Sábado, 7 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

Os eventos de
11 de setembro de 2001 receberam, com a morte de Osama bin Laden, uma resposta
mais simbólica do que prática. Esta deverá prosseguir sendo dada pelos esforços
americanos no desmantelamento completo da Al-Qaeda, objetivo que pode ainda
estar longe de ser atingido. Aliás, a guerra em que os Estados Unidos se
envolveram a partir do 11 de setembro é “contra o terror” e não se limita,
portanto, a uma de suas organizações, a Al-Qaeda.
Efeitos da
execução de Osama bin Laden pelos Seals da Marinha dos Estados Unidos não se
esgotam na comemoração representada pelo desabafo festivo de grande parte da
população americana. Nem no imediato ganho de pelo menos dez pontos percentuais
na popularidade do presidente Barack Obama, que estava em dificuldades com a
opinião pública de seu país devido principalmente a problemas na economia. Nem
numa certa afirmação política dos Estados Unidos no âmbito internacional. Nem
no severo sinal da determinação americana, enviado aos demais militantes da
Al-Qaeda e de outras organizações terroristas espalhadas por pelo menos três
continentes – a Ásia, a África e a América do Sul, onde o caso mais relevante é
o das Farc.
No outro prato
da balança há a emergência de delicados problemas de relacionamento com um
importante, mas não confiável (como, aliás, o episódio comprovou) aliado, o
Paquistão, que tem algumas bombas atômicas. Há a fissura da Al-Qaeda por uma vingança
pela morte de seu líder e fundador, que ao dar a ordem, em 2001, para o ataque
aos EUA, devia estar consciente do que esperar em troco.
E há, em
parte, creio que bastante minoritária, das populações muçulmanas no norte da
África e no sudoeste da Ásia, um sentimento de raiva, tanto espontâneo quanto
insuflado por quem quer fazer desse sentimento instrumento político contra os
Estados Unidos e contra Israel. Provavelmente este é o mais importante, o mais
perigoso dos efeitos da execução de Osama bin Laden.
As
circunstâncias e toda a conjuntura criada pela série de revoluções, rebeliões e
manifestações a que se deu o apelido de “primavera árabe” fazem que seja assim.
A insurgência em vários países árabes veio com a marca da reivindicação de
liberdade e democracia. Mas há, infelizmente, que reconhecer que os países
árabes pouca ou nenhuma experiência têm de liberdade e regimes democráticos.
Além disso,
de início a insurgência veio como um movimento espontâneo, quase sem nenhuma
organização. À medida, no entanto, em que ganha corpo – já tendo obtido a
vitória na Tunísia e no Egito, mais de meio caminho para uma vitória no
Bahrein, uma situação de impasse militar na Líbia, enquanto sofre desumana
repressão na Síria –, organizações radicais que viviam na clandestinidade, a
exemplo da Irmandade Muçulmana, ou que se formam em função dos novos eventos,
tudo farão para controlar e direcionar a insurgência.
Mudar os
alvos, das pretensões internas de liberdade e democracia para a hostilidade a
“inimigos” externos, basicamente Israel (o inimigo predileto) e Estados Unidos,
seria a estratégia lógica dessas organizações, seguindo o modelo iraniano. E a
morte de Osama bin Laden pode ser explorada para reforçar uma estratégia assim.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano.