Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sábado, 3 de março de 2012

Política de zumbis

Sábado, 3 de março de 2012

Quando o terreno político vira um cemitério, os sobreviventes se transformam em zumbis. É o que está acontecendo no DF

O ex-governador Joaquim Roriz está impedido de se candidatai'. Apesar de todas as denúncias acumuladas, o Tribunal de Justiça do DF nunca o condenou. Seu impedimento foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal, por ter renunciado ao mandato de senador.
 
O ex-governador Arruda, outra forte liderança eleitoral, também nunca foi condenado pelo Tribunal de Justiça do DF, mas terá dificuldade em participar das eleições de 2014, sobretudo, para governador, por causa do vídeo em que aparece recebendo contribuição para campanha eleitoral.
 
O ex-vice-governador Paulo Octávio, também não foi condenado pelo Tribunal de Justiça do DF, mas por causa da renúncia pode ficar impedido de disputar eleição.
 
A ex-governadora Maria de Lourdes Abadia não tem condenação pelo Tribunal de Justiça do DF, mas tem problemas com o Tribunal de Contas e com o Tribunal Eleitoral, ao perder prazo para prestar contas de campanha. ...
 
O ex-senador Luiz Estevão jamais foi condenado pelo Tribunal de Justiça do DF, mas foi cassado pelo Senado e está impedido de concorrer a qualquer cargo eletivo até 2018.
 
O governador Agnelo tem uma vocação para se eleger sem opositor. Com esta intenção tenta passar a ideia de que eu também estou inelegível por decisão do Tribunal de Justiça do DF. A causa da condenação foi a produção de um CD-ROM (CD lido apenas no computador) pela Secretaria de Comunicação de meu governo, em 1995, contendo um relatório para orientar os servidores do governo sobre as obras em andamento. O TJDF considerou que houve promoção pessoal, visando à reeleição. Cabe lembrar que um CD-ROM seria uma publicidade estúpida e que em 1995 a reeleição era proibida pela Constituição. Só em 1997, ela foi instituída no país. Por isso, uma primeira tentativa de acusação foi arquivada pela Justiça. Mesmo assim, um novo processo condenou o secretário de Comunicação e a mim a devolver o custo de produção do CD-ROM e a devolver cinco meses de nossos salários de governador e secretário, corrigidos pela taxa Selic, ao longo de 17 anos. Se a condenação for confirmada, a multa equivalerá a praticamente todo o meu patrimônio de 50 anos de salários. Esta multa é a única punição. A própria sentença judicial diz que a condenação não implica em perda de direitos políticos, porque não houve enriquecimento ilícito, lesão ao patrimônio público ou qualquer outra falta que implique em ficha suja. A sentença foi confirmada pelo Tribunal de Justiça do DF. E esta decisão do TJDF é o meu atestado de ficha limpa.
 
Ao me acusar, o grupo do governador age de má fé porque sabe que a Lei da Ficha Limpa diferencia erros administrativos de atos criminosos, tais como corrupção, lesão ao patrimônio público, enriquecimento ilícito, recepção de propina, beneficiamento de ONGs e aumento injustificado de patrimônio.
 
Percebe-se a tática de enterrar politicamente os adversários para o Agnelo caminhar como um governador zumbi sobre concorrentes enterrados, testados nas urnas e com bases eleitorais muito superiores às dele. Sua força é exclusivamente do PT, que ainda o apoia, apesar de todas as suspeitas que a cada dia surgem sobre sua conduta.
 
Depois de ser reitor, governador, ministro e senador a única acusação que sofri foi ter fotos em um relatório virtual para servidores, só lido e visto por quem desejasse e usasse um computador. Pode até ter sido um erro, inclusive da consultoria jurídica do GDF, que aprovou o CD-ROM. Porém, depois de tantos cargos ocupados tomo esta única acusação, repito, uma mera multa, como sinal da seriedade de meu trabalho.
 
Por Cristovam Buarque
*Cristovam Buarque é professor da UNB e senador pelo PDT-DF
 
Fonte: Jornal da Comunidade
Blog do Sombra