Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Brasília, seu entorno, e um texto que tomou outro rumo

Sexta, 6 de fevereiro de 2015
No DF, e no chamado entorno de Brasília, dia sim e outro também a população se revolta contra o sistema de transporte público e bloqueia alguma estrada. De quando em vez passageiros chegam até mesmo a queimar ônibus.
Vemos diariamente nos jornais, blogues e TVs o caos que é o sistemas públicos de saúde da capital da República e dos municípios vizinhos.
Aqui e lá, crianças morrendo por falta de vagas em UTIs, e até por falta de macas num corredor de qualquer hospital ou centro de saúde. Velhos choram, e se revoltam, pelo desrespeito como são tratados nas unidades de saúde. Mulheres parindo no transporte entre um hospital e outro. Ou até mesmo em banheiros e escadas de hospitais. Um desrespeito que vem da parte dos governantes. Falta o remédio para controle de pressão, do diabetes. Falta tudo, ou quase tudo. Falta equipamento, material cirúrgico, instrumento, e também médico.
Em regiões administrativas do DF, e em municípios vizinhos, a doença vem com o esgoto correndo a céu aberto, com os lixões inadequados, com a falta de saneamento básico.
Muitas crianças ficam sem estudar, aqui e lá, por inexistência de escolas, por escolas caindo aos pedaços, por falta de materiais mínimos para o funcionamento de unidades de educação. E...por falta de professores. Os governos estão sempre achando que quebram o galho com a contratação de “temporários” ao invés de concursados. Mas se os filhos dos governantes não estudam nas escolas públicas nem aqui no DF e nem no entorno, pra quê qualidade? Raciocínio lógico, mas estúpido. Raciocínio estúpido dos nossos governantes.
É no DF e no entorno que vemos, sentimos, e somos vítimas da insegurança. Do crime que, a despeito do entendimentos dos defensores da pena de morte, dos grupos de extermínio, do ‘prende e arrebenta’, tem, na essência, sua origem nas condições de abandono que vivem grandes segmentos da população.
A falta de condições mínimas de emprego, saúde, saneamento, educação, facilita o surgimento, aqui e acolá, de criminosos. Os pequenos criminosos, pois grande criminosos, aqueles que vemos nas páginas de jornais só depois de anos e anos de crime, o do colarinho branco, o empreiteiro, o banqueiro, o político safado, geralmente tem outro DNA. O seus crimes são mais sofisticados, menos fiscalizados, mesmo sendo cruéis. E esse tipo de bandido, como vemos hoje na TV, tem uma média de vida pra lá dos cinquenta anos.
O criminoso da periferia, o pobre, morre entre os 18 e 24 anos. Quando não vítima de guerras de gangues, vítima de balas da polícia. Muitas dessas balas, inevitáveis, é verdade. Outras muitas, criminosas.
Já os grandes bandidos pouco guerreiam entre gangues. Essas gangues sofisticadas, ricas, ‘de primeira’, quando a coisa tá difícil se unem, formam cartéis, e modernamente se organizam em ‘clubes’ (até aí são sofisticas). E se dão bem. E quando algum bandidão se dá um pouco mal, logo logo aparecem brechas na lei por onde ele escapa, fica livre das grades, rindo da cara do Povo, e continua a delinquir. Para o bandido pejorativamente chamado de pé-rapado, o pobre, aquele tipo que na frente da TV tem a cabeça empurrada e levantada para que vejamos a sua cara, a única brecha que ele encontra é num ponto de desova qualquer nas quebradas do cerrado.
O texto era apenas para falar da articulação iniciada, e necessária, ontem entre um prefeito do entorno e um senador pelo DF. Mas, parodiando Geraldo Vandré em sua ‘Disparada’, não escrevo para agradar. Mas, contrariamente a letra da bela música daqueles tempos de protesto, não pego minha viola e vou cantar em outro lugar. Continuo aqui.