Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Cairo: um exemplo a não ser seguido por Brasília

Quinta, 4 de novembro de 2021
Do Blog Brasília, por Chico Sant'Anna

[Clique na imagem abaixo para melhor visualizá-la]
Pirâmides ontem e hoje.

Na década de 1920, a capital egípcia era cortada por grandes avenidas, boulevares, bondes elétricos, calçadões, cafés vida bucólica à margem do Rio Nilo. Apesar de ser uma zona desértica, o verde se fazia presente, graças ao rio que a atravessa. A “Paris da África” se transformou em algo abominável, a ponto de a única solução do governo foi construir uma nova capital, como relatamos na coluna da semana passada.

Por Chico Sant’Anna

Na década de 1920, a capital egípcia era cortada por grandes avenidas, boulevares, bondes elétricos, calçadões, cafés, vida bucólica à margem do Rio Nilo. Apesar de ser uma zona desértica, o verde se fazia presente, graças ao rio que a atravessa. De lá pra cá, a opção governamental foi investir em viadutos, elevados, autopistas. Privilegiou-se o rodoviarismo, o transporte individual, deixou-se de lado as soluções coletivas de mobilidade urbana.

Lá, praticamente, não há transporte coletivo em ônibus. Um vespeiro de lotações domina a cidade. É difícil saber como os passageiros se orientam, pois essas vans – muitas importadas de segunda-mão de países europeus – não possuem numeração, identificação de destino ou itinerário. Também não há na cidade, paradas de ônibus demarcadas. Em qualquer esquina, as lotações pegam ou deixam seus passageiros. Também não há linhas de VLT – os bondes elétricos – a exemplo do que existe na vizinha Alexandria.

O Planeta está cheio de bons e maus exemplos de práticas de planejamento urbano. Todas são úteis para momentos como o que vivemos em Brasília com a elaboração de uma nova lei de Uso e Ocupação do Solo – Luos e de um novo Plano de Plano Diretor de Ordenamento Territorial – Pdot. Dentre as experiências urbanas alhures, a do Cairo é uma que pode nos ensinar a evitar determinadas iniciativas. Em menos de um século, devido à falta de planejamento adequado, da falta de investimento em mobilidade urbana, de se deixar levar pela especulação imobiliária, de fechar os olhos à expansão urbana selvagem sobre todos os espaços vazios, a “Paris da África” se transformou em algo abominável, a ponto de a única solução do governo foi construir uma nova capital, como relatamos na coluna da semana passada.

Sobre a nova capital do Egito, leia mais aqui:

O metrô do Cairo data da década de 1980 e é o mais antigo em toda África. São três linhas, que formam uma rede de 88,5 quilômetros, por onde passam 2,5 milhões de passageiros/dia. Parece muito, mas os usuários representam apenas 10% da população da megalópole formada pela conurbação Cairo, Gizé e Shubra El-Kheima. Até 2050, ela deve passar dos 40 milhões. A expansão urbana é tão violenta, que as moradias e estabelecimentos comerciais chegam ao quintal do sitio arqueológico das Pirâmides de Gizé.