Quarta, 11 de fevereiro de 2015
Mônica Yanakiew - Correspondente da Agência Brasil/EBC
A Argentina sofreu nesta terça-feira (10) uma
nova ofensiva dos chamados fundos “abutres”, que adquiriram títulos da divida
argentina a preços baixos, depois do calote de 2001, e entraram na Justiça para
cobrar o devido, sem desconto. A American Task Force Argentina (AFTA) - uma
organização de lobistas que defende os interesses dos fundos especuladores -
divulgou os nomes de 14 funcionários do governo que, segundo ela, teriam se
aproveitado do cargo para aumentar seus patrimônios. Na lista dos suspeitos
está o ministro do Interior e do Transporte, Florencio Randazzo – candidato a
candidato do governo às eleições presidenciais de outubro.
“A acusação dos fundos abutres é politica,
porque eles já têm candidato”, reagiu Randazzo em entrevista coletiva. Segundo
a AFTA, que se baseou em declarações de Imposto de Renda dos funcionários,
Randazzo duplicou sua fortuna entre 2008 e 2011. O ministro da Economia da
Argentina, Axel Kicilloff, disse que os fundos abutres estavam adotando um
“comportamento mafioso” para conseguir o que queriam.
Os fundos abutres (que representam apenas 7%
dos detentores de títulos da divida argentina) não aderiram às propostas de
reestruturação da dívida externa argentina, e ganharam na Justiça
norte-americana o direito de cobrar a totalidade dos papeis que compraram: US$
1,6 bilhão.
Em outubro, os argentinos irão às urnas para
decidir quem ocupará o lugar da presidenta Cristina Kirchner - viúva e
sucessora do ex-presidente Nestor Kirchner. Como ela não pode disputar um
terceiro mandato, tanto os kirchneristas quanto a oposição já
se articulam para buscar o candidato mais forte à sucessão.
A ofensiva dos fundos abutres coincide com um
momento em que o governo enfrenta uma crise política, desencadeada pela
misteriosa morte do promotor Alberto Nisman, responsável pelas investigações do
pior atentado da historia argentina. Em 1994, uma bomba destruiu o centro
comunitário judaico Amia, em Buenos Aires, matando 85 pessoas e ferindo
mais de 300. Passados 21 anos, ninguém sabe os nomes e motivos dos responsáveis
pelo ataque terrorista.
Nisman acusou o Irã de planejar a explosão,
que teria sido executada pelo grupo xiita libanês Hezbollah, e obteve da
Interpol “alertas vermelhas” para cinco suspeitos. O governo iraniano sempre
negou qualquer envolvimento no atentado, e rejeitou qualquer proposta de enviar
os suspeitos (incluindo um ex-presidente e um ex-ministro da Defesa) à
Argentina, para serem interrogados. Essa posição levou Nestor Kirchner e
Cristina Kirchner a atacarem o país nas Nações Unidas, dizendo que Teerã
acobertava terroristas.
A situação mudou em 2013, quando Cristina
Kirchner anunciou que o Irã finalmente aceitava dialogar. Naquele ano, os dois
países assinaram um memorando de entendimento, que permitiria à Justiça
argentina interrogar os suspeitos em Teerã (sempre e quando eles aceitassem
falar) e criava uma comissão da verdade para investigar o atentado. O acordo
foi criticado pela oposição, pela maioria das organizações judaicas e por
Nisman.
O promotor foi encontrado morto horas depois de acusar a
presidente Cristina Kirchner de ter fechado um acordo com o Irã para inocentar
os suspeitos do atentado à Amia. Ele tinha sido convocado pelo Congresso para
justificar suas acusações, mas morreu com um tiro na cabeça. Ninguém sabe se
foi suicídio, suicídio induzido ou assassinato.