Quinta, 5 de janeiro de 2012
Por Carlos Newton
Como todos já sabem ou de alguma forma estão percebendo, o maior
problema do país é o Poder Judiciário. Não somente por sua lerdeza ao
julgar, pela corrupção de alguns de seus magistrados ou pelo
corporativismo exacerbado que caracteriza a categoria profissional, mas
sobretudo por sua omissão no que concerne à impunidade dos poderosos.
Quando se fala nesse revoltante privilégio das elites, estamos
tratando do assunto em sua mais ampla abrangência. É que no Brasil,
salvo as raríssimas honrosas exceções, os poderosos não são punidos. A
começar pelos próprios magistrados. Quase invariavelmente, juiz corrupto
não é recebe condenação. O máximo que lhe acontece é ser premiado com
aposentadoria antecipada, mas com salários integrais e o direito de
seguir trabalhando como advogado e exercendo tráfico de influência nos
tribunais.
Políticos e governantes estão no mesmo caso. E jornalistas, também,
bastando citar o inacreditável caso de Pimenta Neves, ex-chefe de
redação do Estado de S. Paulo, que matou a namorada pelas costas, com
dois tiros, um deles na cabeça. Teve a intenção declarada de matá-la,
foi homicidio doloso, mas levou 10 anos para ser preso e agora pode ter
direito à prisão domiciliar, por ter mais de 70 anos e ser cardíaco,
pobre coitado.
Os escândalos no Brasil hoje são virtuais. Circulam na internet, são
publicados em jornais e revistas, aparecem nos noticiários do rádio e da
televisão. E fica nisso. A perda do cargo foi, até agora, a única
punição sofrida pelos seis ministros demitidos por corrupção em 2011.
Antonio Palocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes),
Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva
(Esporte) e Carlos Lupi (Trabalho) voltaram a ter rotina normal enquanto
aguardam a conclusão de inquéritos e outras investigações preliminares.
Nenhum dos ministros demitidos chegou a ser processado por corrupção ou
improbidade administrativa.
Podemos perguntar: “Mas que país é esse, Francelino Pereira?” Porém,
ele não irá responder. Está aborrecido porque, em seu caso específico,
a Justiça enfim funcionou e ele perdeu a pensão de ex-governador de
Minas Gerais, da qual desfrutou por quase três décadas. Mas continua
pendurado no erário, como conselheiro da estatal Cemig.
Mas se perguntássemos a Renato Russo, da Legião Urbana, que
transformou a frase de Francelino Pereira no refrão de uma das melhores
canções de protesto já escritas, ele responderia tranquilamente: “É o
país da impunidade das elites. Só é punido quem está fora do andar de
cima”.
É verdade. Se o Judiciário atuasse a contento, os outros dois poderes
apodrecidos funcionariam melhor, porque governantes e políticos teriam
medo de ir para a prisão. Os criminosos do colarinho branco também não
aplicariam tantos golpes financeiros. E o Brasil, que será o país do
futuro, já seria o país do presente. Sem a menor dúvida.
Fonte: Tribuna da Imprens Online