Por Mauro Santayana
A
EPA, a agência de proteção ambiental dos EUA, deve aprovar, ainda neste ano, a
proibição da utilização de milho transgênico em alguns lugares dos Estados
Unidos, depois do desenvolvimento, pela lagarta da raiz do milho, de
resistência contra as proteínas secretadas por essas plantas, que são tóxicas
para os insetos que se alimentam das plantações.
A medida deverá
atingir duramente os negócios da Monsanto, da Dupont e da Dow
Chemical, que vendem milhões de toneladas de sementes geneticamente
modificadas nos Estados Unidos e em outros mercados.
Enquanto, por lá,
isso está ocorrendo, no Brasil, a CNTBio - Comissão Técnica Nacional de
Biossegurança, acaba de aprovar, em reunião realizada, agora, no último dia 5
de março, a livre comercialização de dois novos cultivares de milho
transgênico.
O primeiro,
justamente da Monsanto, tolerante aos herbicidas glifosato e glufosinato
de amônia, e o outro, com tolerância a outros herbicidas, entre eles o 2,4-D,
por “coincidência”, da também da Dow Agroscience, uma das outras
empresas cujos produtos estão para ter seu uso limitado nos EUA.
A liberação de
produtos sob suspeita em países do Primeiro Mundo não é novidade no Brasil,
onde muitos agrotóxicos, por exemplo, já proibidos em outras regiões do mundo,
ainda são utilizados, em enorme quantidade, contaminando nosso solo, nossos
rios, nossos agricultores e os próprios consumidores.
O que não dá para
entender é que a CNTBio o faça com relação ao milho geneticamente modificado,
com relação às mesmas empresas e ao mesmo tipo de produto, que, justamente
neste momento, se encontram ameaçados de limitação de seu uso em grandes áreas
dos EUA.
Compreende-se que
estas empresas, sob risco de perda ou diminuição de seu bilionário faturamento
por lá, estejam buscando uma maneira de substituí-lo, abrindo espaço no
Brasil, o segundo maior mercado do mundo, por país, para esse tipo sementes
transgênicas.
O que não se entende
é como uma comissão de alto nível voltada justamente para a biossegurança, de
uma nação com a importância da nossa na agricultura e no agronegócio mundial,
não tenha conhecimento do que está ocorrendo nos Estados Unidos, neste exato
momento, com relação a essas mesmas empresas e a esse mesmo tipo de semente.
Será que o CNTBio não
tem intercâmbio com instituições congêneres de outros países, como a EPA -
Environment Protection Agency, e a EFSA, a Autoridade Europeia de Segurança dos
Alimentos?
Na Europa, a
liberação de um produto transgênico para plantio, pode levar 15 anos, ou mais,
e custar mais de 11 milhões de euros, o que fez, por exemplo, que a Monsanto
retirasse os pedidos de liberação de produtos geneticamente modificados da
empresa que estavam na fila para aprovação na União Européia.
No Brasil, o tempo para aprovação é muitíssimo menor, e, como vemos, não leva em consideração o que ocorre lá fora.