Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Agente provocador

Sexta, 2 de julho de 2010 
Por Ivan de Carvalho
    1. Esta semana, o governador Jaques Wagner, no programa de televisão Balanço Geral, depois de deixar claro que fez ou já preparou a feitura de quase tudo que havia ou há para fazer na Bahia (parabéns, governador, não é todo mundo que consegue isso, ainda mais em menos de quatro anos), sugeriu que o complexo esportivo que vai surgir no lugar onde hoje está o saudoso estádio da Fonte Nova seja chamado Luís Inácio Lula da Silva, vulgo Lulão. O governador disse para fazer simpatia, mas sabe que não pode, pois obras públicas, atualmente, recebendo nomes de pessoas, só podem ser batizadas oficialmente com os nomes de pessoas mortas. E Lula está vivíssimo. Também não poderá o novo estádio chamar-se Jaques Wagner, pelo mesmo motivo e mesmo que ele se reeleja. Bem poderia o que for erguido no lugar do estádio moribundo herdar o nome antigo, do governador Octávio Mangabeira, responsável pela construção da Fonte Nova, mas creio que isso não é muito provável. “O tempo, traça que medra nos livros feitos de pedra, rói o mármore, cruel”, escreveu o poeta que também nos deixou Ode ao 2 de Julho. E o tempo passou. Bem, duas idéias. Primeira) Pode-se dar ao estádio o nome do maior poeta brasileiro, o baiano Castro Alves, pois deste o tempo ainda não roeu o gênio e a memória. Segunda) Ao invés do nome dele, pode-se dar – e lembro isto hoje, quando se comemora a efeméride (desculpem os colegas o palavrão) – ao futuro estádio o belo nome de Estádio 2 de Julho. Assim, pelo menos, acho que, juntando com o Largo 2 de Julho, a Praça 2 de Julho e o complexo viário construído perto do aeroporto e cujo nome também é 2 de Julho, ninguém mais vai insistir inutilmente em perturbar o espírito de Luís Eduardo Magalhães, cujo nome continuará, já então pacificamente, a designar o Aeroporto Internacional de Salvador.
    2. Não vai demorar muito e haverá patrulhas petistas acusando o candidato a vice-presidente na chapa de José Serra, Índio da Costa, de agente provocador, um rótulo que nos saudosos (para a esquerda) tempos do poder da propaganda soviética universalizada era às vezes aplicado a reais ou supostos “agentes da CIA” e quase sempre a democratas autênticos que não transigiam com a pregação e não se submetiam aos métodos totalitários dos adeptos do comunismo, hoje morto como doutrina, mas ainda moribundo, insepulto, como regime totalitário em alguns países – a exemplo da China continental, Coréia do Norte, Cuba, para ficar apenas nos três mais notórios, embora não únicos. Índio da Costa é um jovem advogado formado da acreditada Faculdade de Direito Cândido Mendes, com pós-graduação em Políticas Públicas pela UFRJ, autor de dois livros sobre gestão pública. Está em seu quarto mandato eleitoral, sendo somente o atual na área federal (Câmara dos Deputados, onde se notabilizou por ser o relator do projeto de lei Ficha Limpa, por sua destacada atuação na CPI dos Cartões Corporativos e por denúncias de corrupção no governo federal). Mas por que “agente provocador”? Simples. Ontem, enquanto o candidato a presidente José Serra debatia a convite da Confederação Nacional da Agricultura (Dilma Rousseff arranjou uma viagem para não comparecer e Marina Silva não foi alegando a ausência de Dilma). Índio da Costa estava numa das primeiras filas. E aproveitou o laptop que levara para por em seu twitter: “Lula diz que não me conhece, esqueceu que tentou barrar o ficha limpa, mas não conseguiu”. Agente provocador, dos mais legítimos, está aí.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta sexta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.