De ESQUERDA.NET
Num discurso aos deputados do
Syriza, Alexis Tsipras reafirmou que as promessas eleitorais são para
cumprir e as primeiras leis serão para repor os direitos dos
trabalhadores. "O impasse no Eurogrupo não pode ser resolvido por
tecnocratas, mas por líderes políticos", defendeu o primeiro-ministro
grego.
17 de Fevereiro, 2015
Foto Presidência do Parlamento Europeu/Flickr
O
discurso de Alexis Tsipras ao grupo parlamentar do Syriza era muito
aguardado por ser o primeiro a seguir ao impasse da reunião do Eurogrupo
e por conter o nome do candidato presidencial que o parlamento deverá
sufragar. Tsipras deixou para o fim o anúncio da candidatura de Prokopis
Pavlopoulos, um ex-ministro do Interior da Nova Democracia, entre 2004 e
2009. Ao longo da semana, o nome mais apontado pela imprensa para
candidato era o do atual comissário europeu Dimitris Avramopoulos,
também da Nova Democracia, mas esta proposta terá levantado objeções na
direção do partido. A figura presidencial na Grécia é meramente
decorativa e com poderes bastante limitados pela Constituição, mas foi a
incapacidade do parlamento obter uma maioria qualificada em dezembro
que provocou as eleições antecipadas e a ascensão do Syriza ao Governo.
Reposição dos direitos laborais é prioridade do governo Syriza
No plano político, Tsipras foi contundente ao reafirmar que "temos um
claro mandato para salvar o país e isso não vai acontecer se
prosseguirmos os erros, como pedem alguns credores". Por isso,
acrescentou o primeiro-ministro, "não daremos um único passo atrás nas
promessas que constam do nosso programa político".
Para o comprovar, anunciou quais serão as prioridades legislativas
para as próximas semanas: "Esta quinta-feira proporemos a primeira lei
para proteger os lares da ameaça de despejo", disse, seguindo-se a lei
que "irá travar a desregulação do mercado de trabalho e repor os
direitos dos trabalhadores em cooperação com a OIT". "Iremos regressar à
contratação coletiva, que foi abolida ilegalmente pela troika",
prometeu Tsipras, referindo ainda que prepara legislação "para permitir o
pagamento de impostos atrasados em 100 prestações no máximo".
"Foi comovente ver os alemães manifestarem-se"
Uma parte do discurso referiu-se às manifestações de solidariedade
com a Grécia que têm percorrido a Europa nas últimas semanas. "Não
lutamos apenas pelo povo grego mas por todos os europeus que estão a
sofrer com as políticas antidemocráticas de austeridade", afirmou
Tsipras.
Tsipras não deixou sem resposta as declarações de Schäuble, que disse sentir pena dos gregos por terem eleito um governo irresponsável. "Ontem, Schäuble perdeu as estribeiras e fez comentários depreciativos em relação ao povo grego. Com todo o respeito, gostaria de lembrar-lhe que ele devia sentir pena é dos povos que não conseguem levantar a cabeça".
"Os Europeus mostraram solidariedade com os seus protestos. Foi
comovente ver os alemães manifestarem-se", acrescentou Tsipras,
aproveitando para condenar a publicação de um cartoon que caricaturava o
ministro das Finanças alemão como nazi. "Ninguém tem o direito de
trazer de volta os fantasmas do passado, nem mesmo em cartoons",
sublinhou o líder do Syriza.
Apesar disso, Tsipras não deixou sem resposta as declarações de
Schäuble, que disse sentir pena dos gregos por terem eleito um governo
irresponsável. "Ontem, Schäuble perdeu as estribeiras e fez comentários
depreciativos em relação ao povo grego. Com todo o respeito, gostaria de
lembrar-lhe que ele devia sentir pena é dos povos que não conseguem
levantar a cabeça".
"Uma coisa é o acordo de empréstimo, outra é o memorando"
Alexis Tsipras falou ainda do impasse nas reuniões do Eurogrupo, que
disse contrastar com o ambiente em que decorreu o Conselho Europeu e
confirmou as notícias das últimas horas que davam conta de uma proposta
satisfatória para Atenas, que foi negociada e retirada pouco antes da
reunião do Eurogrupo desta segunda-feira.
"Aceitámos o texto do comissário europeu Moscovici antes do
Eurogrupo, mesmo estando a pisar algumas das nossas linhas vermelhas",
confirmou Tsipras, acrescentando que "o plano Moscovici
referia-se à extensão do acordo de empréstimo - não do memorando - à
crise humanitária e assistência técnica". Mas, prosseguiu o
primeiro-ministro, "quinze minutos antes do início da reunião do
Eurogrupo, o Sr. Dijsselbloem apresentou outra proposta de comunicado".
"Estamos a trabalhar arduamente para um acordo mutuamente benéfico. Não temos pressa e não estamos a comprometer o nosso programa. O contrário seria aceitar que a democracia e as eleições são supérfluas e deveriam ser canceladas nos países intervencionados", desafiou Tsipras.
Para Alexis Tsipras, "o facto deste documento provocatório ter sido
discutido no Eurogrupo é a prova que alguns na zona euro querem
enfraquecer o novo governo grego". E contrapôs: "Não foi este o ambiente
que encontrei na cimeira da UE e ele não reflete o clima político atual
na UE".
O impasse no Eurogrupo, com o ultimato de Dijsselbloem na conferência
de imprensa final, não parece ter impressionado o primeiro-ministro
grego, que entende esse impasse "não pode ser resolvido por tecnocratas,
mas por líderes políticos".
"Estamos a trabalhar arduamente para um acordo mutuamente benéfico.
Não temos pressa e não estamos a comprometer o nosso programa. O
contrário seria aceitar que a democracia e as eleições são supérfluas e
deveriam ser canceladas nos países intervencionados", desafiou Tsipras.