Segunda, 8 de dezembro de 2014
Do site da Revista Época
Em busca e apreensão na sede da empreiteira, há três semanas, a PF encontrou um contrato confidencial de "consultoria", fechado em 2010. Além dos comprovantes de pagamento a ele, logo após o contrato, a Camargo Corrêa firmou com a Petrobras dois contratos de serviços na refinaria Abreu e Lima, no valor de R$ 4,7 bilhões
DIEGO ESCOSTEGUY
08/12/2014 16h36
O contrato entre a Camargo e a empresa de Dirceu, chamada JD
Assessoria, foi assinado em 21 de fevereiro de 2010. Não tinha um objeto
claro. Previa apenas que Dirceu faria análise de “aspectos sociológicos
e políticos do Brasil” e prestaria "assessoria na Integração dos países
da América do Sul”. Dirceu também deveria, de acordo com o contrato,
divulgar o nome da Camargo na comunidade nacional e internacional, além
de fazer palestras e seminários em assuntos de interesse dela. O
contrato é marcado como sigiloso. Dirceu deveria receber R$ 75 mil por
mês. Durante dez meses, segundo os comprovantes encontrados, recebeu
mesmo. Entre maio de 2010 e fevereiro de 2011, a JD faturou R$ 886.500
com base no contrato. O primeiro pagamento foi retroativo e abarcou três
meses de "consultoria".
Uma empresa do petista José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil, condenado por corrupção no escândalo do mensalão e político mais influente na Petrobras nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva,
recebeu R$ 886 mil da empreiteira Camargo Corrêa entre 2010 e 2011. Na
época, ele já era réu no processo mensalão e exercia influência na
Petrobras. No mesmo mês em que assinou o contrato com a empresa de
Dirceu, a Camargo obteve dois contratos com a Petrobras para prestar
serviços na refinaria Abreu e Lima. Os contratos somam R$ 4,7 bilhões e,
segundo os depoimentos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef, foram fechados mediante pagamento de propina ao PT e ao PP. Embora negue, foi Dirceu quem indicou Renato Duque,
então diretor de Serviços da estatal e responsável pelos contratos da
Camargo, acusado por Costa, Youssef e por um empreiteiro de cobrar
propina para o PT.
As provas da relação secreta entre Dirceu e a Camargo foram descobertas
pela PF há três semanas, durante buscas na sede da Camargo. No mesmo
dia, apelidado pelos investigadores de "Juízo Final", houve buscas em
outras oito empreiteiras, nas casas de executivos dessas empresas e em
escritórios de lobistas. Na semana passada, ÉPOCA obteve acesso
exclusivo à íntegra desses documentos. São milhares e milhares de
páginas, que se somam às já dezenas de milhares de documentos
apreendidos desde o começo da operação Lava Jato,
em março. Elas expõem a relação promíscua entre as grandes empreiteiras
do país e os políticos que detêm influência em estatais como a
Petrobras. Reforçam, com fortes evidências, a acusação de que essas
empreiteiras formavam um cartel para assegurar os maiores contratos da
Petrobras. Apontam novos casos de corrupção em outros órgãos do governo -
e até no exterior. Nos próximos dias, fundamentados em larga medida
nesses documentos apreendidos, os procuradores da força-tarefa da Lava
Jato denunciarão à Justiça os empreiteiros acusados de montar o cartel.
Leia a íntegra em:
http://epoca.globo.com/tempo/noticia/2014/12/documentos-revelam-que-bcamargo-correa-pagou-r-886-milb-empresa-de-jose-dirceu.html