Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Um certo ar de desilusão em Dilma

Quarta, 11 de fevereiro de 2015

Imagem reproduzida da 1ª página da Tribuna da Bahia, edição de 10/2/2015.
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Paulo Roberto Sampaio — Tribuna da Bahia
Publicada na Tribuna da Bahia em 10/02/2015
Essa é uma regrinha básica que qualquer marqueteiro aprende ainda no curso primário. Se algo não vai bem à sua volta com o governante de plantão, para quem ele vende seus valiosos conselhos, é hora de recorrer a uma agenda positiva. Algo que consiga jogar para debaixo do tapete tudo que de ruim e malcheiroso está a exalar das entranhas do poder.
Estou ávido por conhecer essa fórmula mágica que devem estar preparando para realizar esse milagre no Planalto, mas desconfio muito de sua eficácia.
Vendo a foto da presidente Dilma que publicamos hoje na capa desta edição, concluo que seu grau de preocupação se mistura ao de cansaço, que vem junto com o de apreensão, angústia e, não seria exagero arriscar, de medo. Como tantos elementos podem compor a fisionomia de uma presidente da República, a figura mais poderosa do país, é difícil de explicar. Ou, no caso dela, nem tanto.

A cada dia que passa, a Operação Lava Jato suja mais do que limpa. Gasta a tão preciosa água que está a faltar em milhares de lares brasileiros e consome a também escassa energia, outra que anda prestes a reviver a fase dos apagões.
Tudo que chega ao Planalto e é depositado sobre sua mesa parece escrito por alguém que quer testar sua resistência. Uma espécie de Fradinho, dos bons tempos do irreverente Millôr. Ou que se delicia ao vê-la espumando de ódio com o que lê, pronta a disparar contra o primeiro assessor ou ministro que cruzar à sua frente.
Nesta semana, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, reúne-se com autoridades americanas para pedir colaboração na apuração da Lava Jato. Enquanto Janot gasta seu inglês por lá, as autoridades da área de energia, técnicos à frente, se desdobram por aqui na busca de fórmulas com a finalidade de reduzir o risco de racionamento de energia.
Eles sabem que o relógio corre contra e nesta quinta têm um encontro que, se pudessem, gostariam de evitar. Será uma reunião de avaliação do quadro energético com o ministro Eduardo Braga para discutir medidas para minimizar o risco de racionamento, e sabe quem estará na cabeceira da mesa? Sim, ela, a presidente Dilma Rousseff. Furiosa, cansada de embromação e à espera de soluções.

Uma Dilma cuja popularidade está em queda livre e sem ter muito em quem ou onde se apoiar. Se chega a um dos janelões do Planalto para contemplar a Praça dos Três Poderes, a imagem que lhe vem à mente é de um Congresso que já não lhe inspira a mesma confiança.
Seus aliados, mesmo os mais próximos, parecem atordoados com tanta sujeira misturada com petróleo e podem acabar cedendo às pressões dos  partidos de oposição, que se mobilizam para indicar os membros da temida CPI da Petrobras. E no rastro dela, a tenebrosa palavrinha mágica: impeachment.
Até porque, se já não bastasse a Justiça e a Polícia Federal esmiuçando tudo à sua volta nesse escândalo, muitos apostam que Janot venha a revelar ainda esta semana os nomes de todos os deputados e senadores acusados de corrupção na Lava Jato. Pode salpicar óleo para todo lado.
Para completar, em outra Casa, o ministro Vital do Rêgo, do Tribunal de Contas da União, deve levar ao plenário da Corte a discussão sobre o bloqueio de bens de Graça Foster e outros ex-dirigentes da Petrobras para ressarcir prejuízos da estatal. A amiga ferida pode não reagir bem.
Com uma semana tão azeda, não há clima de Carnaval que faça a Presidente trocar a máscara enfezada dos últimos dias por uma mais amena. Daí, melhor rezar logo para chegar a quarta-feira de cinzas e, com ela, a quaresma, para, quem sabe, se apegando com Cristo e louvando seu sofrimento, as coisas melhorem.