Quarta, 15 de junho de 2016
Michèlle Canes - Repórter da Agência Brasil*
Em um dos depoimentos prestados em acordo de delação premiada, o
ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse que o presidente
interino Michel Temer pediu para que Machado o ajudasse a conseguir
recursos ilícitos para a campanha do então candidato à prefeitura de São
Paulo, Gabriel Chalita.
No texto do acordo, Machado afirma que o
presidente interino Michel Temer negociou com ele, em 2012, o repasse
de R1,5 milhão em propina para financiar a campanha de Gabriel Chalita à
prefeitura de São Paulo. Esses recursos, de acordo com o ex-presidente
da Transpetro teriam sido dados pela construtora Queiroz Galvão.
Segundo
Machado, a negociação aconteceu em setembro de 2012 na base área de
Brasília e o repasse foi feito pela construtora Queiroz Galvão.
Segundo
Machado, Temer apoiava Chalita nas eleições de 2012, que vinha tendo
problemas durante a campanha. No depoimento, o ex-presidente da
Transpetro disse que o senador Valdir Raupp (PMDB-RO) entrou em contato
com ele. “O depoente foi acionado pelo Senador Valdir Raupp para obter
propina na forma de doação oficial para Gabriel Chalita", diz o
documento da delação.
Machado diz ainda que se encontrou com
Temer na Base Aérea de Brasília em 2012 para tratar do tema, "havendo
Michel Temer pedido recursos para a campanha de Gabriel Chalita”, disse
em um de seus depoimentos.
Segundo Machado, o contexto da
conversa que teve com o presidente interino “deixava claro que o que
Michel Temer estava ajustando com o depoente era que este solicitasse
recursos ilícitos das empresas que tinham contratos com a Transpetro, na
forma de doação oficial para a campanha de Chalita”.
Em outro
depoimento, Machado diz que Temer “disse que estava com problema no
financiamento da candidatura do Gabriel Chalita e perguntou se o
depoente poderia ajudar; que, então, o depoente disse que faria um
repasse através de uma doação oficial no valor de R$ 1 milhão e 500 mil
reais; que a doação oficial feita pela construtora Queiroz Galvão a
pedido do depoente ao diretório nacional do PMDB”. Segundo Machado, o
contato foi feito diretamente com Ricardo Queiroz Galvão e com o
Ildefonso Colares.
“Esse valor, na realidade, é oriundo de
pagamento de vantagem indevida pela Queiroz Galvão, de contratos que ela
possuía junto a Transpetro; que o depoente ligou para Michel Temer e
avisou que a contribuição ocorreria”, diz o documento.
Segundo
Machado, durante sua gestão na Transpetro, “foram repassados ao PMDB
pouco mais de R$ 100 milhões de reais, cuja origem eram comissões pagas
ilicitamente por empresas contratadas”.
O conteúdo da delação
premiada do ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado, veio hoje (15) a
público após decisão do ministro Teori Zavascki, que retirou o sigilo
das oitivas da Operação Lava Jato.
Respostas
O
presidente interino Michel Temer disse, em nota, que, “em toda sua vida
pública”, sempre respeitou estritamente os limites legais para buscar
recursos para campanhas eleitorais. Ele afirmou que nunca permitiu
arrecadação “fora dos ditames da lei, seja para si, para o partido e,
muito menos, para outros candidatos que, eventualmente, apoiou em
disputas.”
Para Temer, “é absolutamente inverídica a versão de
que teria solicitado recursos ilícitos ao ex-presidente da Transpetro
Sérgio Machado – pessoa com quem mantinha relacionamento apenas formal e
sem nenhuma proximidade.”
A construtora Queiroz Galvão divulgou
nota em que fiz que não comenta investigações em andamento e acrescentou
que “as doações eleitorais obedecem à legislação".
Por meio de
nota, Gabriel Chalita afirma que não conhece Sérgio Machado. “Portanto,
nunca lhe pedi recursos ou qualquer outro tipo de auxílio à minha
campanha. Esclareço, ainda, que todos os recursos recebidos na minha
campanha foram legais, fiscalizados e aprovados pelo Tribunal Regional
Eleitoral", informou.
Citação a políticos
No depoimento, de mais de 400 páginas, Machado citou outros políticos que também teriam recebido propina via doação oficial.
*Colaborou Maiana Diniz