Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 8 de março de 2012

O gigante adormecido

Quinta, 8 de março de 2012
Por Ivan de Carvalho
Estará o gigante adormecido acordando? Esta é uma pergunta ainda sem resposta. E não se refere ao gigante adormecido tradicional, o Brasil, que vem recebendo doses maciças de soníferos para prolongar o seu processo de despertar, mas ao PMDB, que afinal começa a emitir sinais perceptíveis de que está passando do sono profundo àquele estado intermediário entre o sono leve e a vigília.


Resta saber se vai virar para o lado e render-se outra vez aos braços e abraços de Morfeu ou se abrirá definitivamente os olhos e saltará da mesa de operação petista em que vem sendo progressivamente cortado em fatias, como se fosse um salame.

Maioria muito expressiva da bancada do PMDB na Câmara dos Deputados assinou um manifesto em que reclama do tratamento que vem sendo dado à legenda dentro da coalizão de governo, especialmente se comparado esse tratamento com o que é reservado ao PT, o partido da presidente Dilma Rousseff e que detém a presidência da República desde 1º de janeiro de 2003. Os signatários, segundo anunciado, foram 52.
Uma representação da bancada peemedebista, reforçada com dirigentes partidários, foi ao vice-presidente da República, Michel Temer, comunicar e explicar suas insatisfações. Muitos no PMDB consideram que Temer, indicado pelo PMDB, que presidia, para compor a chapa de Dilma Rousseff, tem, tanto a pedido do governo quanto por iniciativa própria, atuado sempre para conter a crescente irritação de cada vez mais amplos setores peemedebistas.

Com isto, ele estaria agindo para preservar seu projeto pessoal de participar, como candidato a vice outra vez, das eleições de 2014. Daí, não se tornar, para valer, um canal da insatisfação peemedebista junto ao governo e um articulador da estratégia de defesa de seu partido.

Ontem, no Senado, foi derrubada, com a ajuda de parte da base aliada – principalmente de peemedebistas – a indicação, feita pela presidente Dilma, de Bernardo Figueiredo para um novo mandato de diretor-geral da Agência Nacional de Transportes Terrestres. Foi a derrota importante do governo Dilma no Senado.

Alguns senadores insubordinados, inclusive peemedebistas como Roberto Requião, explicaram suas atitudes com o fato de existirem denúncias e suspeitas quanto à conduta de Bernardo Figueiredo. Outros simplesmente votaram contra, mandando sua mensagem de indignação e aviso ao Palácio do Planalto.
O PMDB está há muito inconformado com o tratamento que recebe no governo Dilma Rousseff, bem inferior ao que recebia durante o segundo mandato de Lula. Tratamento, o atual, considerado como de segunda classe pelos peemedebistas, quando comparado ao que é dado ao PT.

O PMDB afinal percebeu, ou se já vislumbrava antes, agora a ficha caiu, que esse tratamento “desigual” pode levá-lo a perder para o PT a condição de maior partido em nível municipal no país, depois de haver perdido a posição de maior partido na Câmara dos Deputados e de estar se transformando, na verdade, apenas em um ainda importante coadjuvante do PT, enquanto este trata de retirar-lhe metodicamente a importância que resta.

Este é o quadro visto pela maioria do PMDB no momento e que tem provocado a movimentação do partido nos últimos dias. Mas se o gigante que vai sendo apequenado e se apequenando progressivamente acordará antes que se esvaiam as forças para defender-se ou deixará que a saúva – que não foi capaz de acabar com o outro gigante adormecido – acabe com ele, esta é uma questão que só o futuro responderá.

Mas, pelo que se percebe, o futuro próximo.
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano