Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O avanço do PSB

Quinta, 19 de setembro de 2012

Por Ivan de Carvalho
Um dos fenômenos já perceptíveis no atual processo eleitoral é a forte perspectiva de avanço do PSB, presidido nacionalmente pelo governador de Pernambuco, Eduardo Campos. Concretizadas as expectativas hoje existentes, o neto de Miguel Arraes pretende, se for possível, ser candidato a presidente da República em 2014, caso em que colidiria inapelavelmente com o PT, hoje um grande aliado muito preocupado com o crescimento recente e, muito mais ainda, o crescimento projetado para o PSB nas eleições de outubro.

            No caso de a candidatura a presidente da República se revelar política ou eleitoralmente inviável, Eduardo Campos teria planos para ser o candidatos a vice-presidente na chapa encabeçada pelo PT, o que afastaria da posição o peemedebista Michel Temer e deixaria seu partido em situação vexatória – pois desconfortável já está faz tempo.

            Não sendo aconselhável pelas circunstâncias e a conjuntura, no entanto, ser candidato a presidente pelo PSB nem possível substituir um peemedebista na chapa liderada pelo PT, Eduardo Campos teria ainda uma terceira vertente a explorar. Seu relacionamento com o senador e ex-governador mineiro Aécio Neves, nome posto do PSDB para candidato a presidente da República, é excelente.

            Bem, se Aécio vir boas condições para disputar o pleito ficaria extremamente feliz em ter em sua chapa, como candidato a vice, o presidente do PSB, Eduardo Campos. Caso, em hipótese extrema, Aécio perceba que não é a sua vez, até poderia, com o aval de seu partido, aceitar ser vice em chapa encabeçada pelo socialista Eduardo Campos.

            Note-se que, paralelamente a essa dança das perspectivas do PSB e de Eduardo Campos (bom lembrar que o PSB tem também Ciro Gomes e seu irmão, Cid Gomes, atual governador do Ceará), ocorre em São Paulo outro fenômeno político-eleitoral – o ocaso da liderança política, popular e eleitoral do ex quase tudo José Serra. Ele, que já deputado e senador, ministro do Planejamento e da Saúde (um bom ministro), duas vezes candidato a presidente da República, prefeito de capital paulista e governador de São Paulo, liderava inicialmente a atual corrida para a prefeitura paulistana.

            Mas agora Serra está engalfinhado com o candidato petista Fernando Haddad para ver qual dos dois consegue classificar-se para disputar, no segundo turno, o cargo de prefeito com o candidato do PRB, Celso Russomano. Caso Serra não consiga ir ao segundo turno ou vá e se saia muito mal nele, sua liderança no PSDB fenecerá e Aécio Neves passará a jogar praticamente sozinho no campo dos tucanos. Esta circunstância tenderia – quase diria tenderá – a facilitar bastante uma eventual aliança entre o PSDB e o PSB, caso este partido não encontre vantagem numa aliança eleitoral com o PT em 2014.

Contra-ataque – A propaganda da coligação representada pela candidatura de ACM Neto a prefeito empreende ultimamente o contra-ataque à tese fundamental da campanha do petista Pelegrino – a importância, para a cidade, em termos de recursos financeiros, do alinhamento entre o prefeito, o governador e o presidente da República. A campanha do oposicionista ACM Neto passou a sustentar que a tese do alinhamento não tem validade. A prova disso é que o governador Wagner é alinhado com a Presidência da República (primeiro, Lula, depois, Dilma) e o governo dele não consegue fazer acontecer.

            Com isso, a propaganda da oposição na TV e no rádio contesta a tese do “alinhamento” e, de quebra, ataca o governo Wagner, que está atualmente desgastado, “para que, à custa de propaganda, não se recupere do desgaste popular”, segundo comentou ontem o líder da oposição na Assembleia Legislativa.
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Este artigo foi publicado originalmente na Tribuna da Bahia desta quinta.
Ivan de Carvalho é jornalista baiano.