Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

A próxima rodada

Quinta, 6 de setembro de 2012
Por Ivan de Carvalho
Está sendo aguardada com extremo interesse e uma certa ansiedade, pelas campanhas dos três principais candidatos a prefeito de Salvador, a próxima rodada de pesquisas eleitorais dos três mais conhecidos institutos brasileiros que atuam no setor – o Datafolha, o Ibope e o Vox Populi.

            Há razões para isto. Certamente a mais importante delas é que o período de propaganda eleitoral oficial no rádio e na televisão já terá sido o suficiente para que se verifique as direções e a intensidades dos impactos que, sensatamente, se supõe que terá sobre o eleitorado.

            Em princípio, a propaganda no rádio e tevê tende a favorecer mais o candidato do PT, deputado Nelson Pelegrino, do que o líder das pesquisas, o democrata ACM Neto e o candidato do PMDB, Mário Kertész.

            Esta presunção lógica decorre de algumas circunstâncias. A coligação que apoia Pelegrino, com 14 partidos, tem quase a metade do tempo da propaganda “gratuita”, ficando o restante repartido por todos os demais candidatos. É uma vantagem enorme, que está sendo bem aproveitada, pois a tal coligação não têm faltado recursos para uma produção caprichada dos programas e das inserções mais curtas.

Além disso, a presença de apelos de Lula na propaganda (a ser reforçada pela presença pessoal do ex-presidente na Bahia) também conta, bem como a de Dilma Rousseff, se acontecer.

De resto, a menção, até o cansaço, daquele bordão do “time de Lula e Dilma” e do seu corolário, o uso perseverante do argumento de que o alinhamento político-partidário do candidato Pelegrino com os governos estadual e federal garante a obtenção de recursos financeiros para a administração municipal tem forte possibilidade de influenciar o eleitorado. É como dizer que, não havendo esse alinhamento, a cidade será discriminada negativamente.

Embora não seja um argumento bom, do ponto de vista democrático e do bem público (afinal, a alocação de recursos estaduais e federais seriam para atender às necessidades da população de Salvador e não deve, nunca, depender desse tipo de alinhamento), a coligação que sustenta Pelegrino tem investido pesado em tal argumento, aliás, muito usado também no passado baiano. Talvez no dia em que a grande maioria do eleitorado tiver consciência democrática consolidada ninguém mais insista nessa coisa. Mas, por enquanto, o argumento parece ter ainda peso, razão pela qual estaria sendo tão intensamente utilizado.

O interesse e ansiedade pelas pesquisas diz ainda respeito à medida da velocidade com que deve estar crescendo a candidatura de Pelegrino. Ela começou muito de baixo quanto a intenções de voto e com deficiências políticas graves na estrutura e no ânimo de setores da campanha. Há esforço para suprir as deficiências e há a propaganda no rádio e tevê. O candidato do PT tem espaço para avançar, pois seu partido sempre teve em Salvador bem mais do que o candidato tem atualmente. Resta medir a velocidade para se tentar uma estimativa (insegura) sobre onde ele poderá chegar.

Na campanha de ACM Neto, que tem se mantido firmemente nos 40 por cento (ou até pouco mais), há interesse em verificar seu grau de resistência – até aqui, excelente – ao assédio dos concorrentes (Pelegrino e Kertész são os que contam, os demais têm limitadíssimas possibilidades de crescimento). Evidente que a campanha de Pelegrino também está interessadíssima em conhecer esse dado sobre a resistência de ACM Neto após um período já considerável de campanha e de bombardeio na propaganda eleitoral “gratuita” no rádio e na televisão.
 - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.