Vinícius
Lisboa - Repórter da Agência Brasil*
A Polícia Civil está em busca de imagens e testemunhas que
possam ajudar a identificar os suspeitos de terem apedrejado uma menina de 11 anos
adepta do Candomblé, por intolerância religiosa, na zona norte do Rio, no
último domingo (13). O caso foi registrado ontem (15) na 38ª Delegacia de
Polícia de Irajá, e a vítima, que está em casa, já foi ouvida e encaminhada
para o exame de corpo de delito.
A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa (CCIR)
destacou um advogado para acompanhar o caso e vai organizar um ato contra a
intolerância no bairro em que ocorreu a agressão, Vila da Penha, na sexta-feira
(12).
Membro da comissão, o babalaô Ivanir dos Santos conversou
com a família da adolescente e disse que a menina foi atingida na cabeça por
uma pedrada, que só não provocou mais ferimentos porque teria batido primeiro
em um poste.
"Ela estava andando com um grupo de pessoas e um grupo
de evangélicos, que estava do outro lado da rua, começou a demonizá-los e a
xingá-los. Não se contentando com isso, jogou uma pedra", disse Ivanir.
Segundo o babalaô, a família disse que os agressores "estavam
arrumados" e tinham bíblias e acusaram os praticantes de Candomblé de
serem "demoníacos".
O babalaô defende que líderes evangélicos venham a público
repudiar a agressão e colaborem com as investigações. "Isso é ruim para
uma religião. Eu sei que a grande maioria dos evangélicos não é assim e cabe a
eles ajudarem a identificar esses agressores. Eram pessoas da igreja, pessoas
que estavam com bíblia".
Segundo nota da Polícia Civil, o caso foi registrado como
lesão corporal, no Artigo 20 da Lei 7.716 (praticar, induzir ou incitar a
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional).
Para a coordenadora Especial de Políticas de Promoção da
Igualdade Racial do Rio de Janeiro, Leniete Couto, a agressão contra os adeptos
das religiões de matriz africana também é reflexo do racismo na sociedade
brasileira. "Há uma distorção histórica de colocar a cultura negra no
sentido global, tanto a pessoa física quanto seus costumes sempre em um lugar
de não existência ou em um lugar negativo. Não se respeita as religiões de
matriz africana porque se diz que são do mal, que são ruins, e com isso vem a
invisibilidade e a negação da existência dessas pessoas. A invisibilidade cria
um desconhecimento da história que faz com que as pessoas sejam rejeitadas e
apedrejadas por ignorância e também por racismo".
* Colaborou a repórter Tâmara Freire, das Rádios EBC