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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Tensão no Planalto: delações da Odebrecht chegam ao Supremo nesta segunda

Segunda, 19 de dezembro de 2016
Do jornal O Tempo e Tribuna da Internet
Charge do Frank, reprodução de A Notícia

O último dia de trabalho antes do recesso do Judiciário será marcado pela entrega, nesta segunda-feira (19), da documentação dos acordos de delação premiada dos 77 executivos e ex-executivos da Odebrecht ao Supremo Tribunal Federal. Ouvidos individualmente numa verdadeira maratona de interrogatórios, os 77 executivos prestaram, ao todo, mais de 800 depoimentos. O último deles aconteceu na noite de sábado. Na lista de ouvidos está o ex-presidente e principal herdeiro do grupo, Marcelo Odebrecht. Ele está preso desde junho do ano passado.
O material colhido pela força-tarefa, inclusive os vídeos com os relatos dos delatores, será encaminhado ao ministro Teori Zavascki, relator da operação Lava Jato no STF. Somente o ministro, assessores e juízes da equipe dele terão acesso ao conteúdo, que ficará trancado em uma sala no terceiro andar do Supremo, informou neste domingo o site G1.
ATÉ FEVEREIRO – Como o material será levado no último dia antes do recesso do Judiciário, o ministro determinou que, mesmo durante a folga, sua equipe se organize numa espécie de força-tarefa interna que permita a ele ter tudo pronto para ser analisado em fevereiro, quando os trabalhos serão retomados.
Cabe a Teori Zavascki analisar todo o conteúdo dos depoimentos e verificar também se aspectos formais dos acordos de cooperação foram cumpridos, como o direito de defesa, se a redução de pena prometida está conforme a lei e se não houve coação para que os delatores aceitassem falar. Durante os quase três anos de Lava Jato, Teori Zavascki só recusou um acordo de delação.
Só depois que os acordos forem homologados é que o procurador geral da República, Rodrigo Janot, vai decidir quem deve ser investigado.
IMPACTO PROFUNDO – A delação da Odebrecht é tida, no meio político, como a de maior potencial para provocar impacto nas investigações, isso porque os executivos citaram mais de 200 nomes de políticos de diversos partidos.
Desde que o conteúdo da delação do ex-diretor de relações institucionais da Odebrecht Cláudio Melo Filho vazou, recentemente, a tensão no governo Michel Temer aumentou. O Palácio do Planalto sabe que ainda terá muita dor de cabeça daqui para frente. A ordem do presidente, por enquanto, é evitar comentários, reforçar que as colaborações precisam ser comprovadas e que o governo tem de “continuar trabalhando” pelo país.
A dificuldade, porém, será explicar à população e à Justiça a origem dos R$ 10 milhões que teriam chegado ao PMDB a partir de uma negociação entre o próprio Temer e auxiliares dele com o empreiteiro Marcelo Odebrecht, em 2014. O Planalto nega a acusação.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Agora, Temer acha que terá sossego até fevereiro, quando Zavascki apenas começa a analisar as delações. Mas esse sossego acaba a qualquer momento, porque os vazamentos vão continuar. Por isso, o clima de tensão no Planalto é de caráter permanente. (C.N.)