Segunda, 6 de dezembro de 2010
Da "Auditoria Cidadã da Dívida" 
Os jornais de sexta-feira destacaram as medidas tomadas pelo Banco 
Central (BC), de aumentar as taxas de juros dos empréstimos de bancos 
para pessoas e empresas. As medidas foram tomadas pela “Diretoria 
Colegiada do Banco Central”, que inclui o futuro presidente do Banco 
Central, Alexandre Tombini, de modo que este poderia ser considerado 
como o primeiro pacote do governo Dilma para conter a economia, sob a 
justificativa de combater a inflação, que sobe principalmente devido à 
elevação dos preços de alimentos e combustíveis.
As medidas consistem, basicamente, em aumentar o chamado 
“recolhimento compulsório”, ou seja, a parcela dos recursos dos bancos 
que deve ser retirada de circulação e depositada no BC. Seguindo a 
lógica da “Lei da oferta e da procura”, com uma menor oferta de recursos
 para empréstimos, os bancos selecionam os clientes que podem pagar 
juros mais altos, e assim, o resultado é o aumento destas taxas.
Atualmente, os bancos devem depositar no BC 8% dos depósitos à vista 
(ou seja, em conta-corrente), e 15% dos depósitos à prazo (ou seja, 
depósitos remunerados, como os CDBs). Com as novas medidas, estes 
percentuais sobem, respectivamente, de 8% para 12% e de 15% para 20%, o 
que significará que R$ 61 bilhões sairão da economia e serão depositados
 no BC, reduzindo assim o volume de recursos disponíveis para 
empréstimos.
À primeira vista, poderia-se supor que os bancos perderiam, pois 
teriam de destinar tais R$ 61 bilhões para o BC, e assim, não poderiam 
destiná-los para comprar títulos da dívida pública, deixando de ganhar a
 "Taxa Selic", ou seja, os juros mais altos do mundo. Porém, cabe 
ressaltar que os bancos continuam recebendo a Taxa Selic sobre a parcela
 depositada no BC, referente aos depósitos à prazo, que são remunerados.
Poderia-se argumentar também que tais medidas já permitiriam o 
controle da inflação (por reduzir o ritmo da atividade econômica) e 
assim, dispensariam a subida da Taxa Selic na próxima reunião do COPOM 
(Comitê de Política Monetária do BC), prejudicando os bancos. Porém, 
ainda que a Taxa Selic não suba, ela ainda continuará sendo a mais alta 
do mundo.
Além disso, com tais medidas, os bancos ganharão mais, pois 
aumentarão as taxas de juros cobradas de pessoas, empresas e também do 
governo. Imediatamente após o anúncio das medidas, subiram os chamados 
“juros futuros” (ou seja, os juros exigidos pelos rentistas para comprar
 títulos da dívida pública) para títulos pré-fixados com vencimento em 
2013, que são os títulos da dívida interna mais vendidos pelo Tesouro 
atualmente, e cujo rendimento independe da Taxa Selic.
Em suma: ao invés do governo atacar a inflação segurando os preços 
administrados por ele mesmo (como os combustíveis) e controlando os 
preços dos alimentos (por exemplo, aumentando a oferta e os estoques, 
por meio de uma ampla reforma agrária), o BC prefere, mais uma 
vez,seguir à risca o modelo das “metas de inflação”, que utiliza o 
aumento das taxas de juros como estratégia principal de controle dos 
preços, prejudicando o povo e privilegiando mais uma vez os rentistas.
Os rentistas também são privilegiados na Europa, onde o FMI exige que
 cada vez mais recursos possam ser usados para que os bancos privados 
sejam salvos pelo povo, por meio de cortes de gastos sociais, conforme 
mostra a notícia do Estado de São Paulo de domingo. Um relatório do FMI 
obtido pela Agência Reuters diz literalmente que:
"Há também um argumento forte para que se aumentem os recursos 
disponíveis para essa rede de segurança e para tornar seu uso mais 
flexível, inclusive para dar apoio mais efetivo aos sistemas bancários" 
Em troca desta “rede de segurança” os países têm aprofundar as reformas neoliberais e cortar gastos sociais. 
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