Quinta, 12
de fevereiro de 2015

Por MauroSantayana
Depois de afirmar - sob pressão de um
Congresso majoritariamente republicano - que pretendia enviar armamento letal
"defensivo" para ser usado pelo governo ucraniano contra
“rebeldes” de cultura e etnia russa, o presidente dos EUA, Barack Obama,
amenizou suas declarações, após se encontrar com Angela Merkel na Casa Branca.
A chanceler alemã e o presidente francês, François
Hollande, se reuniram com Petro Poroshenko e Putin nesta semana, para tentar
estabelecer as bases de um acordo de paz que evite uma escalada do conflito,
que já deixou um saldo de mais de 6.000 mortos e um milhão e meio de
refugiados.
Mas ao mesmo tempo em que fala em paz, a Europa reforça,
por meio da OTAN, sua presença militar nas fronteiras da Ucrânia, em países
como a Estônia, a Letônia, a Lituânia, a Polônia, a Romênia e a Bulgária.
França e Alemanha sabem que os EUA não são um país europeu
- logo, não estariam, ao menos, em princípio, diretamente ameaçados - e tentam
minorar os efeitos dos erros cometidos com a derrubada de Yanukovich, que
mergulharam o país em uma guerra civil, e colocaram no poder, ou em torno dele,
neonazistas como os do Partido Svoboda, agora responsáveis por ataques não
apenas a antigos veteranos soviéticos da Segunda Guerra, mas também a judeus,
ciganos e outras minorias.
A sub-secretária de estado Victoria Nuland, reconheceu, em
dezembro, em conferência no Clube Nacional de Imprensa, em Washington,
que os EUA “investiram” mais de 6 bilhões de dólares na Ucrânia nos últimos
anos, para o “desenvolvimento de instituições democráticas” - um eufemismo para
“desestabilização” - tática já utilizada em outras ocasiões e lugares, como no
Chile de Allende e no Brasil de 1964.
A Ucrânia não é o Iraque, a Líbia ou a Síria, onde
OTAN e EUA armaram, ali, para derrubar governos relativamente estáveis,
terroristas que agora formam o Estado Islâmico.
Para além de suas fronteiras, ao norte e ao leste, não
está apenas mais um país pequeno a ser invadido, como na teoria do dominó,
obedecendo à estratégia “ocidental” de destruir, com suas “primaveras” de
araque, os povos e nações que se colocarem em seu caminho.
Com 17 milhões de quilômetros quadrados, maior país do
mundo em extensão territorial, a Rússia possui milhares de mísseis apontados
para os EUA, cada um com várias ogivas atômicas; tem uma indústria bélica
altamente desenvolvida; e não está sozinha no enfrentamento de certas potências
do “Ocidente” que acham que podem se intrometer em qualquer região do mundo
como se estivéssemos ainda no século XX.
Afinal - e é preciso não esquecer isso - Moscou é um fator
fundamental na estratégia de outro ator imprescindível, que, com a segunda
economia do planeta; um bilhão e quatrocentos milhões de habitantes;
armamento nuclear próprio e 2.300.000 homens em suas forças armadas, observa
atentamente tudo o que está ocorrendo no conflito ucraniano: a China.