

Engenheiro e gerente da Petróleo Brasileiro S.A. – Petrobrás, José Fantini (“Abertura ou fechamento do setor petrolífero”, também em Em Defesa do Interesse Nacional – Desinformação e Alienação do Patrimônio Público) demonstra a vulnerabilidade das empresas privadas de petróleo, a começar pelas poucas reservas de hidrocarbonetos que disponham, em 1992. Enquanto as mais modestas, as de menor volume de reservas, entre as empresas estatais de petróleo, tinham reservas para 12 ou 13 anos de consumo, estes 11 e 12 anos eram os melhores desempenhos entre as maiores companhias privadas. E, acentuava o superintendente de Planejamento da Petrobrás, “não existe, no mundo, qualquer grande empresa de petróleo que não seja verticalizada, com atuação em todos os segmentos do negócio e de forma integrada”.

Buscou-se entender que, entre a aristocracia, os verdadeiros donos do poder, desvinculados da necessidade dos povos, e o próprio povo, surgia a burguesia, com características nacionais, onde desenvolver-se-ia a cultura própria – formas e estruturas de governo e de administração – e este fenômeno, comum a todas as sociedades, constituiria o padrão dos países ocidentais.

Vejamos o Brasil Independente. Quem era a elite, esta aristocracia no poder? A mesma do Brasil Colônia, com os mesmos olhos e interesses no exterior, devedora de banqueiros ingleses, ruralistas, donos de terras, rentistas, que conduziam as ações do Estado apenas para seus interesses. Tinham mais argúcia do que conhecimento, e este, quando existia, tinha formação em realidades distintas da brasileira, prevaleciam o eruditismo, no lugar do saber, e a alienação, até o desprezo, quiçá escárnio pelo País.

Assim viveu-se no Império, tendo o único movimento nacionalista se constituído com pensamento estrangeiro, francês, localizado no Rio Grande do Sul, o positivismo gaúcho.

Porém, embora tivesse vida mais longa do que outras manifestações, graças aos governos de Getúlio Vargas e dos generais gaúchos, Emilio Médici e Ernesto Geisel, no período dos governos militares, não chegou a formar um partido político que tivesse esta ideologia como seu ideal de poder e fosse objeto de divulgação, de campanha eleitoral, para formar a classe que lutasse pelo triunfo e manutenção deste poder.

Luiz Roberto Pecoits Targa (Gaúchos e Paulistas na Construção do Brasil Moderno, Mottironi Editore, Torres, 2020) analisa que “a trajetória histórica particular do Rio Grande do Sul se deve a um longo período de autonomia que a formação meridional teve no passado em relação à formação histórica do Brasil e, por extensão, à de São Paulo. Esta hipótese constitui um questionamento da tese defendida por uma parte importante da historiografia econômica brasileira que situa a integração do mercado interno brasileiro nos anos 1930”. “Nós pensamos, ao contrário, que, do ponto de vista da economia gaúcha, a verdadeira unificação da história econômica e política do Brasil teve lugar somente após a integração de seu mercado interno, capitalista e industrial, na segunda metade de 1960”.

Sempre houve o cuidado de impedir a fragmentação do território brasileiro como ocorreu nas antigas colônias sul-americanas espanholas. Daí surgiu a ideia político-histórica do centro-periferia, que apagou as histórias regionais sempre que desconvinham deste embate.

Pecoits Targa alinha cinco “hipóteses de trabalho” para sua análise da especificidade gaúcha:

“1. No período de transição para o capitalismo, diferentemente da sociedade paulista, a sociedade meridional abrigava uma terceira camada social. Sua existência levou à cisão da classe dominante e à formação de dois projetos antagônicos para o futuro do Rio Grande do Sul.

2. Os grupos políticos que apoiavam estes dois projetos se enfrentaram numa Guerra Civil que foi o momento mais violento da revolução burguesa no Rio Grande do Sul (e no Brasil).

3. Para se consolidar e se reproduzir no poder, o grupo vitorioso precisou mudar sua forma de dominação (de Estado) sobre a sociedade então em vigor. De uma forma tradicional, ela assumiu uma forma racional-legal. Isso não ocorreu em São Paulo.

4. A diversidade de formações socioeconômicas em São Paulo e no Rio Grande do Sul levou à criação de duas economias capitalistas muito diversas entre si no período de transição do sistema escravista para o sistema capitalista (1889-1930).

5. A forma adquirida pelo Estado no Sul e suas relações com a sociedade meridional durante os 37 anos que o grupo político de positivistas esteve no poder lançaram as bases do Estado Desenvolvimentista Brasileiro (1930-1990).”

Usando expressão do também historiador gaúcho Luiz Carlos Barbosa Lessa (Nova História do Brasil, 1967), o sistema burguês ocorre quando a “economia de consumo” salta para “economia de produção”. Há a tendência de entender a transformação da sociedade pós 1789 de aristocrática, presa à descendência, resquício da medieval, para burguesa, voltada então para a nacionalidade.

Porém quando tivemos a aristocracia, a burguesia e o povo? Certamente não foram nos anos da escravidão legal, e, arriscamos a compreensão que nunca antes do trabalho participar do interesse do Estado Nacional Brasileiro, que se dá em novembro de 1930, com a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio.

Houve um modelo apaziguador das contradições, encontrado pelo clero católico, a Encíclica “Rerum Novarum”, do Papa Leão XIII, em 15 de maio de 1891, apenas dois anos após a Proclamação da República.

Mas que poder prevalecia no Brasil? Barbosa Lessa trata do poder que se instala entre a renúncia de Pedro I e a antecipada maioridade de Pedro II. No Maranhão e Pará buscavam as melhores condições para as “drogas amazônicas”, em Pernambuco e Alagoas para o açúcar, no Rio de Janeiro e São Paulo, o café, e no Rio Grande do Sul, a pastoril e para a cultura de cereais, ou seja, repetindo a tendência do subcontinente a fragmentação em republiquetas. No entanto, independentemente da área de produção econômica, o poder é o da aristocracia rural. E no fim do século, com a República, o mesmo, apenas com a representação paulista de Campos Sales.

Maria Auxiliadora Guzzo de Decca (Indústria, Trabalho e Cotidiano Brasil – 1889 a 1930, 1991) é adepta da expansão “dos lucros obtidos com o café permitirem a aplicação do capital não só na agricultura, mas no comércio, na indústria e nas finanças”.

Para sustentar este entendimento, apresenta a estatística de meados da década de 1920, quando o “mundo do trabalho”, na cidade de São Paulo, contava com 203.736 operários e 55 mil trabalhadores autônomos: “pedreiros, carpinteiros, pintores, eletricistas, motoristas, carroceiros e condutores de veículos de tração animal e jornaleiros em geral”. E conclui que, “como na Europa”, apenas defasada no tempo, a industrialização no Brasil “representou a transformação do processo de trabalho por relações capitalistas de produção”, “o trabalho e o trabalhador passaram a estar mais sujeitos ao capital e ao capitalista”.

A complexidade da Questão Nacional no Brasil, ao longo do século 20, e as permanentes contestações à construção do País Soberano exigirão artigo específico, que seguir-se-á a este.

Felipe Maruf Quintas é cientista político.

Pedro Augusto Pinho é administrador aposentado.