Quarta, 4 de abril de 2011
Por Ivan de Carvalho

É evidente
que a população americana poderia receber a notícia fúnebre com um sentimento
de alívio ou até considerando que a justiça dos homens foi feita afinal, após
dez anos de busca ao líder-fundador da organização terrorista Al-Qaeda. Mas é
evidente também que a morte de uma pessoa, atingida por uma operação militar,
não é o tipo de coisa que deva gerar uma explosão de alegria e de comemorações
festivas.
Não tenho a
menor intenção de igualar ou aproximar o personagem citado de outro, o
ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, expulso de seu partido em 2005 como uma
espécie de bode expiatório, por ter sido um dos operadores – talvez dos mais
humildes ou menos importantes – do que ficou conhecido como o Escândalo do
Mensalão e que resultou em cassações de mandato no Congresso, demissão no
Ministério do presidente Lula, expurgo na direção do PT por ter ficado inviável
não fazê-lo, além de um processo com 38 réus (inclusive Delúbio) no Supremo
Tribunal Federal, respondendo a acusações por vários crimes graves.
Mas por qual
razão, afinal, reunir em um só artigo as inadequadas comemorações pela morte de
Osama bin Laden com Delúbio Soares, que teve sua refiliação aprovada no dia 29,
sexta-feira, por 60 votos contra apenas 15, pelo Diretório Nacional do PT?
Bem, esta
estranha reunião da morte do terrorista com a refiliação do ex-tesoureiro não
teria sido feita se não a houvesse antecipado o secretário de Comunicação do
PT, André Vargas, numa postagem no Twitter. Ele avaliou, com sentido
lamuriento, que a morte de Osama bin Laden, no domingo e anunciada no início da
madrugada de segunda-feira, ofuscou a refiliação de Delúbio Soares ao PT. E se
queixou do Universo e suas leis, escrevendo no Twitter, sem citar nominalmente
Delúbio: “Você reparou que bastou o cara se refiliar e o Bin Laden foi
encontrado e morto. Repercussão mínima”.
Ora, a
conclusão natural é a de que o Diretório Nacional do PT foi imprevidente,
incauto e falto de iniciativa. Poderia, com alguma antecedência, ter
estabelecido contato com o presidente Barack Obama, o Departamento de Estado, a
Marinha americana e a CIA, solicitando que a operação contra Osama bin Laden
não ocorresse domingo, fosse postergada por uns 15 dias. Para completar, o
Diretório Nacional do PT obraria bem se houvesse pedido à Coroa britânica que
adiasse por período semelhante o casamento do príncipe William e Kate,
realizado, maldosa coincidência, exatamente no dia 29, o da refiliação de
Delúbio.
Tenho a
convicção de que Barack Obama e a Rainha Elizabeth II concordariam, além de
Osama bin Laden, que ganharia mais 15 dias de vida. Só não sei se o príncipe e
sua noiva teriam a mesma boa vontade. Mas como eles já viviam juntos há tempo,
o Diretório do PT bem que poderia tentar adiar o casamento e a conseqüente lua
de mel. E assim a refiliação de Delúbio teria a repercussão que o PT tanto desejava,
por esquisitíssima, quase inacreditável e conhecida estratégia.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quarta.