Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."

(Millôr Fernandes)

domingo, 14 de junho de 2015

O Reizinho do BNDES

Domingo, 14 de junho de 2015
Da Tribuna da Imprensa
Por Sebastião Nery
Meses depois da renuncia em agosto de 1961, Jânio  Quadros voltou da Europa em 1962 e se candidatou a governador de São Paulo, com um slogan do saudoso deputado baiano, cassado em 1964, João Dória:
-“A renúncia foi uma denúncia”.

Por sugestão de José Aparecido de Oliveira, Luís Lopes Coelho, presidente do “Barzinho do Museu”, em São Paulo, reuniu alguns jornalistas  e intelectuais amigos, de São Paulo e do Rio, na casa dele, para uma conversa com Jânio: Rubem Braga, Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Mário Neme, Darwin Brandão, eu, outros. Jânio estava alegre, até que Darwin perguntou:

– Presidente, o senhor prometeu que, quando voltasse da Europa, denunciaria as “forças ocultas” que o levaram à renúncia. Quais foram?

Jânio ficou irritado:

– Meu caro Darwin, não falei em “forças ocultas”, mas em “forças terríveis”! É o que disse. E mantenho. Forças muito poderosas!

Revirou os olhos e se calou. Pegou o uísque, levantou-se, chamou Paulo Mendes Campos a um canto da sala:

– Meu caro Paulinho, quero dizer-te uma coisa. Não é fácil renunciar a tanto poder. O Presidente, neste País, meu caro Paulinho, é um rei. Fui um reizinho! Um reizinho, Paulinho, tu sabes!

A reunião acabou. Sobre a renúncia, nada. Morreu sem explicar.

LULA 

O Brasil está com um reizinho de coroa suja, agora enlameada na Operação Lava Jato. Lula saiu do governo e criou algumas arapucas para fabricar dinheiro fácil.  Ele diz que o Instituto Lula e o LILS (Palestras, Eventos e Publicidade) são para articularem suas “conferencias”.

Mas que “conferencias”? Quando, onde, sobre que assunto? Ele chama de “conferencias” suas baboseiras nas reuniões do PT. Quem já assistiu a uma “conferencia” de Lula? Ele não faz “conferencias”. Faz “transferências”. Só a Camargo Correia transferiu 3 milhões de dólares para o cofre do Instituto Lula e mais 1 milhão e meio para o cofre do LILS.

Apesar da conhecida esperteza do reizinho, o escândalo ia acabar nas manchetes dos jornais como Globo e capas de revistas como Época e Veja.

BNDES

Todo reizinho tem seu trono. O de Lula está instalado no BNDES. É lá que ele fatura seus lobes viajando pela América Latina e África nos jatinhos das empreiteiras, de preferência a serviço de um ditador corrupto.

1- No primeiro trimestre deste ano, o BNDES tinha R$ 202 bilhões do Fundo de Amparo ao Trabalhador, 40% do total dos recursos do FAT. Com a transferência de dinheiro do Tesouro, o banco tinha uma carteira para investimentos de R$ 500 bilhões. O governo paga a taxa selic de 13,75%, ao ano, elevando a dívida pública, pela transferência de dinheiro caro para subsidiar os banqueiros “amigos”.

2- As dez maiores empresas brasileiras concentram 40% dos recursos destinados aos investimentos interno e externo. Juros baixos e prazos longuíssimos caracterizam esses empréstimos. A Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), hoje está em 6% ao ano, com prazos variáveis de 10 até 25 anos. Nos últimos anos, as empresas apelidadas de “campeões do desenvolvimento” concentraram a quase totalidade dos investimentos.

3- Obrigado pelo TCU e STF, o BNDES divulgou obras realizadas por empresas brasileiras de engenharia. Elas têm do banco, lá fora, crédito mais barato do que os praticados quando o investimento é realizado no Brasil. Aqui, na área de infraestrutura, o financiamento mais barato é o Programa de Investimento em Logística (7% ao ano). Em Honduras, em junho de 2013, em financiamento de US$ 145 milhões, o BNDES fixou juros em 2,83%. Em Angola, os juros foram de 2,79%.

MÃE DILMA

4- O BNDES investiu US$ 11,9 bilhões em projetos das empreiteiras lá fora. As maiores beneficiárias são Odebrecht (US$ 8,2 bilhões, 69% dos recursos), Andrade Gutierrez (US$ 2,81 bilhões), Queiroz Galvão (US$ 388 milhões); OAS (US$ 354 milhões); Camargo Correa (US$ 255 milhões).

5- O BNDES, com garantia do Tesouro, a taxas de juros “amigas”, opera em Angola com empréstimos de US$ 3.383 bilhões e juros de 5,32%; na Venezuela US$ 2.252 bilhões e juros de  4,29%; na República Dominicana US$ 2.204 bilhões e juros 4,85%, na Argentina US$ 1.872 bilhão e juros de 4,83%, em Cuba US$ 847 milhões e juros de 5,38%.

6- Em Moçambique US$ 444 milhões e juros de 4,89%, na Guatemala US$ 280 milhões e juros de 4,94%, no Equador US$ 228 milhões e juros de 3,75%; em Gana US$ 216 milhões e juros de 3,75%, em Honduras US$ 145 milhões e juros de 2,83%; e Costa Rica US$ 44,2 milhões e juros de 4,07%.

Aqui dentro é a “Mãe Dilma” do PT. Lá fora, a “Filha de Lula”.