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(Millôr Fernandes)

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Não quero, nem devo, participar dessa torta caminhada. Saio do PSOL, diz Aldemario Araujo Castro, candidato ao Senado em 2014

Segunda, 18 de dezembro de 2017

Aldemario Araujo Castro em 2014 foi candidato ao Senado pelo Psol

SAÍDA DO PSOL

1. O PSOL surgiu, no campo da esquerda, como alternativa ao petismo. Foi uma afirmação extrema de que não vale tudo na política, principalmente transigir com princípios morais e flexibilizar a defesa dos interesses populares e democráticos.

2. A minha filiação ao PSOL, efetivada nas origens do partido, decorreu da profunda identidade com as premissas referidas. Ademais, em termos programáticos, existia (e existe) uma concordância fundamental acerca da necessidade de superação do modo de produção capitalista (e todas as mazelas decorrentes) e a construção de uma sociedade justa e solidária nos marcos da mais ampla liberdade humana (conquista histórica inegociável). 

3. O PSOL não integrou os governos petistas e fez uma aguerrida oposição à esquerda. Sofreu ataques vindos da direita e da esquerda por conta dessa postura corajosa.

4. O PT, com raras e honrosas exceções, e seu principal líder, o senhor Lula da Silva: a) aliou-se com o que existe de pior na política brasileira; b) promoveu um festival de corrupção e c) abdicou da tentativa de realizar transformações profundas na realidade socioeconômica com base em fortes mobilização e conscientização populares. Contentou-se com melhorias tímidas na condição de vida de milhões de brasileiros. Melhorias efêmeras porque baseadas num cenário externo favorável, em programas de assistência social e no consumo decorrente de um nível absurdo de endividamento das famílias.

5. O esgotamento do petismo (e do lulismo) produziu duas consequências trágicas: a) a afirmação de um projeto político visceralmente elitista baseado na supressão de direitos sociais, representado pelo senhores Temer e Meireles e b) um profundo desgaste das ideias de esquerda, solidariedade e justiça sociais. A esquerda passou a ser identificada com o decadente e corrupto PT e ganhou enorme espaço um pensamento conservador e reacionário.

6. Assim, tudo que o PSOL não pode fazer é estabelecer algum nível de proximidade e identidade com o petismo e o lulismo. Trata-se de uma contradição insuperável em função de sua origem, de sua trajetória e de suas propostas. 

7. Nessa linha, não faz o menor sentido esperar por uma candidatura à Presidência da República de um não filiado. Existem inúmeros quadros no PSOL com envergadura e estofo programático para dizer o que precisa ser dito na atual quadra da história brasileira. Ademais, esperar pelo senhor Boulos, sem nenhum demérito pessoal, efetivamente é uma rendição ao petismo e ao lulismo. É público e notório que o senhor Boulos espera pelo senhor Lula. Assim, a rigor, o PSOL espera pelo senhor Lula. Trata-se de um triste e melancólico capítulo na rica trajetória do PSOL para ser um importantíssimo instrumento de transformação radical da realidade socioeconômica brasileira. Não se trata de um erro menor, de um acidente numa longa e penosa caminhada histórica. Essa postura despreza dois pilares fundamentais da identidade do PSOL: a) como organização política e b) como programa de transformação social. 

8. Existem inúmeras tendências, correntes, militantes, filiados e figuras públicas dignas de toda consideração e crédito no PSOL. O partido está vocacionado para fazer a diferença na luta por uma sociedade digna e igualitária. Entretanto, na minha modesta maneira de ver, não poderá, nem deverá, fazer essa caminhada alinhado, direta ou indiretamente, com os símbolos maiores da degeneração moral e da traição aos interesses populares (em função de um projeto de poder pelo poder e pelos benefícios pessoais decorrentes).

9. Ademais, caracteriza atualmente o PSOL: a) uma intensa e crescente luta interna entre correntes e tendências que marginaliza quem não integra essas organizações e compromete o debate e a democracia internos e b) a existência de um campo majoritário que flerta despudoradamente com o petismo e o lulismo e baseia sua hegemonia interna e sua ação política nos expedientes mais condenáveis. 

10. Não quero, nem devo, participar dessa torta caminhada. Saio do PSOL.

Brasília, 15 de dezembro de 2017.

Aldemario Araujo Castro
Candidato ao Senado pelo PSOL/DF em 2014