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(Millôr Fernandes)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Governo Rollemberg cria cenário de guerra, persegue e tortura manifestantes que protestaram contra PEC 55, diz o Sinpro

Quarta, 14 de dezembro de 2016
 
Governo Rodrigo Rollemberg (PSB) reprimiu violentamente, nessa terça-feira (13), manifestação popular contra a votação, no Senado Federal, da Proposta de Emenda Constitucional nº 55, de 2016, que congela por 20 anos investimentos de dinheiro público nos serviços públicos.
Autorizou todo tipo de repressão, tortura e prisão de manifestantes. Mais de 100 pessoas foram presas e não se tem a conta das tantas outras que ficaram feridas. “Somente na época áurea da ditadura militar se viu ação tão violenta da polícia na Esplanada e perseguição a manifestantes”, comenta Vilmara Carmo, diretora do Sinpro-DF.
A ação agressiva dos policiais começava desde a abordagem às pessoas que tentavam ultrapassar as barreiras e seguir no sentido da Câmara dos Deputados e Senado Federal. Eles revistavam bolsas, mochilas, roupas de todos de forma autoritária e indiscriminadamente. “Não se conseguia ter acesso ao gramado em frente ao Congresso Nacional, que foi planejado, na época da construção de Brasília, justamente para abrigar grandes manifestações populares. Uma barricada da polícia situada na altura da Catedral impedia o livre acesso à Casa do Povo”, conta Vilmara . Ela lembra que a polícia se posicionou e agiu agressivamente como no dia 29 de novembro, na votação de primeiro turno da PEC 55.
A polícia fechou a área e, num determinado momento, começou a empurrar os manifestantes na direção da Rodoviária sempre de forma violenta e, ao se aproximar da Rodoviária, intensificou a agressão, jogando bombas de efeito moral, como gás lacrimogêneo, gás de pimenta e outras ações agressivas, com perseguição, porrada e prisão de pessoas. Em reação a isso, um grupo colocou fogo em um ônibus.
“A região da Rodoviária parecia estar num cenário de guerra. Eu e um amigo fugimos dali na direção da Asa Norte. Na 103 Norte, um carro da polícia nos abordou. Desceram vários policiais que mandaram a gente se deitar no chão com as mãos na cabeça. Embora estivéssemos imobilizados, bateram na gente com cassetete e jogaram gás de pimenta. Introduziram cassetete no nosso ânus e nos puseram dentro do camburão. Mesmo com a gente passando mal, rodaram conosco pela cidade durante horas e somente depois disso nos largaram na DPE, por volta das 20h”, relata o Jorge, professor da rede pública de ensino do DF.
Ele diz que o amigo passou muito mal em consequência do gás de pimenta, mas os policiais riam e diziam que ele estava fingindo. Enquanto isso, em outra região da Asa Norte, na altura da SQN 303, um grupo de estudantes de fora de Brasília, que já estava a caminho da Universidade de Brasília (UnB), para o acampamento, foi duramente perseguido, jogado em um gramado e submetido a uma sessão de tortura.
Foram obrigados a ficar sentados no gramado enquanto os policiais falavam coisas horríveis, dentre elas, vários tipos ameaças. Pessoas da população que viram a cena e protestaram foram agredidas com gás de pimenta. Em seguida, esses jovens foram levados para o Departamento de Polícia Especializada (DEP), no Parque da Cidade, e só saíram de lá às 6h desta quarta-feira (14), após uma ação dos Advogados Populares, que impediram a polícia de enquadrarem mais de 100 pessoas na Lei de Segurança Nacional por se manifestarem contra leis antipopulares.
Em outra região da cidade, a polícia massacrou um homem que protestou contra a prisão de uma criança de 11 anos, a qual estava junto com manifestantes. “Ele foi buscar a mulher dele, uma professora, e presenciou uma cena covarde da polícia contra essa criança. Ele viu policiais mandarem todo mundo se encostar à parede e, entre elas, havia uma criança de 11 anos. Quando ele perguntou ao policial por que estava fazendo aquilo, o PM já se voltou contra ele, deu gravata e este homem também foi detido”, conta Vilmara.
Na tarde desta terça-feira, Brasília reviveu as extravagâncias e terrorismo só vistos durante a ditadura militar. Muitas prisões arbitrárias. Muitos estudantes que deveriam ter voltado para seus estados na noite de terça, não retornaram para casa. Estavam detidos, presos, longe de seus parentes. A ação dos Advogados Populares foi muito importante nesse sentido porque assegurou o direito de defesa a essas pessoas para que elas não fossem enquadradas na Lei de Segurança Nacional e também para a libertação delas.
“A gente está vivendo de fato num regime de exceção no qual a livre manifestação não está sendo assegurada. A gente não tem mais o direito de se manifestar e nem de registrar a manifestação. Qualquer manifestação, o governo Rollemberg põe polícia para agir arbitrariamente, violentamente, sem a garantia de nossos direitos individuais. Estamos vivendo uma situação delicada, complexa e que temos de estar o tempo todo lembrando quais são nossos direitos e denunciando essas arbitrariedades para que esse tipo de ação não se repita”, afirma.
A diretora do Sinpro-DF informa que, “infelizmente, leis como esta que foi aprovada nessa terça virão por aí. Até piores, como a da reforma da Previdência e a trabalhista, que são maléficas para a sociedade brasileira, e a gente não pode ficar assistindo. A gente vai se manifestar. A gente está aqui para dizer que este país é uma democracia e esta democracia é uma conquista que a gente tem de estar o tempo todo lutando para mantê-la”, finaliza.