Segunda, 2 de abril de 2011
Por Ivan de Carvalho

Karol
Józef Wojtyla, seu nome de batismo, nasceu na Polônia, um dos países mais
católicos da Europa e era cardeal-arcebispo de Cracóvia, a segunda mais
importante cidade de seu país, a Polônia, quando, para surpresa geral, foi
eleito pelos demais cardeais e anunciado ao mundo como o novo papa, sucessor de
João Paulo I.
Sua
saga já começara quando, ainda cardeal-arcebispo de Cracóvia, enfrentou o
totalitarismo comunista que, sob o manto do poderio da então União Soviética,
dominava seu país. Resistia como podia.
Mais tarde,
já na posição de papa e quando uma revolução pacífica começava, pela própria
Polônia, com a luta do Sindicato Solidariedade, a varrer o império soviético do
mapa, João Paulo II forçou uma viagem indesejada pelo comando do império soviético
à Polônia e fez acompanhar esta atitude por uma exortação que deve ter calado
fundo no coração dos que ansiavam pela liberdade: “Não tenham medo”. Vinte
séculos antes, Jesus já dissera isso a seus discípulos.
Durante o seu
longo pontificado de 27 anos – o terceiro mais longo da história da Igreja,
isto se considerado o tempo em que São Pedro
esteve na liderança, mas então ainda não havia um papa – ele sofreu um atentado à bala na Praça de
São Pedro. Esse atentado, que quase o matou, teve uma influência muito grande
sobre ele, sua imagem, sua atitude e seu pontificado daí em diante.
Mas, importa
mesmo é dizer, em ambiente laico, que, além das qualidades pessoais –
especialmente do espírito de sacrifício, da coragem e da fé profunda que eram
facilmente perceptíveis nele – o papa João Paulo II mudou o mundo do século XX,
mudança para a qual, numa de suas três vertentes, teve importantes co-autores.
Co-autores
teve na gigantesca tarefa de por fim, sem violência, ao domínio do
totalitarismo comunista, que, baseado na União Soviética, dominava a Europa
Oriental e mais alguns países fora dessa área e militava incessantemente para
expandir-se. Foram, esses co-autores (claro que cito apenas os mais
importantes) Margareth Thatcher, Ronald Reagan e Mikhail Gorbachev, surgindo
depois, para complementar o serviço, Boris Yeltsin. E note-se o espírito do
Pastor: quando o império comunista soviético foi vencido, o papa João Paulo II
imediatamente apontou e começou a disparar suas baterias contra o capitalismo
selvagem.
A outra
grande mudança foi feita por João Paulo II dentro da própria Igreja que
governava. Enquanto contribuía poderosamente para desmontar o totalitarismo
marxista (restos ainda existem, creio que em decomposição, em alguns países,
inclusive na hoje poderosa China) no mundo, ele foi progressivamente tornando a
Igreja Católica um ambiente inóspito para a Teologia da Libertação, que, apesar
do nome, inspirava-se no marxismo, uma doutrina totalitária e
anti-espiritualista em sua mais profunda essência. João Paulo II foi vitorioso
também nesta luta contra uma “teologia” que poderia desnaturar a mensagem
cristã, e pior, fazer isto a pretexto de praticar essa mensagem.
Bem, a
terceira mudança não está consumada. João Paulo II conseguiu dar apenas a
partida para que se percorra um caminho difícil e longo. Trata-se da
aproximação das diversas igrejas cristãs e, mais do que isto, de uma
aproximação – aí sem pretensões a fusão ou identidade – entre o cristianismo, a
igreja israelita (neste particular coisas boas e importantes ocorreram) e
outras crenças, a exemplo da muçulmana e do budismo.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta segunda.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano