Terça, 10 de maio de 2011
Por Ivan de Carvalho

Logo se
instalará o debate: a candidatura é para valer ou para melhorar as condições de
uma negociação política com o PT e a base política do governo Wagner? A
resposta só virá no futuro, o que não impede que algumas observações sejam
feitas e algumas informações sejam dadas.
O PC do B foi
um fiel aliado do PT durante muitos anos e em muitas batalhas. Federais,
estaduais, municipais. Hoje está desgostoso, digamos melhor, indignado com seu
poderoso aliado, considerando-se desvalorizado, escanteado. Os adjetivos aqui
não são dispensáveis, eles ajudam a compor a realidade com mais exatidão.
Há uma
orientação estratégica da direção nacional do partido, que também está – creio
que justamente – aborrecida com o PT e o governo. É a de lançar candidatos
próprios a prefeito em todas os municípios com colégios eleitorais de grande e
médio porte. Essa estratégia nacional reforça a disposição da seção baiana.
A seção
estadual do PC do B entende que obteve um bom desempenho nas eleições gerais de
2010 na Bahia e acredita que há condições de obter ainda melhor desempenho nas
eleições municipais do próximo ano. Também acha que Salvador é, já faz tempo,
uma “cidade vermelha”, apesar do verde do mar e do azul do céu.
O PC do B
avalia ainda que vem perdendo terreno numa área onde sempre foi muito forte, a
área universitária – a classe média intelectual –, e a candidatura de Alice à
prefeitura, lançada com tanta antecipação (quando nos outros partidos o quadro
ainda é confuso) e desencadeando uma longa campanha informal pode levar à
recuperação do PC do B neste setor.
O PC do B,
além de mirar a prefeitura da capital e criar condições para aumentar seu
espaço no eleitorado local e eleger uma bancada maior para a Câmara Municipal,
quer usar Salvador como referência e caixa de ressonância para as disputas em
que se envolverá no interior. Outras referências não tão importantes, a exemplo
de Juazeiro, onde o PC do B tem o prefeito, também seriam utilizadas.
Finalmente,
vale insistir em que a grande antecipação do anúncio da candidatura de Alice
Portugal está lastreada na constatação dos comunistas de que nos demais
partidos a situação é confusa. O DEM, o PMDB e o PSDB, principais legendas de
oposição na Bahia, parece desejarem uma aliança, mas não sabem ainda se ela
ocorrerá e como seria. O PP do ministro Negromonte e do prefeito João Henrique
fala em João Leão,
que também fala em si mesmo, mas sem decisão. E o mais importante: Pelegrino
quer ser candidato e o governador diz que se depender dele, governador,
Pelegrino será, mas pessoas ligadas a Pelegrino põem em séria dúvida essa
suposta “candidatura natural” do deputado. A primeira dama, Fátima Mendonça, já
comentou que, por ela, pode ser ela (mas pelo PV). E o senador Walter Pinheiro
sugeriu que o candidato do PT pode não ser do PT. Sintetizando: o que parece
mais certo está em profunda confusão.
Confusão
equivale a espaço vazio, a ser ocupado – e é o que tenta agora fazer o PC do B.
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Este artigo
foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta terça.
Ivan de
Carvalho é jornalista baiano