Quinta, 17 de maio de 2018
Centro de Saúde 8 do Gama. Foto gamalivre.com.br — Clique na imagem para ampliá-la.
Depois de ver o vídeo (o do final desta postagem) com
as “explicações” do secretário de saúde do DF, fico aqui pensando com os meus
botões:
Será que mães que fizeram nas
últimas semanas denúncias aos muitos programas de notícias das mais variadas
emissoras de TV do DF mentiram quando, revoltadas, criticaram o descalabro que
atinge a rede pública de saúde no Gama?
Mentem quando denunciam a falta de
remédios no HRG —Hospital Regional do Gama— e em centros de saúde?
Mentem ao denunciar a falta de
medicamentos na Farmácia de Alto Custo do Gama?
Mentem quando dizem que seus
filhinhos não foram atendidos na rede porque falta pediatras em unidades de
saúde?
Mentem quando afirmam que ao ficarem internadas, ou com parentes
internados, as roupas do hospital estão mal lavadas, ou não lavadas?
Mentem ao dizerem que são
obrigadas muitas vezes a levarem a roupa que usam, com toda a contaminação
comum a um hospital, para ser lavada em casa?
Mentem quando dizem que elas, ou
seus parentes, ficaram jogados numa maca à beira do caminho. Ops! À beira dos
corredores do hospital?
Mentem quando se revoltam e acusam
que ficaram sem fazer exames laboratoriais por falta de materiais?
Mentem quando dizem que crianças
continuam morrendo no HRG por falta de atendimento adequado, seja por carência
de pessoal, equipamentos, instrumentos, ou outros recursos necessários?
Mentem quando dizem que seus
filhos, pais, parentes ou elas próprios, foram levados para um e depois para
outro, e mais outros hospitais distantes do Gama, numa verdadeira maratona dentro de uma ambulância ou num buzão nas
estrada que cortam Brasília?
Mentem, também, os profissionais
de saúde:
Quando denunciam que o quadro de
pessoal é insuficiente para um atendimento sequer razoável dos pacientes?
Quando falam em colegas que
entraram em depressão pelas péssimas condições de trabalho que não permitiram
salvar as vidas de criancinhas, jovens, adultos?
Quando informam que nestes quatros
meses e meio de 2018 já ultrapassou uma dezena os recém-nascidos que partiram
pela morte que seria perfeitamente evitável caso houvesse os recursos materiais
e humanos disponíveis no HRG?
Mentem os profissionais de saúde
quando, com lágrimas nos olhos, desabafam que neste ano de 2018 alguns colegas
tentaram o suicídio mesmo dentro do hospital e, por sorte e rapidez de socorro,
foram salvos por colegas? E que tudo isso tem ocorrido em razão principalmente
da angústia e frustração de não poderem fazer o que poderia ser feito caso as
condições de trabalho não fossem tão deterioradas? Mentem?
Mentem os moradores da cidade
quando dizem ser um absurdo, uma estupidez, o Centro de Saúde 8 do Gama,
continuar em ruínas, pois assim o governo do DF o tornou?
Mentem os moradores quando
manifestam a sua revolta pelos fechamentos das unidade de Pediatria e de Pronto
Atendimento Infantil (PAI) do HRG? Mentem ao chorarem o desmonte desses dois
excelentes serviços?
Mentem quando repudiam — também alguns com
lágrimas nos olhos— os desmontes, os desmanches, da Pediatria e do Pronto
Atendimento Infantil do HRG, deixando que TODAS as criancinhas do Gama continuem
sem atendimento médico de qualidade?
Mentem as mães, os pais, os
parentes dos usuários do sistema público de saúde? Mentem os profissionais de
saúde que trabalham no HRG e nos centro de saúde da cidade?
Não mentem. Eles não mentem. Falam
a verdade, relatam os fatos. Revelam toda a sua indignação com a situação de
caos ao qual o governo de Brasília levou o sistema público de saúde no Gama.
Centro de Saúde 8 do Gama
O Centro de Saúde 8 do Gama teve
iniciado em maio de 2015 uma reforma que o transformaria, no dia 26 de maio de
2016, numa unidade de saúde ainda melhor, bem mais moderna. O que não se
esperava é que o governo, só Deus sabe a razão, transformou um sonho em
pesadelo para os cerca de 16 mil gamenses que deveriam ter ali um atendimento
de primeira qualidade.
Passados três anos do início
previsto (em 28/05/2015) para a reforma do Centro 8, um quadro de desolação, de
abandono, de desrespeito ao direito constitucional do cidadão ter saúde de
qualidade. E o que diz o governo de Brasília sobre as não-obras nessa unidade
de saúde? Blá blá blá!. E mais blá blá blá!
Leia o que Humberto Fonseca,
secretário de Saúde do DF, disse a respeito da reforma (ou seria deforma?) do Centro 8. Em vídeo que gravou, e publicou
há duas semanas na internet principalmente em grupos de WhatsApp, ele disse: “Tem circulando vídeos na internet que estão falando
algumas informações erradas e nós estamos esclarecendo a população.”
Veja a seguir o que disse ele no
vídeo, sobre o Centro de Saúde nº 8 do Gama, aquele que foi mostrado, e muito
bem mostrado, pelas emissoras de TV:
— Havia um projeto de
reforma, que já vinha acontecendo, mas em janeiro de 2017 a
empresa entregou. E aí é há todo um trâmite burocrático para desfazer o
contrato anterior, apurar o que foi feito e fazer uma nova licitação. Nós
esperamos até o meio do ano já fazer essa nova licitação pro Centro 8 do Gama,
pra gente poder concluir essa nova unidade básica de saúde que já vai funcionar
com base nos novos...é princípios, nas novas regras do Saúde da Família.
Conveniente lembrar ao caro
leitor, que Humberto Fonseca assumiu a Secretaria de Saúde do DF em março de
2016. Durante o ano de 2016 inúmeras foram as matérias em TVs, jornais, sites e
blogues denunciando que a reforma do Centro 8 não andava, que não ficaria pronta
naquele passo de grauçá, aquele crustáceo que anda pros lados e pra trás. Só, e
somente, para trás e, quando muito, um passinho pro lado.
Derrubadas as paredes, retirado o
telhado, quebrado o piso e jogado em algumas partes um cimento grosso,
levantadas poucas paredes, e mais meio palmo de outras, estava claro que a empresa
não estava obrando como devia (ou só obrava?). Onde estava o executor da obra?
Fiscalizando, fazendo relatórios? Enviando tais relatórios para quem? Se é que
eram feitos e enviados. Se enviados, os destinatários fizeram o quê? E o
secretário não era informado do problema? Só veio a saber o que se passava
(isto é, não se passava) em janeiro de 2017, quando a empresa “entregou” de
volta a reforma?
Poderemos
voltar a comentar o discurso do secretario em vídeo, pois como ele disse:
— Depois de discutir com os Conselhos
de Saúde do Gama e Santa Maria, nós
decidimos que abriríamos a porta de Santa Maria, um hospital mais mais
novo, um hospital que tem uma estrutura melhor, nós colocamos ali trinta
pediatras, então nós vamos poder sim atender todas as crianças da Região Sul
ali em Santa Maria, enquanto o que era o PAI do Gama vai passar a ser um Centro
de Parto Normal, que também vai melhorar a condição de assistência obstétrica
lá no Gama.
Podemos, e vamos, voltar a
comentar o discurso do vídeo. Voltaremos a abordar o estúpido desmonte da
Pediatria e do Pronto Atendimento Infantil do Hospital Regional do Gama.
Voltaremos sim.
Veja o vídeo com as ‘explicações’
do secretario de Saúde de Rollemberg e tire suas conclusões. A gravação é de apenas 1 minuto e 44 segundos.