Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 14 de dezembro de 2014

Wagner [governador da Bahia] é advogado até dos presos da Lava-Jato

Domingo, 14 de dezembro de 2014
Do blog baiano PorEscrito
Por Luís Augusto Gomes
No dia 25 de novembro de 2009, este blog publicou matéria sob o título “Uso político da polícia macularia ficha de Wagner”, a respeito da prisão, no dia anterior, pela Polícia Civil, de servidores e ex-gestores da Agerba, entre os quais o ex-diretor executivo Antonio Lomanto Neto, politicamente ligado ao PMDB, partido que havia rompido com o governador Jaques Wagner quatro meses antes.

No texto, dissemos acreditar que “não houve motivação política na operação policial”, destacamos a “postura claramente contrária a métodos truculentos” do governador Jaques Wagner e recordamos frase que pronunciou em janeiro de 2007, na primeira reunião de governo: “Quem tiver problemas de corrupção, procure um advogado, não o governador”.

Este conceito, Wagner repetiria pelos menos duas vezes: no início do já citado ano de 2009, a respeito da prisão do ex-comandante da Polícia Militar coronel Jorge Santana, e recentemente, na campanha eleitoral, diante das caudalosas denúncias de corrupção envolvendo seu partido, o PT, inclusive o hoje secretário estadual do Planejamento, José Sérgio Gabrielli, o homem que por mais tempo presidiu a Petrobras.

Por isso, é com estupefação que vemos, agora, o governador Wagner apresentar-se como advogado de Graça Foster e, quem sabe, de tantos outros que apareçam na quadrilha que sangrou, talvez de morte, uma empresa estatal que nasceu contra todas as adversidades, técnicas e políticas, além da oposição ferrenha do lobby internacional do petróleo, e chegou a posição, um dia, das mais sólidas e exemplares do planeta.

Mas foi exatamente o que fez o governador da Bahia, ante a nova bomba deflagrada ao longo dessa investigação por Venina Velosa da Fonseca, uma mulher que inscreve o nome na galeria das exceções brasileiras, ao ousar contestar, em nome da ética, uma rede de corrupção cujas malhas se estendem muito além do que se vê.

Com riqueza de detalhes e provas eletrônicas avalizadas por um jornal de credibilidade, Venina informa que, na sua posição de gerente de Abastecimento, motivada apenas pela “vergonha” que sentia por uma empresa que antes lhe dava “orgulho”, comunicou a Gabrielli, Foster e ao ex-preso Paulo Roberto Costa, hoje gozando de liberdade domiciliar, que a Petrobras estava perdendo dinheiro, em vários setores, nas escalas de milhões e bilhões de dólares, sem que alguma providência tenha sido tomada.

A mulher foi, na sua própria palavra, “expatriada”, enquanto o então diretor Paulo Roberto festejava seu despacho para Cingapura e lamentava apenas que “o exílio não fosse eterno”. Pelo seu relato, a coisa chegou perto do espírito de Santo André – o assassinato do prefeito Celso Daniel, em 2002 –, com ameaça a si própria e às filhas.

E como reage Wagner a tudo isso, num momento em que luta por uma indicação ministerial que o coloque no centro dos acontecimentos nacionais, repetindo papel que já desempenhou no passado, no escândalo do mensalão, o que o levou a jactar-se pela preservação de Lula, quando muitos haviam abandonado o presidente?

Foi uma longa pergunta, e a resposta também não pode ser curta: Wagner sai em desabrida e inconsistente defesa de Graça Foster, qualificando de “destrutiva” a oposição por pedir a demissão da presidente. Usa imagens vazias, como “é uma figura de longa história lá dentro” e, na “opinião” dele, nada a atinge.

Wagner acha que, ao usar o expediente de alertar sobre os problemas com e-mails a pessoas localizadas, a ex-gerente Venina produziu uma “denúncia vazia”, pois o correto seria uma “circular” dizendo que “tem trambique configurado lá”.

Entretanto, nessa repentina fase de causídico que assumiu, o governador causa maior surpresa ainda ao pleitear “a reflexão (...) inclusive das autoridades do Poder Judiciário”, visando à “separação” entre “tudo que foi feito de errado, e comprovadamente errado, e a vida empresarial”.

Lamenta sua excelência que os empresários denunciados na operação da Polícia Federal estejam presos há cerca de um mês, pois isso “assusta a bancos, credores e investidores”, causa um "processo de paralisação extremamente perigoso", que pode "quebrar empresas" que executam "obras muito importantes".

Ou seja, entende Wagner que a sociedade brasileira tem de conviver com ladrões do dinheiro público em nome de um suposto equilíbrio do mercado. Algo como “as empreiteiras roubam, mas fazem”.