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(Millôr Fernandes)

domingo, 29 de março de 2015

Como a polícia lida com protestos na Suécia

Domingo, 29 de março de 2015
 
“No Brasil, muitas vezes a polícia não olha a manifestação como sendo um direito”, afirma Gustavo Fulgêncio, que foi PM em Pernambuco e, desde 2007, faz parte da polícia sueca

(Texto originalmente publicado no Diário do Centro do Mundo. A autora, Claudia Wallin, é jornalista brasileira radicada na Suécia, autora do livro Um país sem excelências e mordomias.)
suecia
Gustavo Fulgênci: “Se uma pessoa vier atacar um policial com mãos vazias, não se pode usar uma arma”. Foto de Jan Lage Vianna

Já dizia Einstein que insanidade é fazer sempre a mesma coisa, e esperar resultados diferentes. Mas a cena se repete com demente precisão: uma polícia brutalizada, historicamente treinada para o confronto implacável com o bestial inimigo de seis patas, produz imagens e saldos de guerra nas manifestações populares nas ruas brasileiras, onde perder o olho ainda pode ser sinal de sorte.
Assim essa polícia, que mata e morre mais do que em qualquer outro país do mundo, vai cumprindo a façanha de se perpetuar no ranking das instituições mais detestadas do Brasil.
“O problema não é a atuação da polícia”, constata o policial brasileiro Gustavo Fulgêncio, que desde 2007 integra os quadros da polícia sueca em Estocolmo.
“O problema é que os policiais brasileiros atuam apenas com o conhecimento que têm. Não há evolução, não há interesse em procurar técnicas novas. Está visto e comprovado que as técnicas de repressão utilizadas atualmente não funcionam. Isto está sendo questionado inclusive nos Estados Unidos, que também têm uma polícia muito violenta, muito militarizada. Como o brasileiro é doido pelos Estados Unidos, talvez isso comece então a ser questionado no Brasil também”, raciocina Gustavo, que reveza o trabalho na Divisão Internacional da Polícia sueca com o curso de Ciências Políticas da Universidade de Estocolmo.
Estamos no quartel-general da polícia sueca, uma imponente construção de porte palaciano e interior ultramoderno no centro de Estocolmo. Ao lado do restaurante onde o Comandante Geral da instituição faz fila para almoçar no bandejão, um grupo de oito policiais corre compassadamente em volta de uma mesa de pingue-pongue, em uma alegre partida simultânea entre homens e mulheres da corporação.
São tempos de colheita: as pesquisas mostram que 77% dos suecos confiam na sua polícia. Mas a Suécia teve que atravessar seu próprio inferno e reformular seus conceitos e estratégias, para semear essa relativa paz.

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