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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 5 de março de 2014

Filhos de Gandhy faz 65 anos de paz e alfazema no carnaval da Bahia

Quarta, 5 de fevereiro de 2014
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por Noemi Flores
Tribuna da Bahia

Foto: Turismobahia
O afoxé Filhos de Gandhy: 6 mil foliões
O afoxé Filhos de Gandhy: 6 mil foliões

   Não são 65 dias, mas 65 anos de tradição que encantaram os olhos de quem viu a passagem na avenida, tanto do Circuito Osmar (Campo Grande) como Dodô (Barra/Ondina)  do tapete branco: Afoxé Filhos de Gandhy, com mais de seis mil componentes desfilando ao som do ijexá.
   E como reza a tradição, desde os primórdios do bloco, fundado por trabalhadores da estiva, em sua maioria afrodescendentes que  cultuavam o candomblé, no primeiro dia de desfile, antes de saírem tem que fazer o ritual “padê”, no Largo do Pelourinho, próximo à sede.
   Como explica o presidente da agremiação, Aguinaldo Silva, trata-se de um ritual aos orixás, na qual pedem a Exu permissão, oferecendo  alimentos e bebidas, com o objetivo de que não perturbe os trabalhos com seu lado brincalhão e que permita a boa vontade dos orixás, invocados no culto.
   Após a conclusão da oferenda foi  lançado um pombo branco da paz e o grito de saudação dos componentes: Ajayô! E o bloco  pôde ir em direção à avenida, onde passou no  Afródromo levando as cores dos orixás protetores, o branco de Oxalá e o azul de Ogum.
   Com o tema “Gandhy - Tradição, Religião, Fé e Respeito”, uma reverência aos Templos dos Orixás, o bloco esbanjou o charme dos integrantes que têm a fama de trocar beijos pelo colar azul e branco, e jogar alfazema nas garotas.
   E foi neste clima de animação que a professora paulista Rosana Albuquerque contou que ganhou o amor de seu “gandhy” Jonathas Freitas da Silva. “Foi no ano passado. Vim passar o carnaval em Salvador e quando o Gandhy passou ele jogou alfazema e depois me beijou, me deu o colar, mas trocamos telefone. Só sei que namoramos até agora”, contou sorridente.
   Mas há quem não teve a mesma sorte que a professora e ficou só com o colar, como foi o caso da estudante Marília Santana. “Ele me beijou, me deu o colar e se perdeu no meio do bloco. Era lindo e que beijo!, exclamou a estudante. E foi assim o percurso do afoxé nas avenidas irradiando muita alegria, brincadeiras e despertando paixões.

Uma tradição de pai para filho e de turistas
   “Pra mim o Gandhy é tudo. Sem ele não sairia na avenida”, resumiu o auxiliar de escritório Raimundo Prazeres Correia, que há 17 anos desfila no afoxé, acompanhado do filho Ian Santos Correia, de seis anos, que tem três anos que acompanha o pai no bloco.
   Antes do desfile as ruas do Pelourinho se enchem de componentes procurando costureiras para ajustar os turbantes que só podem ser feito na cabeça. Como foi o caso dos engenheiros paranaenses Fabricio Bernardes  e Tiago Menezes, que há três anos saem no afoxé.
   “Chegamos hoje  a Salvador perto do meio-dia e viemos logo para cá porque sabíamos que o processo é demorado e não queríamos nos atrasar. Adoro sair neste afoxé. A gente se diverte muito e as gatas adoram nos verem com esta vestimenta”, afirmou Fabricio.
   Tiago, enquanto esperava o amigo ajustar o turbante, resumiu a sua passagem pelo Gandhy: ”Já tem três anos que desfilo. Sinceramente não dá para abrir mão disto”. A afirmação comprova que não são só os da terra que são seduzidos pela vibração e encanto do afoxé.